Entrevista postada e realizada pó Daniel Pinho/ Lucas e postada no Blog de Samuel Selestino –
“De nada adianta você ter cargos no governo se você não está influenciando adequadamente, se não está sendo ouvido”
Por Daniel Pinto/ Lucas Esteves
Bahia Notícias: O senhor assumiu o partido antes das eleições de 2006 e estabeleceu algumas metas para o plano político. Estas metas foram superadas? É possível também estabelecer um paralelo entre o PMDB de 2005 e o de hoje?
Lúcio Vieira Lima – O PMDB teve um momento em que, com o ministro Geddel, assumiu o comando, que foi quando ele, desde aquela época, vinha discutindo com as bases, desde aquele tempo do ministro Geddel, ele sempre procurou ouvir os companheiros. Discutir sempre o rumo do partido com as bases. Então, logicamente, o PMDB vinha de uma eleição de Waldir Pires, onde deixou de ser governo depois daquilo, e vinha há muito tempo sem ser poder. E isso reflete no tamanho do partido, foi diminuindo devido à força que o carlismo exercia na Bahia. E o ministro Geddel, sozinho praticamente, segurou o PMDB, manteve aqui a força do PMBD na Bahia, com o apoio de alguns companheiros. Ele ficou comandando o partido nesse período, digamos, de “vacas magras”. Ficou mostrando a coerência e a lealdade para os companheiros, a lealdade aos princípios, ao partido, e desta forma manteve o partido não tão grande, mas um partido unido num único discurso e que, com isso, criou a base para que hoje o partido possa estar do tamanho que está. Não existiria o PMDB de hoje deste tamanho se o ministro Geddel não tivesse segurado o partido no período das “vacas magras”.
BN – Foram tempos difíceis porque o governo exercia uma pressão tremenda, não é?
LVL – Eram tempos difíceis. Você tinha um governo estadual forte, na época de Antônio Carlos, com lideranças também em nível nacional fortes. Logicamente o ministro, então deputado, pela sua competência, pela sua influência no plano nacional, ele teve esse espaço. Ele foi líder do PMDB nacional apoiando o governo Fernando Henrique por sete anos. Então através desta força nacional ajudou muito ele a manter a força do PMDB no estado. Quando eu assumi o partido por força da ida do deputado Geddel para o Ministério da Integração Nacional do governo Lula, eu já peguei o partido com essa base consolidada. Não tão grande, mas unida e coesa. E principalmente com os ideais e princípios firmes. Já com objetivos traçados. Você já tinha aqui o PMDB da Bahia caracterizado pela coerência de idéias, que quando tem que fazer alguma alteração de rumo é sempre consultando as suas bases, consultando a sua bancada, consultando seus prefeitos. Então já tinha um rumo no PMDB. Cabia a mim manter esse rumo e, logicamente, cada pessoa tem sua maneira própria de administrar. Esta é uma bandeira própria minha.
BN – Mantém o time entrosado e já em ritmo de jogo.
LVL – Exatamente. Não houve uma mudança de treinador por maus resultados. O treinador foi dirigir uma seleção e precisou de um outro treinador. Mas eu já tinha esse time. Cabia agora tocar isso. E foi o que eu procurei fazer. Pegar esses ensinamentos, essas orientações do ministro Geddel, com algumas idéias novas que eu trouxe, alguns companheiros novos que vieram para o partido – e com isto também trouxeram idéias novas – e este crescimento nós procuramos ter cuidado para que não representasse um inchaço. Nós fizemos uma verdadeira triagem, uma seleção. Eu podia ter trazido para cá, em vez de mais de 100 prefeitos, 200 prefeitos. Mas no entanto não foi essa a opção. Eu observei na minha vida pública experiências de outros partidos que o crescimento representava na verdade um início do fim. O partido, porque chegou ao poder, ele apresentava um crescimento acelerado, mas sem nenhum critério, e desta forma estava dando, na verdade, o início da sua derrocada.
“Hoje nós temos 115 prefeitos, 554 vereadores, 54 vice-prefeitos, oito deputados estaduais, três deputados federais, um ministro de estado, o vice-governador, dois secretários de estado”
BN – Como é o PMDB em números hoje?
LVL – Hoje nós temos 115 prefeitos, 554 vereadores, 54 vice-prefeitos, oito deputados estaduais, três deputados federais, um ministro de estado, o vice-governador, dois secretários de estado. É uma máquina partidária nada desprezível. Eu posso afirmar até, baseado nesses números, que afora o PMDB não tenha o governo do estado, é sem dúvida nenhuma o maior partido da Bahia.
BN – O partido tem feito alguns encontros regionais. Como tem acontecido esses encontros e que sentido tem esses encontros com a militância, com os empresários da Bahia, com o povo do interior do estado?
LVL – Esses encontros vêm até para corroborar a minha resposta à primeira pergunta. Eu disse que a orientação do ministro Geddel, quando presidente do partido, era sempre consultar as bases. Logicamente um partido que elegeu 22 prefeitos e que no decorrer de depois da eleição alguns deles já tinham sido cooptados restando apenas em certo momento conosco apenas12 prefeitos. Então essas consultas eram feitas muitas vezes numa sala de reunião. Então, o principio é o mesmo: consultar as bases. Isso acelerou pelo crescimento do partido. Quando um partido cresce muito você diminui o controle desse partido pela chamada cúpula. Porque senão a cúpula pode levar o partido em uma direção e não levara base. Então esses encontros são necessários e não são encontros de faz-de-conta. Nós estamos efetivamente ouvindo as bases e as decisões que a base tomar, o caminho que ela indicar, será respeitados e seguidos.
BN – Mas, não é utópico falar em unanimidade?
LVL – Você pode dizer “e todos seguirão este caminho?”. Pode ser que não. Mas nós vamos construir, senão a unanimidade, pelo menos uma maioria que dê força a essas decisões, e que permita que o partido ceda o máximo da unidade possível. É dessa unidade que vem a força do PMDB. Isso sempre caracterizou a história do PMDB aqui na Bahia. Então estes encontros tem tido uma repercussão enorme porque as bases estavam ansiosas por isto. E eu creio que não só as bases do PMDB. Eu acho que isso, e depois que o PMDB começou esses encontros, eu estou vendo outros partidos se movimentarem nesse sentido. Porque é isso que o povo quer. Você faz parte da sua família e vê filhos trocando idéia com os pais, vê os filhos opinando. Pra se tomar uma decisão tem que ter uma ampla troca de idéias. E assim tem que ser na política partidária.
BN – Como tem sido a aceitação desses encontros?
LVL – E a aceitação no interior tem sido enorme, Nós projetamos 20 encontros e temos sido pressionados para ampliar esses encontros para dividir mais as regiões devido à demanda. Então o PMDB esta voltando a ser aquele MDB, que sempre foi um partido de vanguarda, que sempre tomou a frente das grandes decisões brasileiras, que esteve à frente da redemocratização, da anistia, das Diretas Já, do impeachment de Collor, com a participação popular. É isso que eu estou vendo quando eu chego nos municípios. Você vê a alegria nos rostos das pessoas de estar vendo ali as suas lideranças indo ao encontro delas para discutir os seus destinos. É o que eu digo sempre: a opinião hoje do ministro Geddel, do prefeito (de Salvador) João Henrique e Lúcio Vieira Lima tem a mesma importância da de qualquer um dos mais simples militantes. Qualquer filiado. E os encontros são feitos para isso. Para nós abrirmos o microfone e da maneira mais democrática possível as pessoas irem lá e poderem criticar o ministro, criticar o prefeito João Henrique, criticar a direção partidária, propor um acordo ou a manutenção de uma aliança, candidatura própria. É o mais aberto possível, e essa aceitação não é só dos militantes, não. Têm vindo inclusive prefeitos de outros partidos, lideranças de outros partidos, empresários. Todos se manifestando e todos querendo participar desse movimento. Então eu estou muito feliz com esse encontro. Me surpreendeu. Quando nós do PMDB idealizamos eu até perguntei se não ia cair naquela burocracia de encontros, com uma mesinha composta onde teria ali presidentes de diretórios, mas há uma verdadeira mobilização. E mobilização, é bom que se frise, você não vê caravanas de ônibus levadas pelas lideranças. Aqui em Salvador tivemos duas mil lideranças, mas os vereadores não disponibilizaram transporte para trazer charangas, militantes pagos. São só realmente militantes do PMDB que já está agregando até militantes de outros partidos. Obviamente estes outros partidos, o peso deles não irá influir na decisão do PMDB, mas com o encontro é aberto, é aberto para pessoas, jornalistas, historiadores, políticos. Quanto mais gente vier, ótimo, porque nós estamos fazendo um verdadeiro movimento popular.
“E se a decisão for para manter a aliança, lhe digo com a maior pureza d’alma: será mantida com a mesma empolgação do que se fosse um palanque próprio do PMDB”
BN – O sentimento de quem acompanha essa movimentação é de que a base clama por uma candidatura própria. Se a base decidir que é melhor uma candidatura própria e que o nome pode ser do ministro Geddel e se o PMDB estiver sozinho nisso, o partido vai se arriscar até esse ponto?
LVL – Primeiro eu não posso dizer que é uma tendência. Nós fizemos três encontros de um total de 20. O que eu posso dizer é que hoje as manifestações mais firmes, mais fortes, são pela candidatura própria, o que não significa maioria. Significa dizer que eles estão com mais vontade, mais garra de se manifestar. Agora quando eu digo que a decisão é das bases, as bases para tomada de decisão deve levar em conta tudo isto: os nomes que o partido tem, a vontade do partido ter uma candidatura própria, o amor à militância e as condições políticas para a candidatura. Num debate, nós colocamos tudo isto. Se amanhã não tiver condições políticas para viabilizar uma candidatura, as bases serão as primeiras a reconhecer e dizer “infelizmente nós fizemos um movimento, temos um bom nome, mas não reunimos as condições políticas’. Não é o momento certo. Da mesma forma que se o partido reunisse as condições políticas tivesse vontade, mas não tivesse um bom nome, deveria dizer “infelizmente temos tudo para disputar a eleição, mas não temos um bom nome”. E assim por diante. Então o que nos estamos fazendo come este encontro é avaliando se nós preenchemos os pré-requisitos. Temos um bom nome? Temos. O partido está organizado e forte? Está. As militâncias estão organizadas? Estão. Reunimos condições políticas? Vamos tentar reunir. E depois, mostrando tudo isto à base, dizermos “chegou a hora, o PMDB deve ter candidatura própria”. Ou “não chegou a hora. O PMDB deve manter a aliança e manterá a aliança”. E se a decisão for para manter a aliança, lhe digo com a maior pureza d’alma: será mantida com a mesma empolgação do que se fosse um palanque próprio do PMDB.
BN – Vamos falar um pouco da situação municipal. O prefeito João Henrique é uma das grandes lideranças do partido, mas há rumores de que há um processo de convencimento do prefeito dentro do Thomé de Souza para que ele concorra ao governo do estado. O prefeito revelou algum tipo de descontentamento como partido. E caso isto aconteça, o senhor acha que será uma traição, já que o PMDB conseguiu transformar JH de candidato desacreditado em prefeito reeleito?
LVL – Pra começar eu digo que fico muito contente de saber que há especulação de dois nomes para concorrer ao governo do estado em 2010: o do prefeito João Henrique e do ministro Geddel Vieira Lima. Isto é sinal de que uma premissa nós já ultrapassamos: Temos dois bons nomes, não só um. Eu me sinto feliz como presidente do partido que nesses dois anos à frente dele ter dois nomes fortes para disputar o governo da Bahia, ao contrário de muitos partidos que não conseguem viabilizar nem mesmo um nome. Em segundo lugar, o prefeito João Henrique não manifestou a este presidente ou a qualquer direção partidária desejo de sair do partido, pelo contrário. As entrevistas públicas que eu vejo de João Henrique são no sentido de ele está na fila para ser governador, porque a prioridade é do ministro Geddel Vieira Lima, que ele é grato ao trabalho que o PMDB fez pela sua reeleição, que ele é grato ao ministro Geddel pelo trabalho que ele tem feito por Salvador. Agora mesmo nesse episódio das chuvas ele imediatamente tomou um helicóptero, visitou Salvador e já liberou recursos para obras. Mas é natural que se você tem companheiros de João Henrique estimulando que ele seja candidato a governador. Os companheiros do ministro Geddel incentivam que ele seja o candidato a governador. Entretanto, os companheiros de João Henrique devem pesar tudo isto para ver se ele reúne estas condições de ser o candidato do PMDB. Se reunir as condições, não cabe a mim como presidente defender este ou aquele nome. Eu defendo que saia um nome do PMDB. Se for o ministro Geddel, ótimo, se não for, ótimo também. Nome é o que não falta ao PMDB. Cabe ao partido fazer esta conjuntura – e o foro adequado são estes encontros – e viabilizar o seu nome. Agora eu não vi em nenhum a circunstância João Henrique manifestar desejo de sair do PMDB para ser candidato a governador com outra legenda.
BN – No ano passado, a disputa eleitoral em Salvador foi pesada. Lembro que Miguel Kertzman foi candidato a vice de Imbassahy, depois ficou com Pinheiro no 2º turno. Agora, ele assumiu um cargo de importância na prefeitura para cuidar da Copa. Ele inclusive que tinha chamado o prefeito de “nazista” e “despreparado”. Não acha arriscado colocar nessa posição uma figura que já demonstrou muito descontentamento com o prefeito?
LVL – Quando Miguel Kertzman foi convidado para ser o secretário especial do prefeito ele está numa função de assessoria. Agora, quanto a ofensas que ele teria feito ao prefeito João Henrique não cabe a mim perdoá-lo ou não. Cabe ao prefeito. Se ele resolveu convidá-lo para fazer parte de seu governo é porque o prefeito já superou essas desavenças ou atribuiu essas desavenças a um momento político. E sendo João Henrique a pessoa ofendida por Miguel Kertzman então cabe só a ele julgar se deveria desculpá-lo ou não. Se o nomeou é porque já o perdoou e só cabe ao PMDB apoiá-lo em suas decisões.
BN – E a Copa? Como o partido avalia esta oportunidade para a nossa cidade?
LVL – A Copa do Mundo é uma coisa muito importante e o ministro Geddel teve uma importância imensa em trazer essa sede para a Bahia devido à amizade que ele tem com Ricardo Teixeira. O governador Jaques Wagner também tem uma importância grande, o prefeito João Henrique. Então já daí tem uma importância da Copa do Mundo: a de reunir as lideranças do estado para trazer esse importante evento para a nossa cidade. E todos sabem dos benefícios que a Copa do Mundo traz a qualquer cidade do mundo em que ocorreu esse evento. A Copa do Mundo não encerra os benefícios dela quando termina. Ela deixa mudança de hábito, ela deixa as melhorias estruturais, vai ter mudanças na questão de transporte urbano, vai ter mudanças na área de saúde, no esporte, que vai ficar aí centros para novos talentos surgirem. O caso de Barcelona é emblemático. Depois das Olimpíadas a cidade mudou completamente e hoje é referência mundial. Então o que nós temos é que nos unir para que isto aconteça também em Salvador. Que permita que a Copa do Mundo traga todos esses benefícios que Barcelona teve. Eu vejo muitos críticos até dizerem “mas para que tanto dinheiro gastando na Copa do Mundo se poderia investir nisso e naquilo?”. Ora, mas logicamente a Copa do Mundo trará benefícios também a outras áreas. Vai ajudar também Salvador, além da dimensão que dá para Salvador, uma cidade essencialmente turística, de colocar ela também definitivamente no roteiro internacional do turismo.
“Chegou a hora, o PMDB deve ter candidatura própria”
BN – O partido prepara uma carta ao governo do estado. Há como antecipar alguma coisa sobre este documento, que já é bastante falado? Seria inclusive uma carta de despedida?
LVL – Não. Este documento já está pronto, estarei nos próximos dias pedindo uma audiência com o governador na condição de presidente do partido e entregarei este documento a ele. É um documento que diz respeito às duas pastas que o PMDB ocupa no governo. Não é um documento que se tome como uma coisa que faça críticas ao governo. Ele mostra a situação das pastas que o PMDB ocupa, de que maneira o partido poderia colaborar mais. É um documento contributivo. Crítico no sentido da crítica construtiva. Não posso antecipar o teor do documento porque aí sim eu estaria cometendo uma descortesia com o governador. Eu entregarei o documento a ele e ele dê o destino que quiser. Ele pode ler o documento e a partir daí tirar conclusões, mudar o rumo de decisões, ler e desconsiderar, pode não ler o documento, mas eu quero estar com a minha consciência tranquila de que, na condição de aliado, eu fiz tudo para contribuir. Porque esta é a função do aliado. Uma vez que nós não somos a peça principal do governo, você tem duas formas de colocar em prática as políticas públicas: fazendo alianças numa tentativa de influenciar. E como o PMDB fez uma aliança em 2006, o fez no sentido de colaborar para mudar a situação que existia. Então nós colaboramos com uma pequena parcela. Eu acho até que colaboramos pouco. Não porque queremos colaborar pouco. Porque somos pouco chamados para colaborar.
BN – Isso também é uma reclamação do ministro. O partido influi pouco nas decisões do governo e ocupa um espaço tímido.
LVL – Não estou reclamando aqui de espaço em termo de cargos. O ministro já falou sobre isso, divulgou uma carta aberta que foi divulgada na imprensa onde diz claramente que o PMDB não faz política baseado em cargos, mas baseado em princípios. De nada adianta você ter cargos no governo se você não está influenciando adequadamente, se não está sendo ouvido pelo governo. Então o que o PMDB coloca é que nós participamos pouco à medida que somos chamados pouco a contribuir com as políticas públicas. Então gostaríamos de participar mais nisso. E daí é que surge muita coisa desse ti-ti-ti, vai-romper, não-vai-romper, mas não tem nada em participação de governos em termos de cargos. Esses cargos que nós temos existem porque o governador nos convidou devido à participação decisiva do partido em 2006. E já foi dito: estes cargos pertencem ao governo. Então, a qualquer momento pode ser retirado do PMDB. O que não significa rompimento. Continuaremos no governo com ou sem cargo. O presidente Lula foi muito claro ao dizer que a aliança de 2006 foi de governabilidade, sem nenhuma promessa de manutenção de aliança para 2010. Cabe a quem quiser o apoio do PMDB procurar fazer o processo de convencimento para manter a aliança. Se a decisão for para uma coligação nós temos de ser convencidos de que a aliança é boa para os baianos.
BN – O senhor não acha que houve muita celeuma com esta carta? Nós descobrimos que o presidente regional do PT, Jonas Paulo, ia mandar também uma carta ao governo com estes mesmos termos.
LVL – Mas tudo o que vem do PMDB é tratado, não sei porque, com estardalhaço. Talvez pelo tamanho e pela importância que hoje nós ocupamos na Bahia. Nós vamos fazer um encontro e ele é tratado com estardalhaço (com os meios de comunicação) achando que o encontro é contra o governo, mas ele é natural. O PT é mestre em fazer encontros. Tem uma manifestação da UPB, legítima dos prefeitos, e é o PMDB que está por trás e é contra o governo. Vamos entregar um documento e é contra o governo. Quem cria isso tudo é o próprio PT. Em vez de ter dito que era um documento contra o governo deveria dizer “ótimo, ficamos felizes. Vamos ler o documento e vamos ver as reflexões, vamos examinar”. Na repactuação de João Henrique, quando o PT repassou de duas para quatro secretarias, eles entregaram um documento. Mostrando eventuais falhas que existiam na prefeitura e que mudanças eles queriam. Tanto que eles fecharam compromisso com a reeleição.
BN – Mas isto não aconteceu, não é?
LVL – Mas o que não aconteceu foi histórico. Tem que ver agora com eles, perguntar a eles (por que não continuaram com a aliança).
BN – Que partidos atualmente têm maior afinidade para compor uma chapa em 2010?
LVL – O PMDB é um partido de centro. Logicamente nós temos uma identidade hoje com o presidente Lula. É um presidente que fez muito pelo Brasil, que tem reconhecidamente uma popularidade muito grande. Eu trabalhei aqui no diretório do PMDB estadual para tentar manter essa aliança nacional. Mas todo mundo sabe que eu sou um homem de partido. Então eu tenho que respeitar a vontade do meu partido. Aqui na Bahia, depois do falecimento do senador ACM, que era o impedimento para as pessoas, para os partidos conversarem, a política era conduzida da forma de ser carlista ou anticarista.
BN – Bem e mal… O eterno maniqueísmo.
LVL – Mais ou menos isso. (risos). Mas, as acabou isso na Bahia, mudou todo o quadro. Hoje você vê, por exemplo, na eleição do segundo turno, o PT foi procurar o apoio de ACM Neto. O PT no segundo turno teve o apoio de Raimundo Varela, do Bispo Marinho, que foi candidato a vice na chapa de ACM neto. O PP hoje está no governo, onde o secretário de Agricultura é a maior oposição à prefeita (de Lauro de Freitas) Moema (Gramacho). Então eu vejo sempre quando o PT pergunta “isso é comportamento de aliado, fazer documento?”, tem que perguntar é a Moema se é comportamento de aliado trazer o PP (para dentro do governo estadual). Então acabou isso na política. Todo mundo conversa com todo mundo. No caso do PMDB, o objetivo das nossas conversas será sempre levar em conta o que é melhor para a Bahia. Isso é que vai conduzir o destino do PMDB. Porque nós não podemos esquecer que o país hoje vive uma forte crise. O que vamos fazer depois dessa crise? Isso é como essas enchentes que tiveram. Acabou de chover, mas quem tá com sua casa destruída tem que reconstruir toda. Então daí é um dos motivos que as bases partidárias estão querendo candidatura própria. Porque nos debates eles têm debatido muito o perfil do ministro Geddel como um homem tocador de obra, que tira as coisas do papel, que tem vontade de servir à Bahia, gosta de trabalhar. Então esse perfil é outra coisa que está levando muito fortemente o desejo do PMDB em lançar candidatura própria. Então nós temos que ver o que é que vai ser melhor para ajudar os rumos da Bahia para depois dessa crise retomar o crescimento? Quem poderia assumir o compromisso, de que forma, com que propostas? Se nós decidirmos por candidatura própria nós temos que apresentar ao povo baiano propostas concretas. Podemos melhorar a Bahia assim, assim e assim. Vamos tirar os recursos dali e tal. Se for para nós apoiarmos, nós vamos chegar para aqueles que querem nosso apoio e perguntar “de que forma você pretende conduzir a Bahia nos próximos quatro anos?”. Não podemos simplesmente renovar um apoio porque apoiamos nos últimos quatro anos. Nós temos que levar à base por que nós vamos renovar esse apoio.
“Eu posso afirmar até, baseado nesses números, que afora o PMDB não tenha o governo do estado, é sem dúvida nenhuma o maior partido da Bahia”
BN – A tendência natural é manter a aliança nacional. Mas há também discussões sobre a composição de uma “superliga”, que reuniria PMDB, DEM, PSDB e PR. Isso deixaria a disputa bem polarizada entre essa coligação e a petista. Acredita nesta possibilidade?
LVL– Eu digo que eu, Lúcio Vieira Lima, irei lutar para manter o apoio ao presidente Lula. O PMDB, pela grandeza que tem hoje, todas as decisões quem terá de tomar são as bases. E eu como homem de partido seguirei as decisões que a base decidir. Então naturalmente se a base decidir por uma candidatura própria ela também decidirá com quem não devemos nos aliançar. Se ela decidir que devemos apoiar determinado candidato ela decidirá que candidato será esse. Então você fala se é possível uma “superliga”, mas não vi em nenhum dos encontros ninguém defender. Apoiar a candidatura de outro partido que não fosse a candidatura de Jaques Wagner se a decisão for apoiar alguém. Nenhuma voz disse que deveríamos apoiar a candidatura de DEM, PR e PSDB. Também não vi ninguém contra o PMDB receber apoio destes partidos. Então hoje, depois desses três encontros, as manifestações públicas que existiram majoritariamente foram pela candidatura própria. Em segundo lugar, pontualmente, pela manutenção da aliança como PT. Então nós temos que aguardar a decisão pela candidatura própria, nós vamos buscar apoios, e esses apoios é a base quem vai decidir. Apoio de DEM, PSBD, PR? Eu estou escorado pela base. É ela que vai dizer meu destino. E iremos buscar.
BN – Permita uma digressão. Voltando à administração municipal, se reclama muito que o novo projeto da coleta de lixo teria sido feito para criar um monopólio e que ele favoreceria algumas empresas no processo.
LVL – O projeto, pelo que eu tenho lido, até porque isso é uma questão administrativa, não é partidária, não cabe ao PMDB… O prefeito João Henrique foi eleito para tomar decisões, então isso não passa pelo PMDB. Agora, pelo que eu li e pude constatar é que o município não tem mais capacidade para investir. Então você tem que fazer Parceria Público-Privadas. Esta é uma maneira de você buscar recurso. Na iniciativa privada para modernizar o sistema de coleta de lixo. Você tem que renovar a frota de caminhões, mas a prefeitura não tem dinheiro para isso. Tem a questão do aterro sanitário, da coleta seletiva, dos hospitais, que a prefeitura não tem condições de arcar com isso. E logicamente nenhuma empresa virá participar de um projeto desses se não houver tempo para retirar o seu investimento. Porque empresário tem que ter lucro, nenhum deles faz filantropia. Ele tem que prestar um bom serviço, e aí cabe aos órgãos públicos fiscalizar. Agora, pelo que me consta, isto está sendo acompanhado pelo Ministério Público, teve a votação da Câmara Municipal. Se a oposição acha que é um projeto ruim, apresente uma outra proposta e vá ao seu voto.
BN – A oposição não apresentou nenhuma emenda ao projeto.
LVL – Se não apresentaram emendas é porque estão achando certo. Devem estar fazendo oposição simplesmente por se opor. Então isso aí nós não podemos concordar. Mas me parece que foi um projeto amplamente debatido, teve audiências públicas, o MP está acompanhando. Isso inclusive já teve aqui na Bahia. Me parece que o aterro sanitário foi uma concessão de 25 anos. Que foi feito na administração de Antônio Imbassahy. Já existe um modelo disso. A empresa que explora o aterro sanitário tem concessão de 25 anos. Logicamente é uma parte do serviço, mas o debate está aí para ser feito e corrigir rumos. Imprensa tem uma parcela importante nisso. Se ela está vendo defeitos no projeto é só acompanhar, denunciar, dar sugestões. Esse é o papel da imprensa. É a grande caixa de ressonância da população. Tanto que quando se faz pesquisa perguntando em que entidade mais se confia, a imprensa aparece em primeiro lugar desde que seja feito um trabalho sério. Então cabe também aos vereadores prestar um bom serviço. O papel do prefeito é tomar decisões. Acho que o bom gestor é aquele que toma decisões, não se deixa inibir por críticas da oposição. Ele tem que pesar o rumo das coisas e corrigir os rumos se tiverem que ser corrigidos e se não tiverem tomar a decisão e tocar em frente e sempre pensando no bem da população.
BN – O senhor pensa em concorrer a uma vaga de deputado federal. Já está preparado para morar em Brasília? O PMDB estadual já teria um substituto para a presidência regional do partido?
LVL– Hoje, por uma questão legal nós não podemos falar nem em pré-candidatura. Logicamente meu nome está disponível. Assim como o ministro Geddel que o destino dele não pertence mais a ele, que a decisão de ele ser candidato a governador ou não caberá ao partido, o meu nome, por ser um ente político e estar quite com suas obrigações eleitorais, está à disposição para a decisão do partido. Se no momento certo ele me convocar para ser candidato a deputado federal, estarei pronto a aceitar o desafio. Desde que, também, o partido ache que eu terei condições de fazer um bom trabalho em Brasília, tanto para o partido como para a Bahia.Ou senão decidir que eu deva continuar a presidência do partido no estado. Estarei pronto para aceitar a missão do partido. Quanto a sucessor, nós teremos eleição para o PMDB em dezembro com a renovação do diretório e não começamos ainda a tratar disso. Mas no momento adequado estará aí posta a questão da sucessão.
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