Honrar e homenagear uma pessoa tida como guerreira e com grande senso de justiça e, principalmente, trazer à tona uma discussão sobre crimes médicos que ficam impunes por falta de notoriedade. Essa é a proposta da campanha em prol da valorização da vida, lançada no site de relacionamento Orkut e idealizada pelos parentes da funcionária pública Rose Mary Silva Portugal, 51 anos. Ela faleceu no último dia 28, no Hospital São Rafael, em Salvador, vítima, segundo familiares, de imperícia, negligência e imprudência. O hospital poderá ser indiciado por homicídio culposo pelo Ministério Público.
“É chegado o momento de refletir sobre o sistema de saúde deste país, as estruturas dos hospitais, obsoletas, o despreparo dos profissionais e principalmente a falta de humanismo capaz de levar à morte, de forma criminosa, vidas como a de minha mãe e tantas outras que não tiveram essa notoriedade”, escreveu na comunidade sob título “Vítimas do Hospital São Rafael”, que tem dezenas de membros, o filho de Rose Mary, Cláudio Portugal Rios.
Na página, há relatos ainda de outras pessoas vítimas de descaso, como o de Helena Conserva. Ela conta que realizou uma cirurgia no Hospital São Rafael para retirada de um tumor na mama, em 2006, e que precisou realizar transfusão de sangue. “Uma luz me disse para conferir o nome na bolsa de sangue, resultado: o sangue era para outra paciente, Maria da Conceição sei lá das quantas, e era incompatível com o meu”, conta Helena, informando que também abriu processo. A equipe de reportagem tentou entrar em contato com ela, para obter mais detalhes sobre o assunto, mas sem sucesso.
Rose Mary Silva Portugal foi internada no último dia 25 (E não 28, como publicado na matéria sob título Família acusa hospital de negligência, da edição da Tribuna, dia 15) para uma cirurgia de tireóide e retirada de um cisto maligno na mesma região. Durante a cirurgia, foi necessário fazer uma traqueostomia, procedimento cirúrgico no pescoço que estabelece um orifício artificial onde é colada uma cânula para facilitar a respiração.
Cláudio esclarece que o erro que ocasionou a morte de sua mãe foi pós-cirúrgico, mais precisamente na Ala 3C do hospital. “Em uma das graves situações, o corpo de enfermagem já havia aferido várias vezes os sinais vitais dela e constatado aumento da pressão, mas sem nenhuma preocupação para o fato. Como não havia prescrição, os plantonistas se negavam a ligar para o médico, dizendo ‘já ligamos e não conseguimos falar’, porém, minha tia, Sônia Portugal, ligou no mesmo momento e conseguiu falar com o médico que informou que ligaria imediatamente para o posto de enfermagem”, conta Cláudio.
Logo em seguida, de acordo com familiares, o corpo de enfermagem informou que não possuía o medicamento Aradois, na dosagem que Rose Mary precisava. Os parentes então disseram que possuíam e questionaram se poderiam dar. O médico foi consultado e deu autorização para que dessem à medicação que os familiares possuíam.
Os nomes dos envolvidos neste ato serão apurados pelo Ministério Público. O promotor de Justiça designado para o caso, Waldemir Leão, colheu depoimentos da psicóloga Sofia Portugal, sobrinha de Rose Mary, que a acompanhava no momento que ela asfixiou. E do irmão de Cláudio, Vinicius Portugal, que chegava ao apartamento para visitá-la quando Sofia acabava de sair do apartamento pedindo socorro e urgência no atendimento. Informação tribuna da Bahia por Rodrigo Lago
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