Tribuna – Na visão do senhor, foi a política, a roubalheira ou a economia que derrubou Dilma?
Wagner – Basicamente a política. Pessoalmente eu não gosto do termo roubalheira, mas a corrupção é uma marca, que não tangenciou ela. No fundo cada um desses fatores tem um pedaço. A corrupção fez algum dos nossos ficarem decepcionados, perdemos amigos e torcedores. A economia, que não é a culpa dela, parte do estouro fiscal que a gente fez foi em benefício de algumas empresas, foi um exagero, foi errado. Nós nordestinos até reclamávamos de que ela reduzia o IPI e impactava no FPE e FPM para manter os empregos em São Paulo, no Rio e Minas, que são os estados mais industrializados. Mas quem fez isso foi o Congresso. Ela mandou uma regra de isenção fiscal para os setores mais concorridos internacionalmente para desonerar a folha e o Congresso espalhou isso para todo mundo. Agora, é evidente que teve exageros nos programas de isenção e nós entramos em um problema fiscal muito sério, mas querer achar que a responsabilidade é só daqui sem querer enxergar o que está acontecendo na China, nos Estados Unidos, na Europa… para mim é um mix. Quem puxa o bem-estar é a economia. Quando a economia vai bem a política pode até ir mal, porque se tá bombando de empregos, gente comprando casa, carro, indo para a universidade, viajando para o exterior, a sensação do futuro é de não mudar nada, isso é bom para o político, mas óbvio que tem a gestão da política, na qual tivemos várias arestas não aparadas. E na corrupção, foi uma coisa de tentar estigmatizar o PT. Minha cabeça não é conspirativa, mas eu seria ingênuo, para não dizer idiota, se não percebesse que, voltando ao artigo do Cerqueira Leite, parte da aristocracia, da elite brasileira, nunca gostou de ver um peão, uma mulher, na Presidência brasileira.
Tribuna – O senhor viveu muito de perto o processo de impeachment da ex-presidente Dilma. O que o senhor viu e ouviu que mais o marcou ao longo desse processo?
Wagner – mas que veio se oferecer para ser general e comandar a resistência nossa, essa questão toda, foi o primeiro a se bandear. O instinto de sobrevivência da classe política é gigantesco, é maior que o normal. As pessoas vão medindo, “vou votar em quem vai ganhar”. Agora, não dá para desconhecer que a gente tinha um marginal comandando o processo. Eu estou falando isso pois tinha um diálogo claro com ele nesse processo. E aí é mérito, mesmo que o resultado não seja positivo, o Eduardo Cunha ficou o processo todo com o impeachment na mão oferecendo para a oposição e para a gente, até uma hora que ele achou que com a gente tinha, e isso é mérito dela, e é capaz de eu encontrar alguns dos nossos que diga que o erro foi não ter composto com o Eduardo Cunha, aí pergunto eu: Ela seria presidente da República refém de um traficante de influências? Do que adianta estar na cadeira? Eu disse uma vez para o emissário dele: ‘diga ao presidente que quando ele quiser colocar o processo de impeachment que coloque’. Se nós não tivermos 174 votos é melhor ir para casa. Como você vai ser presidente da República e toda hora o cara vai apresentar alguma coisa. O erro foi ter deixado chegar a essa situação.
Tribuna – Passado o impeachment, o Brasil está melhor ou pior?
Wagner – O Brasil, na minha opinião, ainda não colheu nada. Por enquanto estamos vivendo de notícias, expectativa, se você pegar a balança comercial teve uma queda de R$ 5 bilhões. Claro, se apreciou o real, uma beleza para quem importa, para quem viaja para Miami, mas péssimo para quem exporta. Querendo ou não, o valor do real perante o dólar é o elemento de competitividade, é por isso que a China constantemente segura a moeda dela, o produto dela fica barato e tem que exportar. Por enquanto eu não estou vendo crescimento, estamos vivendo de vai dar certo. Mas eu também não estou torcendo para dar errado não. Por enquanto, o governo está se lastreando na credibilidade do novo ministro da Fazenda, que é uma pessoa que tem credibilidade interna e externa, é um fiador desse processo, é claro que quem se associou para fazer o impeachment quer que alguma coisa melhore, ou eles vão desembarcar em 2018 pior do que estavam, então está todo mundo bombando. Muitas das coisas que a gente queria votar estão sendo votados agora. Por decisão, interditaram inúmeras vezes a chamada pauta bomba no governo da Dilma para não dar certo, asfixiaram para causar um problema político. Não dá para dizer que tem uma crise política só por erro do lado de cá. Tinha um negócio programado, mas viramos de 2015 para 2016 que ninguém acreditava mais em impeachment. Estou falando porque eu estava lá já na Casa Civil. Viramos uma condição melhor, e as coisas com a Lava Jato foram sendo tocadas a ponta de enrolar.
Tribuna – A democracia está sendo violada com a intolerância que se está vendo nas ruas ou o resultado das urnas sepulta essa tese?
Wagner – Acho que as pessoas estão fazendo uma leitura totalmente equivocada, que sepulta a tese do golpe, é só fazer uma pesquisa que você vai ver. Uma coisa é as pessoas dizerem temporariamente não ao PT. Elas não estão dizendo sim ao Michel (Temer) ou ao grupo que está no poder. É só fazer uma pesquisa, e por isso o prefeito (ACM Neto) morria de medo de ser associado ao golpe. São 73% contra o golpe e a favor de eleições diretas. O que eu quero dizer é que essas duas coisas estão andando juntas. A condenação do PT, por essa questão da corrupção ou desencontros da economia, vale ao tempo que vale a condenação ao golpe. Se você perguntar em off aos marqueteiros do prefeito que foi reeleito, ele fugia do golpe como o diabo foge da cruz. Ele trouxe o Michel para cá? Aqui ele não tinha dois candidatos da base dele, só tinha um. Essa questão é mundial, as pessoas sabem que foi uma artificialidade. Impeachment é uma consequência de um malfeito, desde janeiro de 2015 levantaram o impeachment e ficaram vendo qual o crime que poderia encaixar a presidente Dilma. Não foi um crime como o do Collor, que teve um CPI, uma Casa da Dinda. Aqui não teve uma CPI da Dilma. Hoje, se você comparar, você tem uma condenação ao PT, basicamente por uma desarrumação da economia, por uma mentira dita muitas vezes, não somos o partido dos santos, mas o partido que sucumbiu a uma lógica de fazer política que está torta no Brasil. Agora, achar que isso, a aceitação ao golpe anda… Não tem nada a ver.
Tribuna – O ex-presidente Lula acaba de ser indiciado pela terceira vez pela Operação Lava Jato. É uma ação meramente política ou há um enfrentamento no combate à corrupção?
Wagner – Se fosse um enfrentamento grande no combate à corrupção seguramente, como todos os partidos estão no poder no Brasil, você teria que ter uma democratização muito maior de culpados e acusações. Com relação ao ex-presidente Lula, eu o conheci morando na mesma casa em que ele mora oito anos após ser presidente da república. Essa última condenação, eu não conheço detalhes, mas você querer exportar empresas e produtos brasileiros, ele era o verdadeiro marchand do Brasil lá fora. Quando ele foi corretamente explorar o mercado da África, a América Latina, da Índia e da China, foi com uma grande visão. Ele disse para o Itamaraty que não queria mais a diplomacia do cunho de renda, mas a diplomacia comercial, como faz os Estados Unidos. A embaixadora dos Estados Unidos quando era ministra da Defesa, vinha defender os interesses da indústria de defesa americana. Então, eu colocar uma empresa como a Odebrecht, que falem o que quiser do processo, mas tem uma folha de tecnologia que opera em vários lugares, eu levar um engenheiro lá para fora, eu estou exportando inteligência brasileira. Se tem a interferência de alguém que ganhou ou não ganhou, esse detalhe eu não conheço. Eu desconheço sinais externos de riqueza do presidente Lula para dizer que ele se beneficiou. Eu conheço a família, os filhos, ele mora no mesmo apartamento que morava antes de ser presidente. As pessoas chamam de cobertura, mas é menor que o meu. Na minha opinião, é uma questão de pele da aristocracia. Esse homem deveria receber uma medalha de pacificador, ele, ao contrário do que se imaginava, ele pacificou. Ele não é da luta de classes, não é da esquerda tradicional. O Lula é um cristão da justiça social humanitária, um exemplo de superação. Porque estão querendo estigmatizar essa pessoa? Onde está o benefício dele? É o Instituto Lula? Todo mundo dá palestra, quando ele dá é trambique? O Fernando Henrique dá, o Clinton dá, todo mundo vive disso. Ele, como um dos presidentes mais exitosos do mundo, que elegeu sua sucessora com 80%, é requisitado em qualquer lugar. Qualquer cara dá uma palestra e cobra R$ 20 mil, R$ 30 mil, até jornalista. Depois, quando nada adiantou, inventaram impeachment. Eu acho um desserviço, pegaram um símbolo que foi construído pela sociedade brasileira para acabar com ele de qualquer jeito. Eu até brinco, o Mandela saiu da prisão para se tornar um líder, o Lula que é um líder querem colocar na prisão.
Tribuna – O nome do senhor é cotado caso Lula não seja candidato. Assume primeiro o partido e depois ganha projeção para entrar em 2018 fortalecido?
Wagner – Eu já tenho um patrimônio político, fiz oito anos de governo e, como diz um senhor de idade do interior, eu deveria até propagandear mais porque em oito anos de governo não teve um escândalo de corrupção, os que tiveram a gente estourou por dentro. Eu não pretendo ser presidente nacional do PT, acho que o PT já tem um presidente que se chama Luiz Inácio Lula da Silva, já disse isso para ele. Não adianta o PT ter um presidente de fato e um de direito. Eu posso ir para a executiva nacional do PT para ajudar ele a tocar as coisas, mas não acredito em salvador da pátria. Lógico que eu quero dar contribuições, acho que o PT ainda tem uma vida longa, se engana quem acha que o PT precisa mudar de nome. A tempestade é a antessala do sol brilhando, quem não aguentar passar por uma tempestade… querendo ou não, no processo de impeachment acabou acontecendo uma reaglutinação no campo democrático. Aquelas pessoas que foram para as ruas entenderam que não queriam ser enganadas como muitas foram em 1964, que sobre a coisa semelhante a essa moralista do anticomunismo, entrou todo mundo no bolo. O exemplo que eu gosto de citar é Teotônio Vilela, que esteve lá e depois virou o senhor das diretas. Aquela de ‘ah, vamos acabar com o comunismo’, como agora estão dizendo. Isso não é crescimento, é involução da democracia brasileira, o cara pode pensar o que quiser, mas não tem o direito de me agredir. Vi o Eduardo Cunha sendo agredido no aeroporto, eu não fico satisfeito. Eu condeno ele por tudo que fez, mas calma, senão vamos fazer justiça com as próprias mãos. Para mim isso foi uma coisa inoculada aqui, esse fora PT foi a Geni da sociedade, e falo isso com muita tranquilidade, como sou judeu ouço as histórias dos meus pais, até a comunidade uma vez se irritou quando o Lula citou isso, claro que são graus diferentes, lá houve uma chacina de seis milhões, mas a semente é a mesma, de achar que a culpa do mundo é de A, B ou C.
Tribuna – O que o senhor pretende fazer em 2018?
Wagner – Eu vou continuar na política, a minha vida inteira dedicada a isso, desde os 15, 16 anos já estava nisso, estou há 36 anos no PT e vou continuar trabalhando para que o PT volte a representar a esperança, principalmente do povo mais carente da Bahia e do Brasil. Não tem cargo ainda previsto, mas estou sempre à disposição da política. Muitos companheiros acham que o meu lugar é disputando um lugar no Senado, em 2018, é possível, para fortalecer e ajudar na eleição de Rui, mas a política é tão dinâmica que você querer saber em que ponto vai estar em 2018 é precipitado. Mas esse cenário de ser candidato ao Senado, a um cargo político para ajudar algum candidato, é o que eu diria que está mais claro.
Colaborou: Gabriel Silva
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