O efeito do abuso de tela entre os mais jovens ainda é um campo de pesquisa muito novo e controverso. Mas os primeiros estudos que estão sendo feitos para analisar as consequências da exposição devem ser encarados como um alerta. Há sinais indicando que o desenvolvimento cognitivo de crianças está comprometido. O mais recente trabalho, realizado por pesquisadores canadenses, encontrou uma correlação muito direta entre o uso desses dispositivos e a inteligência das crianças, em um momento fundamental para seu desenvolvimento.
Este estudo compara o desempenho intelectual de 4.500 crianças dos Estados Unidos entre 8 e 11 anos com base nas recomendações dadas por um plano canadense chamado Movimento 24 horas: entre 9 e 11 horas de sono, pelo menos uma hora de exercício todos os dias e menos de duas horas de entretenimento com telas. As conclusões, publicadas na The Lancet Child & Adolescent Health, são muito claras: quanto mais recomendações individuais meninos e meninas cumprirem, melhores serão suas habilidades. Mas há um tema que se destaca dos demais: o tempo gasto em dispositivos é aquele que tem uma relação mais forte com a maturação intelectual. “Descobrimos que mais de duas horas de tempo recreativo com telas estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo em crianças”, concluem os pesquisadores da Universidade de Ottawa. Além disso, em razão desse achado, eles recomendam que pediatras, pais, educadores e políticos promovam uma “limitação do tempo de tela recreativa e priorizem rotinas de sono saudáveis durante a infância e a adolescência”.
“Estes estudos proporcionam a primeira confirmação de que as telas podem ter impacto negativo no desenvolvimento cognitivo”, afirma Tim Smith, autor do relatório
Na opinião do especialista espanhol Enrique Echeburúa, da Universidade do País Basco, a principal desvantagem do estudo é que no momento se concentra apenas em crianças entre 8 e 11 anos de idade. “Não sabemos se os resultados seriam os mesmos no funcionamento cognitivo se a referência fosse outra faixa etária importante, por exemplo, 12 a 15 anos, quando os adolescentes mudam de comportamento”, explica. E acrescenta: “O cérebro de uma pessoa só amadurece fisiologicamente aos 20-25 anos, daí a importância de não se tirar conclusões definitivas sobre a influência de variáveis específicas no funcionamento cognitivo global se não se levar em consideração diferentes grupos etários, onde outras variáveis também podem ter peso”.
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