Fala Bahia, fala Geddel – Portos da Bahia: à espera de caravelas

Artigo: Geddel Vieira Lima


Embora o governo estadual continue encontrando na “herança maldita” explicação para tudo, o sucateamento dos portos baianos  se configurou realmente em 2007, com um total 2,5 milhões de toneladas de fuga de cargas baianas por portos de outros estados.

Produção baiana: exportada por outros estados

A informação é de Paulo Villa, diretor executivo da Usuport-Associação dos Usuários de Terminais Portuários de Salvador, que explica: “Somente de carga conteinerizada foram 649 mil toneladas, o que gerou um prejuízo de cerca de R$ 150 milhões ao estado”.

Neste cenário o setor produtivo mais prejudicado é a fruticultura, já que 50% do que é produzido na Bahia para exportação, é embarcado pelos portos de Suape e Pecém.

Produtos baianos de outros setores agrícolas e industriais, como algodão, couro, café e madeiras perfiladas são embarcados para exportação pelo Porto de Santos.

Enquanto o governo baiano passou três anos se queixando, os governos de Pernambuco e do Ceará souberam avançar na modernização portuária.

O porto de Pernambuco tem quatro guindastes para contêineres e até o final do ano terá seis. Já o Ceará até o final do ano vai ganhar um novo terminal para contêineres, medida que está prevista também para Pernambuco.  A Bahia tem dois guindastes para contêineres e vai continuar assim.

Porto de Salvador: 2 guindastes para conteiners

A falta de  empenho e trabalho junto ao governo federal, faz com que a Bahia, mais uma vez, sofra com prejuízos gigantescos. O Governo Federal deu prioridade aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, o que resultará numa perda de R$ 750 milhões em investimento.

Pernambuco e Ceará possuem potencial industrial e de fluxo de comércio exterior inferior ao da Bahia, porém ambos apresentam oferta, infraestrutura e serviços portuários muito superiores aos nossos, o que acaba atraindo novos negócios.

A Bahia é a maior exportadora de manga do Brasil, mas a fruta é escoada pelo porto de Suape, em Pernambuco. A Bahia pode bater recordes de produção de grãos, mas uma parte escoa por Suape e outra pelo Maranhão.  Ou seja, a Bahia produz e outros Estados arrecadam.

Também de acordo com Paulo Villa, “Na Bahia, o déficit de contêineres e de graneis sólidos e líquidos é muito grande e com certeza tem sido o obstáculo para atração de novos negócios para o Estado. Existe um descompasso na nossa estrutura. Há seis anos temos um déficit nos contêineres e há dez anos nos graneis”.

A pecuária também perde pela falta de ação do governo do estado. O presidente da FAEB-Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia, João Martins, resume muito bem toda a situação: “Precisamos de uma política governamental para organizar o sistema produtivo de leite e estimular a instalação de novas usinas produtoras”. Mas a perda de investimentos em função da precariedade dos nossos portos não afeta apenas a agropecuária. Outros setores também sofrem por falta de ação do governo estadual.

Polo de Informática de Ilhéus: desligado

Por exemplo: cerca de 80% dos empresários que pretendiam investir no pólo de informática de Ilhéus, desistiram, preferindo optar por outros estados que costumam oferecer -além de portos modernos- terrenos com terraplanagem, iluminação, vias de acesso, etc.

Para complicar ainda mais a situação, o Aeroporto de Ilhéus foi classificado como o 2º mais perigoso do Brasil, tendo sofrido redução da extensão de sua pista e suspensão de vôos noturnos. O escoamento de qualquer produção industrial em Ilhéus só pode ser feito por rodovias, com o material percorrendo 500 quilômetros de estradas precárias até Salvador e encarecendo  o seguro da carga.

A cada dia que passa, a Bahia perde mais em investimentos, recursos e geração de empregos.

Esta é a verdadeira herança maldita, que está sendo montada pelo governo do estado, para nossos filhos, nossos netos, nosso futuro.

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