04 de novembro de 2024

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Festival de Inverno da Bahia: uma análise

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Desde 2005, que meados do mês de maio já é tempo de ecoar em Vitória da Conquista as especulações em torno dos artistas que se apresentarão no Festival de Inverno Bahia. Mesmo quem não costuma frequentar o evento anual entra nas conversas alheias, defende seu estilo musical preferido e acaba até gerando discussões nas redes sociais.

O Orkut, rede social mais utilizada no Brasil até 2012, foi palco de várias dessas conversas. A comunidade dedicada ao festival era o destino certo dos fãs do evento ávidos por novidades. No ano em que Carlinhos Brown fez parte do line up do evento (2009), os membros já previam que a inserção do axé ia ser uma constante a partir de então.

Apesar disso, a produção afirma que não houve mudança no perfil do festival. “O festival esteve sempre atento ao que há de melhor da música brasileira”, garante o coordenador de produção Gustavo Mendonça. O que pode ser trocado por “o que há de comercialmente mais viável” no mercado fonográfico brasileiro. O que vende mais e o que tem aparecido mais nos principais meios de comunicação do país são sempre as principais apostas nestes dez anos. Bom lembrar que a empresa que realiza o evento faz parte da Rede Bahia, que por sua vez é afiliada à Rede Globo. Isso explica a repetição de bandas como Capital Inicial, por exemplo, a qual mantém parceria com a emissora.

Para a produção, há um único fator que interfere na contratação e gera desconfortos: o aeroporto. “Pela altitude, muitas vezes não tem teto pra descer, o que acabava deixando a produção um pouco tensa na chegada dos artistas”, afirma Gustavo. Há ainda o tipo de artista que não embarca em aviões do porte que desembarcam por aqui, mas segundo o produtor são poucos os que possuem essa exigência.

Não podemos negar o esforço na contratação de alguns artistas de menor alcance midiático, como Mallu Magalhães (que acabava de despontar como revelação em programas globais), Cláudio Zolli, Plebe Rude e o projeto paralelo de Pitty, o Agridoce. Além disso, um bom trabalho foi feito nas primeiras edições em torno do que apelidou-se de Palco Alternativo.

Palco do Rock

Até 2008, o público contava com um espaço destinado à música eletrônica e ao cenário alternativo baiano. A Tenda Alternativa ficava logo em frente à entrada principal e recebeu nomes como Zéu Britto, Ladrões de Vinil, O Círculo, Excalibur e DJ’s da cidade, como os conhecidos Tony e Robertinho. Em 2011, o formato mudou, deixando de fora as bandas e apostando totalmente na música eletrônica.

Em 2013 o projeto retorna, mas separa as atrações eletrônicas das bandas de rock. O palco reservado para a apresentação dos grupos locais ficou escondido e o seu som abafado pelo da Tenda Eletrônica. O único momento em que se conseguiu uma razoável concentração de público no espaço, foi quando a banda conquistense Dona Iracema acionou seu setlist de covers fatais, como Raimundos e Mamonas Assassinas. Com o fim do show de Titãs e o momentâneo silêncio dos DJ’s de música eletrônica, foi possível chamar atenção de quem já voltava para casa.

Este ano, o Palco do Rock já aparece no mapa oficial do evento, apesar de figurar no mesmo espaço de 2013. Para Gustavo Mendonça, o palco mostra a preocupação do evento no investimento da cena local e este ano volta a trazer atrações de Salvador. Além das locais – Ladrões de Vinil, Excalibur (veteranas desde os tempos de Tenda Alternativa), Dona Iracema, Termobox e The Cadillacs, a soteropolitana Rubra fará sua primeira performance em Conquista.

O que há de novo?

A décima edição, apesar de não apresentar tantas novidades, reserva momentos históricos para a cidade. Um deles será o show de Gilberto Gil, pelo simples fato de que desde a década de 80 ele não se apresenta na terra que o seu pai escolheu viver . “Certamente, é um presente que estamos dando, merecidamente, para Conquista”, afirma Mendonça.

Outra surpresa é a primeira transmissão ao vivo do canal Multishow de um festival do interior da Bahia. As expectativas são altas em torno disso, já que o canal se estabeleceu como o mais profissional a oferecer este tipo de programação ao público. Certamente, a visibilidade da cidade e do evento irão multiplicar. A apresentadora gaúcha Titi Muller não é a melhor prata da casa, mas parece ser a escolhida para desembarcar em terras conquistenses.

As mudanças não são só percebidas no que antes funcionava melhor comercialmente, mas também no valor dos ingresso. Em 2009 a meia entrada para os três dias custava R$ 64,00 segundo o release da quinta edição da festa. Este ano, o mesmo tipo de entrada está custando R$ 104,00.

Turismo

O alto valor do ingresso dificulta o entendimento sobre o investimento da Bahiatursa, empresa vinculada à Secretaria de Turismo do estado da Bahia no festival privado. Em 2012 e 2013, a empresa montou estandes com exposições fotográficas dos destinos mais procurados da Bahia, como o litoral e a Chapada Diamantina. Em uma busca no site do Bahiatursa, observamos uma tentativa em chamar atenção para pontos de Vitória da Conquista.

Cristo de Mário Cravo, Casa Régis Pacheco e Praça Tancredo Neves: geridos pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, os pontos citados em matéria, também no site da Bahiatursa, pouco obtiveram algum investimento do estado nos últimos dez anos. Sobre a hotelaria não há como negar que os três dias movimentam o setor, pois o período é atualmente o único em que o número de quartos disponíveis se esgota.

Sim, o Festival de Inverno Bahia é um evento de grande porte que movimenta a economia local. No entanto, há de se ter um cuidado ao reproduzir certas “verdades”. Um dos seus principais motes, usados desde a sua criação é a de que é o maior festival de música do interior do nordeste. A afirmação é falsa, só para citar um exemplo o Festival de Inverno de Garanhuns, que em 2014 completou 23 anos, acontece durante 10 dias no interior de Pernambuco, levando aos diversos pontos da cidade atrações dos mais variados estilos musicais.

por Rafael Flores – Revista Gambiarra