Ficar sem combustível na rua gera multa e pontos na carteira

 

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Foto: Romildo de Jesus
Os policiais militares com problemas de saúde podem ser afastados da atividade operacional e cumprir expediente administrativo

Estresse diário, risco de morte, desgastes físico e mental, responsabilidade de representar o estado, preservar a ordem pública e combater a violência, cobrança da sociedade, entre outros fatores, fazem da atividade policial ser uma das profissões mais estressantes.

Alguns estudos revelam que dentre as 149 profissões estudadas apenas 10 excediam a Policial em doenças do coração, diabetes, insônia, suicídio e outras relacionadas com o estresse.

Na Bahia, conforme  a Polícia Militar, houve, no ano de 2010, um total de 102 policiais militares diagnosticados com problemas de doença mental. Em 2013 foram registrados 62 PMs com o mesmo diagnóstico.

Segundo a corporação, “os policiais militares com problemas de saúde podem ser afastados da atividade operacional e cumprir expediente administrativo ou, a depender da situação, de qualquer tipo de serviço da corporação (administrativo ou operacional)”, explica. A Polícia Militar, no entanto, não possui o quantitativo de policiais afastados do serviço.

Conforme o departamento de comunicação do órgão, os afastamentos são controlados individualmente por cada unidade da Corporação. Existem cerca de 30 mil policiais militares na Bahia e dez mil deles atuam na capital.

O capitão da PM, Eder Cruz, explica que a rotina do policial implica no risco de morte, além da cobrança sofrida para o cumprimento do dever. “Um PM que atua na operacionalidade diariamente sofre as pressões de uma atividade que não permite erros, pois qualquer falha pode significar a perda da vida de um cidadão ou sua própria vida. Atrelado a isso, ainda existem as cobranças quanto ao cumprimento dos deveres de um agente público, como, por exemplo, trato urbano com a comunidade, boa apresentação pessoal, bem como a necessidade de conhecimento sobre regras de trânsito, primeiros socorros e outras competências muitas vezes pouco trabalhadas no curso de formação ou até mesmo não desenvolvidas”, disse.

Para ele, a sociedade cobra muito da polícia, pois entende que o policial recebe uma formação plena e capaz de desenvolver todas as competências necessárias para o desempenho do seu papel, contudo, essa não é realidade do nosso estado. “A corporação até possui bons projetos de formação e capacitação, mas esbarra nas dificuldades da estrutura do Estado no que diz respeito a aumento do efetivo e melhoria nas condições de trabalho, de formação e capacitação”, ressalta.

Ele descreve a sensação de conviver diariamente combatendo a violência. “Ser policial militar é um sacerdócio. Nós abdicamos de frequentar certos lugares, de adotar algumas posturas em respeito a corporação que representamos e aos cidadãos que merecem a melhor polícia militar trabalhando para servir e proteger”, afirma o capitão Cruz.

De acordo com o psiquiatra André Gordilho, o risco que esses profissionais oferecem, se não tiver o tratamento adequado, se agrava pelo fato deles portarem arma de fogo. “A atividade policial é de extremo estresse, principalmente quem trabalha na rua, em blitz ou abordagem. O Policial Militar é um ser humano como outro qualquer e por isso está sujeito ao mesmo problema que outro cidadão. A diferença é que ele usa arma de fogo, sendo assim há uma necessidade de um cuidado maior, pois se ele está com problemas psicológicos o risco pode ser maior”, disse.

Ele explica que existem as patologias transitórias e crônicas e ambas podem ser tratadas, em que os indivíduos podem continuar exercendo a atividade profissional.

“Algumas patologias são transitórias e portador se trata e volta a atividade normal. Outras são crônicas. As crônicas, no entanto, não tiram a capacidade de julgamento, de critica da pessoa. O portador deve manter um acompanhamento periódico. Mas há casos e caso, não é prudente, por exemplo, permitir um policial que sofre de transtorno bipolar ou esquizofrenia, continue trabalhando com arma de fogo. Seria mais prudente colocá-lo para realizar uma atividade administrativa, pois ele pode apresentar crise, oferecendo assim um risco a sociedade”, explica Gordilho.

A Polícia Militar da Bahia possui um serviço  intitulado SEVAP (Serviço de Valorização Profissional) que presta atendimento de recuperação, readaptação, desenvolvimento, acompanhamento psicológico e sócio-funcional do policial militar.

O SEVAP dá apoio aos policiais militares que sofrem com problemas como alcoolismo, vício em outras drogas e distúrbios psicológicos ou psiquiátricos dos mais diversos que na maioria das vezes são desenvolvidos por conta do estresse na profissão.