O pré-candidato do PMDB ao governo da Bahia, Geddel Vieira Lima, fala sobre o rompimento da aliança do PMDB com o PT baiano, sobre o caos na segurança pública e na saúde e apresenta soluções para os problemas que afligem os baianos.
Leia a entrevista na íntegra:
Pergunta – Como o senhor viu as declarações do governador Jaques Wagner (PT) de que a sua intenção seria dominar PSDB e DEM na Bahia?
Geddel – Essa foi a entrevista de um nefelibata. Ou de alguém que quer reescrever a história. Quem se aproximou do PSDB pensando em dominar, oferecendo a presidência da Assembleia (Legislativa), apoiando o candidato do PSDB à prefeitura de Salvador foi ele, não fomos nós. E no segundo turno das eleições de Salvador, quando ele abandonou a administração do PMDB, para lançar uma candidatura própria, contrariamente ao que tinha acordado conosco, foi ele. Eu vejo estas declarações como surpresa. Aliás, surpresa não. Como marco do jeito Wagner de fazer política. Quando ele se acha no direito de poder conversar com todo mundo, de somar, de aglutinar, sempre tem um interesse nobre por trás. Quando são os outros, sempre encontra de uma forma gentil de insinuar que há algo de estranho nas alianças. Eu continuo preferindo a opinião do Wagner que dizia que nossa participação foi fundamental para ele, que nós fomos muito importantes, que durante tanto tempo rasgou tantos elogios à minha pessoa. Eu guardo mais essa imagem.
Pergunta- Agora, deputado estas declarações do governador torna ainda mais difícil qualquer possibilidade de reconciliação com o PT após as eleições?
Geddel – No meu pensamento não há reconciliação. Eu vou vencer as eleições. O PT da Bahia vai ser oposição ao nosso futuro governo.
Pergunta- Ele também comentou que desde 2008 o PMDB já demonstrava…
Geddel – Volto a lhe dizer. Ele quer reescrecer a história. Eles renegociaram, eles têm um termo próprio deles, eles fizeram uma repactuação com a admnistração do PMDB, do prefeito João Henrique, em 2007 e fizeram mais dois secretários além dos dois que tinham. Para depois, em abril (de 2008) lançar um candidato próprio. Apoiar a candidatura do PSDB (em Salvador), fazer todo tipo de aliança pelo interior, o que lhe aparecesse na frente. E vim dizer que nós, desde 2008, tínhamos projeto diferente? Nosso projeto surgiu quando percebemos que os sonhos que sonhamos em 2006 não se realizavam, nem política e muito menos administrativamente. O governo, infelizmente, é um fracasso.
Pergunta – O que deu errado nesse caminhar de PMDB e PT de 2006 para cá?
Geddel – Já lhe disse. Em 2008, essa posição deles nas eleições municipais e depois a questão administrativa. Os números que o Wagner coloca em relação à segurança pública é que o transformam num nefelibata. É por isso que as pessoas dizem e cantam em cada lugar da Bahia que querem morar na propaganda do governo. Porque o que se anuncia é que a Bahia é responsável hoje por 10% dos homicídios dolosos do Brasil, o que se mostra é que se rouba um carro por hora em Salvador e na Região Metropolitana. Inclusive o carro blindado do governador. Se mostra que em cidades como Feira de Santana e Vitória da Conquista está se matando uma pessoa por dia. Todos os indicadores da segurança aumentaram, portanto é um governo que perdeu o controle sobre setores importantes da administração. Na saúde pública, as imagens que mostram gente morrendo de meningite, dengue descontrolada. Tudo absolutamente equivocado. O governador coloca entre as suas obras a entrega de um hospital que demorou 20 anos para ser realizado. Nós, como deputados, inclusive, trouxemos emendas. O que o governo federal conclui agora, ele incorpora como se fosse obra dele. Esta semana, num hospital que ele disse que entregou, morreu uma senhora com traumatismo craniano, na recepção, porque não foi atendida.
Pergunta – No hospital de Santo Antônio de Jesus?
Geddel – Sim, no hospital de Santo Antônio de Jesus. Até a concessão da Bahia-Feira, da BR 116, eles tentam passar para a sociedade como se fosse obras deles. São do presidente Lula, do governo federal. Não há sequer parceria nisso. Aquele conjunto de viadutos na Rótura do Abacaxi (em Salvador) é obra do governo federal. O governo do estado entra apenas com contrapartida. Aquela rotatória do Aeroporto Dois de Julho (hoje já é Luís Eduardo Magalhaes), é governo federal. O governo (do estado) entra apenas com contrapartida legal. Repito. Eu li a entrevista de um nefelibato.
Pergunta- O governador negou o caos na segurança pública. Como o senhor vê a declaração?
Geddel – Eu acabei de lhe dar números confiáveis que mostram que há, sim, caos. O que o governo Wagner tem tentado fazer é repetir uma velha tática: alugar carros de polícia para dar a prefeitos na tentativa de cooptá-los politicamente. Prefeito não recebe carro de polícia. Carros de polícias são entregues às polícias Militar e Civil para fazer o seu trabalho. O que você tem hoje, sim, são prefeituras pobres assumindo um papel que deveria ser do estado, colocando gasolina em carros de polícia. As prefeituras mantêm presos em delegacias, dão o alimento dos presos. As prefeituras terminam responsáveis por remunerar policiais para que eles possam fazer seu trabalho. Não é só um caos. É um absoluto e preocupante caos. O que está acontecendo na segurança e em outras áreas da administração do Estado.
Pergunta- O governador afirmou que ninguém teria uma vara de condão. Qual seria a solução?
Geddel – Não é preciso vara de condão. Tem que ter atitude diferenciada, iniciativas. O que não vai acontecer nesta campanha é o que Wagner quer. Ele fica jogando tudo para a comparação. Ele gostaria que o debate fosse entre um governo que não fez com um governo que não faz. Não. Nós vamos mostrar que é possível fazer e que tem como fazer. Que tem soluções, propostas e projetos. E que tem atitudes diferentes da letargia e da leniência com que o atual governo da Bahia está tratando questões administrativas.
Pergunta- E sobre a vantagem que o governador diz ter sobre a sua candidatura, que seria de quatro vezes a mais?
Geddel – O governador, realmente, tem um discurso para cada circunstância, de acordo com sua conveniência. Há alguns anos, quando ele veio para a Bahia com uma candidatura que era considerada uma piada, ele desqualificava a pesquisa e dizia que isso não tinha importância nenhuma. Talvez porque o candidato de então, o Paulo Souto (DEM), tivesse seis ou sete vezes mais intenção de votos do que ele. Agora, que é interessante para ele, ele quer comparar o conhecimento de um candidato que nunca disputou uma eleição majoritária com ele, que já perdeu duas, é o atual governante, e que gasta R$ 500 mil por dia com propaganda na televisão. Vamos aguardar a manifestação da população. Eu tenho absoluta certeza que há um claro descontentamento com um governo que prometeu muito e que administrativamente muito pouco tem realizado.
entrevista conceditda ao Portal Terra, em de maio 2010
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