Com a saída do PMDB da base da presidente Dilma Rousseff (PT), aprovada por aclamação na reunião do diretório nacional na semana passada, o governo corre contra o tempo para tentar garantir 172 votos a seu favor na Câmara dos Deputados – que tem 513 parlamentares – e impedir que o processo de impeachment tenha prosseguimento no Congresso.
A votação está prevista para ocorrer entre os dias 14 e 17 de abril. Até lá, o Planalto se mobiliza para “repactuar o governo” da presidente Dilma e, junto com os partidos aliados, mobilizar a militância, intelectuais e os movimentos sociais – como CUT, MST e UNE – contra o que classificam de golpe à democracia.
O PT já tem programado uma agenda de manifestações contra o impeachment quase que diárias em várias cidades do País. Alguns desses atos terão a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o que ocorreu ontem em Fortaleza (CE) reunindo governadores, ministros e parlamentares do Nordeste (veja na página A7).
Estrela maior do PT e aposta de Dilma para tirar o governo da grave crise política e econômica, Lula amplificou a crise ao ter sua posse na Casa Civil suspensa judicialmente e pelo teor das conversas interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
Mas a tarefa mais urgente será a de recompor a base política do governo antes da votação do impeachment, como acredita o ministro Jaques Wagner, chefe do gabinete pessoal da presidente.
O petista trabalha para evitar o “efeito manada” – a debandada de outras siglas da base no rastro do PMDB, como PP e PRB. Mas o trabalho de cooptação não tem sido fácil. O PSD, por exemplo, liberou os 31 deputados para votar como quiserem no processo do impeachment.
O PP adiou, por ora, a decisão sobre a saída da base. E até partidos menores, como PTdoB, PTN e PSL, não deram sinais, até agora, de que vão ser seduzidos pelo governo.
Esta semana será, portanto, de intensa negociação entre o Planalto e dirigentes partidários. O governo tem para barganhar, em troca de apoio na comissão especial do impeachment, as vagas que eram do PMDB: sete ministérios e 600 cargos em estatais e no segundo e terceiro escalões.
O ministro Jaques Wagner está confiante. Ao A TARDE, ele disse que o rompimento do PMDB com o governo abriu “importantes espaços políticos” para montar uma nova base de sustentação. “Nada a ver com compra de votos. Trata-se de ocupar os espaços vazios”, afirmou.
“Vamos conversar sobre uma nova agenda política, uma agenda do governo, e também conquistar votos no Congresso Nacional”, aposta o ministro, sem revelar com quem tem conversado.
Wagner interpretou a saída do PMDB do governo como coisas da política. “A gente trabalha para manter uma aliança, a aliança não pôde ser mantida. E a nível nacional também foi o PMDB que rompeu”, pontuou o ministro.
O governador Rui Costa (PT) lembrou, na semana passada, que o PMDB, que agora rompe com a presidente Dilma, também procedeu da mesma forma quando Wagner era governador da Bahia.
“O PMDB ficou (em 2009) naquela situação de vai sair, não vai. Quando saiu, o governo melhorou bastante. Espero que aconteça a mesma coisa”, afirmou Rui.
Quanto ao impeachment, o ministro disse não ver argumento legal na ação. “As contas de 2015 da presidenta Dilma sequer foram apresentadas, menos ainda votadas e julgadas”.
Farra de cargos
Secretário-geral do PMDB e presidente do partido na Bahia, Geddel Vieira Lima não vê muito futuro no movimento de cooptação política por parte do governo, nem na tentativa de segurar ministros do PMDB com o intuito de dividir o partido em relação ao impeachment.
“A decisão do diretório é clara (quem tem cargo terá de entregar) e no momento que o partido achar conveniente tomará as medidas estatutárias previstas”, avisou Geddel, que já pediu a expulsão da ministra da Agricultura, Kátia Abreu – amiga de Dilma que quer ficar no cargo.
Em 2009, quando era ministro da Integração Nacional, Geddel decidiu disputar o governo da Bahia e rompeu a aliança de três anos que mantinha com então governador Jaques Wagner.
Para o peemedebista, a gestão Dilma está tão desgastada que ocupar cargo no governo é ônus político. A tendência, afirma ele, é que outras legendas sigam o PMDB e apoiem o impeachment. “Não tenho dúvida. A pressão nas ruas vai levar outros partidos a romper com o governo”, prevê ele.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (PSDB), classificou de “farra” a distribuição de cargos para tentar barrar o impeachment, mas avalia que a investida não trará resultado prático.
“Collor adotou esse mesmo modelo e não escapou de ser destituído” , lembrou o tucano. Ele diz que, uma vez aceito na comissão especial, o impeachment já tem voto da oposição suficiente para ser aprovada no plenário da Câmara. É preciso dois terços (maioria absoluta) da Casa.
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