Para o bem recebido, provenha este de nossos semelhantes, de animais ou de coisas que rodearam ou rodeiam nossa existência, devemos guardar uma consciente gratidão. Com ela conseguiremos destruir a falsa gratidão, aquela que é tão comum e se limita a uma palavra ou uma frase expressada com maior ou menor ênfase. A gratidão consciente não necessita de expressões externas e contribui para fazer ditosa a existência, porque mediante ela se acaricia intimamente a recordação, identificando-a com a vida.
Deter por um instante, pois, o pensamento naqueles que nos proporcionaram um bem é render-lhes uma justa homenagem, da qual a alma jamais se arrepende, especialmente porque nesses instantes a própria vida parece adquirir outro conteúdo, e o ser, como se uma força titânica, sublime e cheia de ternura o impulsionasse, sente-se disposto a ser mais bondoso e melhor. Por acaso, na circunstância de tributar essa homenagem de gratidão, não se experimenta uma nova ventura, ao sentir que o fato revivido forma parte da própria vida? Totalmente contrário é o que acontece com os que, seguindo outra conduta, desprezam aquele ou aqueles que lhe fizeram um bem, sem perceberem que com isso vão mutilando suas existências, ao truncarem tenros brotos que poderiam mais tarde se transformar em ramalhetes de flores.
A gratidão, como sentimento de imponderável valor, parece ser um dos tantos segredos que o ser humano deve descobrir, para extrair dele esse bem que geralmente se busca ali onde não está e que, encontrado, se desvaloriza e se esquece.
Trechos extraídos de artigo da Coletânea da Revista Logosofia, tomo 2, p. 229
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