por Diego Amorim
A inflação tem sufocado tanto o custo de vida dos mais pobres que nem o Bolsa Família anda salvando as contas do mês. Apesar de o benefício do governo federal ter sido reajustado em ritmo mais acelerado do que o da própria carestia nos últimos anos, a atual conjuntura econômica embaraçou de vez o orçamento das famílias de baixa renda. Estrangulada pela alta dos preços e dos juros, a ajuda criada para garantir o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde não consegue assegurar itens básicos da cesta de consumo, como ocorria em um passado recente.
Na última sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou, em fevereiro, aumento de 7,7% em 12 meses, maior patamar desde maio de 2005. O indicador serve como parâmetro, mas não reflete o impacto real da inflação nas camadas mais pobres da população, sempre mais castigadas do que mostra a média registrada oficialmente. Os reajustes dos preços administrados, por exemplo, como os das faturas de água e luz, pesam mais sobre os lares com menor renda.
Os gastos com alimentação ilustram bem a discrepância entre os prejuízos da inflação na população pobre e nas classes média e alta. O Índice de Custo de Vida (ICV), calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indica que as despesas em supermercados, bares e restaurantes representam 40% da cesta mensal das famílias de baixa renda, enquanto nas de faixa superior esse peso é de 26%.
A Estrutural, uma invasão que virou cidade a menos de 20km da Praça dos Três Poderes, reúne número significativo de beneficiados do Bolsa Família no Distrito Federal, onde o valor médio pago atualmente é de R$ 143,38. No mês passado, 86.440 famílias que vivem ao redor da capital do país receberam essa ajuda do governo. Somente em 2014, foram pagos R$ 147,6 milhões desse benefício no DF, montante 27% maior que o total investido dois anos atrás, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Estrutural
Em um das dezenas de barracos erguidos lado a lado na quadra 17 da Estrutural, mora Vivaldina Rosa Teixeira , 49 anos, e os três filhos que garantem a ela o direito ao Bolsa Família. Há quase 10 anos, quando a dona de casa se cadastrou no programa, pingavam no banco todo mês R$ 180. Hoje, são quase R$ 400, mais do que o dobro, mas Vivaldina tem saudade do tempo em que começou a receber o benefício. “O que eu ganhava naquela época valia muito mais do que ganho agora”, reclama.
Há seis meses, Maria Alice perdeu o emprego de auxiliar de cozinha. Foi mandada embora porque o restaurante fechou as portas. Desde então, tem tido dificuldade para encontrar outra ocupação. “Antes, era mais fácil conseguir uma oportunidade e tudo estava mais barato”, lembra ela. Assustada com os preços no supermercado, a beneficiada diz que a situação só não está pior porque tem sido contemplada com doações de cestas básicas na igreja. “Vejo na televisão quem tem dinheiro reclamando de inflação. Imaginem nós aqui”, pontua.
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