Jogadores da seleção brasileira apoiam time sem Ronaldinho da Folha de S.Paulo, em Londres

Dunga

PAULO COBOS

Dunga não quer Ronaldinho, mas não é só ele que pensa dessa forma na seleção brasileira, que hoje, às 17h05, faz contra a Irlanda, em Londres, o último amistoso antes da convocação para a Copa de 2010.

Publicamente, os jogadores do time nacional elogiam o futebol do jogador do Milan e transferem para Dunga a responsabilidade de chamá-lo ou não para o Mundial da África.

“Ele precisa continuar a fazer o seu trabalho no clube”, sintetiza Gilberto Silva, um dos mais veteranos da equipe. Mas, de forma privada, os atletas consideram que chamar Ronaldinho seria ruim para o grupo.

Isso porque excluiria do Mundial um jogador que “ralou” durante anos sob o comando de Dunga para dar lugar a alguém que deixou a seleção em segundo plano e, só agora, a poucos meses da Copa, mostra interesse. Na opinião dos atletas, isso não seria justo.

Raciocínio idêntico ao do treinador, que citou publicamente Júlio Baptista, que joga na mesma posição de Ronaldinho, como exemplo de atleta que pelo desempenho com ele não pode ser descartado agora, restando dois meses para a convocação dos 23 que vão à África do Sul.

Entre os jogadores, não existe restrições de cunho pessoal a Ronaldinho. Mas existe o temor no comando da seleção de que ele possa atrair os mais novos às baladas –o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, já apontou o excesso de festas como um dos motivos para o fracasso na Alemanha-06, justamente quando começou a decadência técnica do meia-atacante.

Por reiteradas vezes, Dunga deu sinais de que seus preferidos têm opiniões parecidas com as dele. “Esse grupo só aceita quem se entrega totalmente”, disse no ano passado, demonstrando que estava com o grupo fechado –suas únicas dúvidas estão na lateral esquerda, onde ninguém se firmou desde que ele estreou, em agosto de 2006, em Oslo, num amistoso contra a Noruega (1 a 1).

Ontem, ele foi ainda mais explícito e deixou claro que não conta com Ronaldinho para o Mundial sul-africano.

“Quem trabalhou nesses três anos e meio comigo e deu resultado pode ficar tranquilo”, afirmou o treinador, que ao responder sobre as chances de Ronaldinho fez uma enfática defesa de seus convocados.

“Vocês [imprensa] falam em comprometimento, em vontade de jogar na seleção. Mas não é só isso que esse grupo tem. Eles deram resultado, ganharam jogos, títulos”, afirmou Dunga, que disse que se a Copa fosse hoje, o grupo que está em Londres é o que iria à África.

Depois do jogo contra os irlandeses, a seleção só volta a se reunir em maio. A CBF diz que a programação do time antes da Copa não está pronta, mas que a tendência é que a equipe vá diretamente de Curitiba, onde está prevista uma semana de testes físicos, para a África, sem uma passagem por um terceiro país, como era o plano no final do ano passado.

Boca fechada

A entrevista após o jogo de hoje será a última que Dunga vai conceder antes da convocação à Copa. “Só falo agora em maio”, prometeu. “Eu sou o antimarketing. O meu marketing é o resultado [em campo]”. Antes de se calar por dois meses, Dunga foi mais uma vez polêmico. Sem citar quais, diz que existem interesses na pressão pela convocação de alguns jogadores e voltou a dizer que na estadia do time na África do Sul exige privacidade total. “São 60 dias em que a cabeça dos jogadores deve estar apenas na seleção.”

BRASIL
Júlio César; Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Gilberto Silva, Felipe Melo, Ramires (Elano) e Kaká; Robinho e Adriano. Técnico: Dunga.

IRLANDA
Given; Kelly, McShane, St. Ledger e Kilbane; Lawrence, Whelan, Andrews e Duff; Best e Doyle. Técnico: Giovanni Trapattoni

Local: Emirates Stadium, em Londres
Horário: 17h05