Milhares de manifestantes foram às ruas em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de outras cidades, neste domingo (4) para protestar contra a destituição de Dilma Rousseff, para pedir a saída de Michel Temer da Presidência da República, assumida na última quarta-feira (31), após aprovação do impeachment pelo Senado, e para pedir a realização de novas eleições presidenciais neste ano.
Em São Paulo, as Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que convocaram o ato, mudaram o horário em acordo com a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual. Havia temor de confusão durante a passagem da tocha paralímpica pela Avenida Paulista. Por isso, os protestos foram adiados para o final da tarde, enquanto o evento de passagem da tocha ocorreu por volta das 13h.
Na última quinta-feira (1º), a SSP anunciou a proibição de protestos na Avenida Paulista. A secretaria justificou o bloqueio da área “diante de ocorrência de protestos violentos, com atos de vandalismo, ocorridos ontem (quarta-feira, dia em que o impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado no Senado Federal e Michel Temer tomou posse do cargo de Presidente da República).
Os organizadores do ato protestaram: “Não entendemos que caiba à Secretaria de Segurança ou à Polícia ‘permitir’ ou não uma manifestação popular. A Constituição nos assegura este direito. De toda forma, não é de nosso interesse prejudicar a passagem da tocha paraolímpica. Por essa razão, buscamos a informação exata do horário de passagem da tocha na Avenida Paulista, que será das 13:00 as 14:10. Neste sentido, visando garantir tanto a passagem da tocha quanto a manifestação programada, passaremos o horário da concentração para as 15:00 horas. Esta é uma decisão razoável que busca conciliar os dois eventos e evitar conflitos”, informaram as frentes.
No Rio de Janeiro, centenas de pessoas se reuniram em frente ao Hotel Copacabana Palace, na Praia de Copacabana, no final da manhã deste domingo (4), e caminharam até o local onde funcionou a casa de shows Canecão, em Botafogo. O prédio abriga atualmente os ativistas do movimento #OcupaMinc, desde que o então governo interino de Temer decidiu extinguir o Ministério da Cultura e fundi-lo à pasta da Educação. Outras manifestações populares estão marcadas em várias cidades do país.
Victor Guimarães, representante do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), disse que cresce nas ruas o movimento de resistência, apesar do boicote da mídia. Guimarães acredita que as pessoas estão atentas a retrocessos nas politicas públicas e direitos sociais. Como exemplo, cita a reforma trabalhista, em discussão no governo e o corte no Programa Minha Casa, Minha Vida.
“Na primeira semana de interinidade já suspenderam com uma canetada a contratação de dez mil moradias nos país”, afirmou. “Dez mil famílias inteiras tiveram o sonho da moradia interrompido por uma canetada. Até hoje, não chamaram a gente para negociar, eles não conversam”, afirmou, referindo-se à linha do programa que repassava recursos para organizações sociais construírem os prédios e que foi suspensa.
Segundo o representante MTST, o governo anunciou que voltaria atrás, mas não desbloqueou ainda os recursos de menos de 2% do programa nessa modalidade e que não passava pelas mãos de grandes construtoras.
Teresinha Martins Sobral, de 83 anos, aposentada, afirmou olhar com desconfiança para o novo governo. “Um governo que chegou aonde está por cima do voto popular não é legítimo”, disse. Ela acompanha a situação política do país e diz que é a mais grave pela qual já passou.
“Já vi tantas coisas, mas de toda minha jornada de vida, isso é pior. As perdas diante do que tínhamos conquistado, de direito, minha sobrinha agora mesmo estava me falando do corte de verbas nas universidades, ou seja, é um golpe sobre as conquistas recentes.”
Para ela, as pessoas têm mais consciência agora do que em 1964, quando os militares chegaram à presidência à força. Por isso, participam de protestos. “A manifestação é pacífica, por direitos, o brasileiro tem que se manifestar contra o golpe”, afirmou Teresinha.
Também aposentada, a professora universitária, na faixa dos 60 anos, Beti Rabeti, identifica sinais de machismo no processo que tirou Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, pelo Congresso, em um processo cuja legalidade é questionada por setores da sociedade.
“Há uma dimensão machista, até misógina, no fato de termos a primeira mulher presidenta afastada”, afirmou. Ela não acredita em reversão, mas avalia que a resistência vai existir. ” A luta politica nunca foi e nem nunca será fácil. A esquerda hoje é mais necessária que nunca. A luta é contínua”, disse.
A Policia Militar não faz estimativa de público em manifestações no Rio. Os organizadores da Frente Brasil Popular não passaram o número de participantes.
A assessoria do Planalto disse que, até o momento, não há previsão de o Palácio do Planalto se pronunciar sobre as manifestações contra o governo do presidente Michel Temer.
Na China, Temer disse que as manifestações que vem ocorrendo não representam a vontade da maioria. “Quem muitas vezes se insurge como um ou outro movimentozinho, é sempre um grupo muito pequeno de pessoas. Não são aqueles que acompanham a maioria dos brasileiros”, disse Temer, no último dia 2, a jornalistas que o acompanham na viagem.
Fonte: Jornal do Brasil
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