Crack: vítimas transformadas em vilôes
Quem é criminoso e quem é vítima?
Isto porque até hoje não entra na minha cabeça este número nem a afirmativa de que “o crack é a principal causa da violência na Bahia.”
O que encontrei na minha pesquisa foi que a grande maioria dos estudiosos da questão das drogas, concorda que o seu uso é a conseqüência de uma violência muito maior e não uma causa de crescimento da curva da violência. As razões do aumento no uso do crack e suas conseqüências encontram-se, em grande parte, sob a responsabilidade de um poder público ausente.
Os jovens das periferias das grandes cidades vivem uma realidade sem sentido e sem perspectivas. Se algum de vocês já entrou numa favela, sabe do que estou falando. A “viagem” em direção às drogas é conseqüência direta de uma sociedade construída de forma excludente, discriminadora e consumista, agravada pela falta de políticas públicas destinadas a oferecer oportunidades e perspectivas para os milhares de jovens de nossas grandes cidades.
Se o poder público insiste em afirmar que o crack é “a principal causa da violência”, para tristeza de todos nós, o cenário de violência irá se agravar ainda mais.
A sociedade, convencida de que todo jovem negro é um viciado ou um traficante, aumentará a discriminação ao mesmo tempo em que aumentará também seus gastos com cercas elétricas, sistemas de alarmes, segurança privada, blindagem de carros e por fim, irá trancafiar-se em suas casas com medo e raiva das vítimas do sistema, acreditando que eles são realmente criminosos “natos”.
Assim o poder público estadual justifica a sua ineficiência e os seus gastos com propaganda. É preciso que se desenvolvam projetos inclusivos, que se dê aos jovens das periferias, condições dignas de vida, de estudo e posteriormente de acesso ao mercado de trabalho. Este é o único caminho para impedir que um jovem pobre, viciado, passe os seus dias fumando pedras de crak e gerando toda uma logística da violência, que vai do traficante às vítimas de seus roubos para conseguir o dinheiro do crack.
Esse desmoronamento moral começa dentro da própria família e se estende pela rua, pelo bairro e finalmente pela cidade. Antes de responsabilizar os jovens viciados em crack pelos índices alarmantes de homicídios na Bahia, não encontrados em nenhum outro lugar do Brasil, o governo estadual precisa ter em mente que precisar dar à juventude oportunidade para estudar, praticar esportes, freqüentar oficinas de arte, ter acesso a cursos profissionalizantes, para enxergar à sua frente alternativas outras além da droga como escolha para o seu cotidiano.
Algumas comunidades de bairro vêm fazendo isso por iniciativa e recursos próprios, com excelentes resultados, como as escolas do Olodum e do Ylê. É muito fácil pegar para responsável por um crime alguém que na verdade é a vítima de uma crime muito maior: a indiferença.
Agradeço boa parte destes conceitos à leitura de trabalhos do Dr. Gerivaldo Neiva, Juiz de Direito da Comarca de Conceição do Coité – Ba.
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