Moção de pesar – MAIS UM AMIGO COMPANHEIRO QUE SE VAI

 

Terminou ontem pela manhã, quinta-feira, dia 22 de março, o longo ou curto caminho de 80 anos do amigo e companheiro jornalista Sérgio Fonseca que se foi. Lá no além, não se sabe onde, deve estar entre intelectuais distribuindo conhecimento e sabedoria, e falan

do alemão, inglês, italiano, francês, espanhol e até russo para gringos presunçosos que se acham superiores.

Conheci o Sérgio pela primeira vez entre março e abril de 1991 quando vim para Vitória da Conquista substituí-lo na chefia da Sucursal do Jornal A Tarde. Foi logo me passando as primeiras instruções de gerenciamento administrativo e jornalístico do andamento da Sucursal. Como dever de casa, um teste de como calcular espaços e preços de publicidade para o veículo.

Naquela época estava

deixando Conquista, depois de muitos anos aqui, para comandar a Sucursal de Barreiras. Lembro que estava entusiasmado com a região do cerrado pelo seu potencial de nova fronteira agrícola e por possuir muitos rios e água em abundância. De lá para cá, houve muita exploração desordenada pelo homem, mas isto não é o caso.

Por mudanças na política empresarial da empresa, de lá o jornalista destemido e desafiador (fez curso nos Estados Unidos e andou por outros cantos do Brasil), foi trabalhar em São Paulo. Passou por Eunápolis, na Bahia, e resolveu, em definitivo, viver o seu resto de tempo em Conquista, segundo ele próprio, por ser uma terra boa e de clima agradável.

Foi um grande prazer e honra conviver com ele por perto nestes dez últimos anos de vida. Com sua concepção filosófica de bem viver de forma harmoniosa, ponderada e equilibrada, de uma memória fantástica, nas rodas entre amigos nos bares (alô Ricardo, Ricardinho, Luciano, Gonzalez e outros), sua opinião era sempre escutada e acatada por todos.

Observava os argumentos acirrados e dava sua cartada final, acompanhada de citações de grandes pensadores, poetas, escritores e filósofos. Assim procedia nos nossos saraus aqui no nosso Espaço Cultural A Estrada. Sempre fazia questão da sua presença, e algumas vezes não comparecia por causa de alguns problemas de saúde e pela sua idade já avançada. Mesmo assim, ligava no outro dia procurando saber como foi o bate-papo e a “confusão”.

Quando aparecia, aturava-nos por pouco tempo nas noitadas, por razões que já citei, mas deixava nos encontros seu recado certeiro e sensato, sem alterações e quase nada para contestar. Era um leitor voraz e me deu muitas dicas de livros. Foi revisor da minha última obra “Uma Conquista Cassada – Cerco e Fuzil na Cidade do Frio” e sempre me perguntava rindo quando eu ia parar de ler tanto sobre a ditadura civil-militar de 1964. Por último me brindou fazendo o prefácio para meu livro “Andanças” que estou tentando a duras penas publicá-lo.

Como jornalista e chefe da Sucursal A Tarde prestou grandes serviços para Conquista e região. Fica conosco um grande cabedal cultural, intelectual e rico em bondade, seriedade, ética e visão que tinha do mundo, da política nacional e do comportamento humano. Falei com ele na última terça-feira e estávamos planejando um encontro aqui em casa para trocarmos ideias com os amigos e companheiros.Por Jeremias Macario

 

Um jornalista desbravador

 

Carlos Albán González – jornalista

 

Aproveito o espaço reservado pelo amigo e colega Jeremias Macário para prestar uma homenagem a um companheiro do jornal “A Tarde”. Numa espécie de minibiografia Jeremias revelou para mim uma fase de conhecimentos e realizações de Sérgio Fonseca, que nos deixou nesta quinta-feira, aos 80 anos. Vivenciamos o mesmo período de grandeza do maior veículo de comunicação do Norte e Nordeste do país, o que nos deixava orgulhosos.

 

Pessoalmente, não nos conhecíamos. Mais de 500 quilômetros separavam nossas mesas de trabalho. Na bem aparelhada sede do Caminho das Árvores, em Salvador, a função do repórter, do redator e do editor era exercida num ambiente confortável, apesar da máquina de escrever e do telefone com fio. Não se imaginava a jornada de sofrimento dos correspondentes do interior, obrigados a cobrir os fatos importantes de uma imensa região do estado.

 

Sérgio foi um desses jornalistas desbravadores, tal como um bandeirante. Nas últimas décadas do século passado mostrou para os leitores de “A Tarde” o desenvolvimento de uma cidade que viria a ser a terceira do estado. Como chefe da Sucursal de Vitória da Conquista, Sérgio angariou assinantes e aumentou as vendas nas bancas da cidade.

 

Em 1991, Sérgio recebeu uma missão mais árdua: dirigir a recém criada Sucursal de Barreiras, a fim de acompanhar o crescimento de um promissor polo agrícola no oeste baiano. “Passou a bola” para Jeremias, que deu continuidade ao trabalho jornalístico e administrativo da Sucursal conquistense, e foi molhar os pés nas águas do Rio São Francisco, que ainda respirava com toda força dos pulmões.

 

Sérgio e eu escolhemos a mesma cidade para viver na condição de aposentados. Mudei há quatro anos para Conquista. Foi quando conheci pessoalmente o companheiro dos bons tempos do jornal dos Simões. Encontrávamos num barzinho na Rua da Granja. Desses encontros participavam Ricardo Di Benedictis, seu filho Ricardinho, Jeremias e Luciano.

 

Sérgio chegava apoiando seus 1,90 de altura numa bengala. Sentava, pedia uma dose de conhaque antes do primeiro gole de cerveja. Falava muito pouco, apesar do seu vasto conhecimento linguístico e literário. Sempre me deu a impressão de um homem solitário, magoado, talvez, por  não ter recebido o justo reconhecimento   pela divulgação que deu a Vitória da Conquista.