A paulista Monique Menezes diz que sofreu assédio e maus-tratos durante temporada na Índia
A falta de higiene na residência, dizem as modelos, fez com que adoecessem. “A casa tinha 18 cachorros e três gatos. Os cachorros comiam nas nossas panelas e os gatos urinavam nas camas.”
Em fevereiro deste ano, pouco após completarem um mês na Índia, as duas procuraram o consulado brasileiro em busca de ajuda. Só então souberam que os contratos que haviam assinado ainda no Brasil, em inglês, previam multa de US$ 500 mil caso abandonassem o trabalho antes do prazo de seis meses. Os acordos haviam sido propostos por scouters (olheiros) brasileiros. Por temer represálias, elas preferem não divulgar o nome deles.
Os diplomatas lhes disseram que o exagerado valor da multa invalidava os contratos e ofereceram ajuda para hospedá-las, caso quisessem deixar a casa da agente. Antes, porém, as duas procuraram Sabrina Savouyaud para exigir os cachês pelos trabalhos, que, conforme o contrato, só seriam pagos no final da viagem.
O Ministério de Relações Exteriores informou que relatos como os das modelos brasileiras na Índia são cada vez mais comuns. “É um fenômeno recente, estimulado pelo grande sucesso das tops brasileiras nos últimos anos”, disse a diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, Luiza Lopes da Silva.
Segundo a diplomata, nos últimos anos, ao menos 20 modelos brasileiras relataram ter sofrido maus-tratos na Ásia. “É apenas a ponta do iceberg”, avaliou ela. “Calculamos que entre 100 e 200 modelos brasileiras possam estar nessa situação na Ásia neste momento.” Além da Índia, país com maior número de queixas, já foram registrados casos na China, Coreia do Sul, Filipinas, Malásia e Tailândia.
“Pouquíssimas denunciam as condições, por temerem represálias no Brasil”, disse Luiza Lopes da Silva. “Como muitas estão irregulares, acham que não têm direitos.” Segundo ela, o Itamaraty tem orientado sua rede consular a colher o máximo de informações sempre que receber denúncias de modelos no exterior, para identificar outras brasileiras que estejam na mesma situação. Os esforços do órgão, no entanto, têm se concentrado na prevenção.
Na tentativa de ajudar os brasileiros que vão tentar a sorte no exterior, o Itamaraty lançou em maio a Cartilha de Orientações para o Trabalho no Exterior. A publicação, disponível na internet e distribuída à rede consular brasileira, tem como principal público-alvo modelos e jogadores de futebol.
A cartilha faz uma série recomendações a quem receber oferta de trabalho no exterior, como preferir a negociação com empresas de grande porte e se registrar na embaixada brasileira assim que chegar ao país de destino.
Os casos de modelos brasileiras exploradas na Índia estão sendo tratados pela comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Câmara que investiga o tráfico de pessoas. Em sessão fechada no último dia 19, a modelo Ludmila Verri, de 21 anos, relatou ter enfrentado no país asiático condições semelhantes às denunciadas por Thelma Kaminski e Monique Menezes.
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