A Caixa Econômica Federal ampliou a sua meta de abertura de novas agências neste ano. Enquanto seus pares privados e mesmo o Banco do Brasil enxugam a rede física, pressionados pela revolução concorrencial e tecnológica no setor, o banco público rema contra a maré e levanta questionamentos quanto ao uso político da instituição em meio à queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro.
Nesta semana, a Caixa anunciou que pretende inaugurar 268 agências até o fim do ano – antes, previa 250 aberturas. É o único grande banco que vai nesta direção. Bradesco, Santander e BB fecharam 792 agências só no primeiro semestre, segundo o Banco Central (BC). O Itaú Unibanco, que vinha reduzindo sua base, com 600 encerramentos desde 2019, abriu três unidades no mesmo período.
A Caixa segue com a rede intacta, mostram os dados do BC. O último movimento de redução foi em 2018, com o fechamento de cerca de 20 agências. A justificativa atual para ampliá-la pega carona no foco social da instituição, de olho em cidades com mais de 40 mil habitantes. Um mapeamento mostra que existem 58 municípios desse porte sem uma agência da Caixa.
Para o cientista político André César, bancos estatais são instrumentos políticos usados em determinados momentos. “Há uma série de questões de cunho político, como grupos regionais que fazem trocas com o centro do poder, Brasília”, avalia.
O episódio envolvendo André Brandão, ex-presidente do BB, ilustra esse papel. Após anunciar um programa de corte de custos, que envolvia o fechamento de agências e demissões, o executivo entrou na mira de Bolsonaro. A ação estava prevista para ocorrer principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o PT venceu a eleição de 2018, na maior parte do caso. “Foi o começo do fim”, lembra César. Brandão ficou seis meses no cargo.
Apesar disso, o BB seguiu com os planos de redução da rede. Fechou 389 agências até junho, segundo o BC. Ao assumir a presidência do BB sob questionamentos da interferência do governo Bolsonaro nas empresas estatais, Fausto Ribeiro preferiu não tomar um lado.
Nos grandes bancos, a busca por eficiência diante do ataque de fintechs incentiva o fechamento de agências. Pesquisa da consultoria alemã Roland Berger mostrou que os cinco maiores bancos brasileiros precisam enxugar em 30% sua rede – ou 5 mil pontos – em três anos.
“Tivemos um impacto enorme da tecnologia. Diferenciais competitivos que tínhamos, como a rede de agências, mudaram muito com as novas tecnologias”, disse o copresidente do conselho de administração do Itaú, Roberto Setubal, em recente conversa com investidores.
Professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Rafael Schiozer vê a decisão da Caixa como “estranha” e “errada”. “É mais um movimento político do que outra coisa. Não faz sentido sob as óticas de eficiência, de resultados financeiros ou social”, diz.
Questionado, o presidente da Caixa afirmou que os estudos para abrir uma agência são iniciados com nove meses de antecedência – logo, não estariam relacionados à queda de popularidade do presidente. Além disso, Pedro Guimarães disse que a atuação digital não alcança todo o público-alvo, considerando os serviços da Caixa ao governo federal, como pagamentos de benefícios e empréstimos para cidades.
Em cidades menores, as inaugurações serão condicionadas à migração de serviços das prefeituras para o banco. “Quando comparam a Caixa com qualquer outro banco no Brasil, é porque não conhecem a Caixa”, afirmou o executivo.
Aline Bronzati/Estadão Conteúdo
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