Na pressão por cargos, PMDB agora ameaça rejeitar mínimo de R$ 540

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Estadão

Atitude é clara retaliação ao governo por perda de cargos estratégicos no segundo escalão.

Três dias depois do início do governo, o PMDB do vice-presidente Michel Temer tenta encurralar a presidente Dilma Rousseff. Insatisfeito com os avanços do PT sobre os cargos do segundo escalão com orçamentos bilionários, antes controlados pelo partido, o PMDB anunciou que iniciará a retaliação pela votação do novo salário mínimo. O governo quer mantê-lo em R$ 540; o PMDB quer mais.

Essa reação era a que Dilma mais temia. Antes mesmo de tomar posse, ela vinha sendo aconselhada pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT), a tomar cuidado com o PMDB, especialista em usar o peso de sua bancada para pressionar por cargos importantes no governo.

Um eventual aumento do salário mínimo provocará um estrago nas contas do governo. No último dia como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória fixando o mínimo em R$ 540. De acordo com o Ministério do Planejamento, cada real representa um aumento de R$ 286,4 milhões no Orçamento. Mas a elevação do valor não significa só o impacto nas contas públicas. Se o PMDB comandar uma operação de reajuste, estará ameaçando logo no início do governo a política de austeridade fiscal pregada por Dilma.

Alvo. Porta-voz da revolta dos peemedebistas, o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN) – até agora uma espécie de alvo dos petistas na maioria das rasteiras levadas pelo PMDB no preenchimento dos cargos – anunciou nesta terça-feira, 3, depois de uma reunião com Temer e com os senadores José Sarney (AP), presidente do Senado, e Valdir Raupp (RO), presidente interino do PMDB, que o partido quer saber por que o governo chegou ao valor de R$ 540. Disse que poderá ser maior e levou o pleito ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. “O Congresso existe para melhorar as propostas, não só para carimbá-las.”

O PMDB programou uma reunião ontem à noite com ministros e as lideranças do partido, em Brasília, na casa da governadora Roseana Sarney(MA).

Antevendo a crise, Dilma já havia convocado Temer e Sarney a ajudá-la. Ao mesmo tempo, Palocci telefonava a peemedebistas para dizer que o PMDB terá postos no segundo escalão equivalentes aos que perdeu na Saúde e nos Correios.

Ainda na noite de segunda-feira, Temer aproveitou a primeira reunião da coordenação política do governo para pedir a Dilma que adiasse a escolha dos cargos do segundo escalão para depois da eleição das Mesas da Câmara e do Senado, em 1.º de fevereiro, como revelou o Estado. A intenção era evitar que a crise contaminasse as votações. Dilma acatou as ponderações. No dia seguinte, no entanto, o PMDB apresentou a primeira cobrança à presidente, por um mínimo maior.

Recados. A reação no Planalto, de acordo com assessores de Dilma, foi de estupefação. Depois de uma conversa com Palocci, Dilma foi aconselhada a manter o diálogo e esperar pela posse do novo Congresso, com renovação de cerca de 50% das cadeiras. A presidente, no entanto, mandou recados ao PMDB por intermédio do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Se vier algo diferente disso (R$ 540), vamos simplesmente vetar”, disse. “Um aumento acima disso pode provocar expectativas negativas, até mesmo de inflação”, acrescentou. Mantega afirmou ainda que um valor maior deterioraria as contas públicas.