O Brasil de Dunga. Pronto para a Copa

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“A minha coerência é com os fatos”, avisou Dunga numa de suas primeiras respostas durante a entrevista coletiva desta terça-feira, no Rio de Janeiro. E torna-se difícil contestar o argumento usado pelo treinador ao apresentar os 23 nomes escolhidos para a disputa do Mundial da África do Sul. A base que levou a seleção à conquista da Copa América, da Copa das Confederações e das Eliminatórias da América do Sul foi mantida. Restavam poucas vagas em aberto. E esses lugares foram ocupados por jogadores que se encaixaram à perfeição no perfil traçado por Dunga logo que ele assumiu o cargo, depois do fiasco do Mundial de 2006.
As marcas do Brasil na última Copa – o despreparo, o desperdício do talento, a falta de profissionalismo – foram apagadas. Nenhum jogador da lista desta terça entra em campo em má forma. Nenhum é indisciplinado. E nenhum decepcionou quando teve a chance – uma oportunidade valiosa, sonhada por muitos, diga-se – quando foi chamado a defender as cores do Brasil.
Adriano, que se apresentou para a Copa-2006 com mais de 100 quilos, que some do treino de seu clube no dia da visita do coordenador Jorginho e que, infelizmente, sofre de uma doença grave que ainda não foi tratada, não vai à África. Grafite, que construiu aos poucos uma carreira de sucesso às custas da superação de suas limitações, vai no lugar dele. Ronaldinho Gaúcho, que passou de melhor jogador do mundo a apagado coadjuvante – e por pura falta de interesse em aproveitar seu potencial -, ficará em casa. Julio Baptista, Elano e Ramires, profissionais exemplares, competentes e valorizados por onde passam, viajarão a Johanesburgo. Questão de gosto e critérios, é claro. Mas Dunga desde cedo deixou claro quais são os seus.
No caso dos outros excluídos da lista, os novatos Neymar e Ganso, o argumento é outro, mas ainda certeiro. Dunga, o homem que só trabalha com quem confia, jamais teve tempo de convocar os jovens astros santistas. E diante da comparação de ambos com Pelé em 1958, lembra do detalhe que faz toda a diferença: o menino que virou rei na Copa da Suécia já tinha sido chamado para a seleção. “Se tivesse um Pelé, também chamaria.” Neymar e Ganso poderiam ser os astros da Copa da África. Mas como prever como reagiriam com a camisa amarela no maior evento esportivo do planeta?
Dunga fez sua parte. Construiu um grupo homogêneo, entrosado e bem sucedido. Recuperou a imagem da seleção dos arranhões sofridos em 2006. Testou dezenas de jogadores – alguns bons, vários médios, muitos ruins – e concedeu novas chances apenas aos que se esforçaram para aproveitá-las. Não levará à África do Sul o Brasil mais brilhante nem o Brasil mais talentoso. Mas está pronto para disputar a Copa do Mundo.
Por Giancarlo Lepiani