Havia um fazendeiro considerado um sujeito valente, arrogante, que não levava desaforo para casa, proprietário de fazendas de gado de corte e leiteiro, de cacau, portanto, muito rico.
De estatura mediana, moreno claro, fronte calva, olhos castanhos e vivos, vivia sempre sorrindo e de bom humor. Quando se afeiçoava a uma pessoa, dedicava-lhe toda consideração e era um amigo de verdade; entretanto, quando ojerizava alguém, fazia tudo para não avir-se com o sujeito, ficava irado só em escutar o nome do dito cujo.
Portava um parabelo importado, arma de grosso calibre e dele não se apartava, utilizando-o para se defender. Vestia-se sempre com um paletó, uma maneira de ocultar a arma, o que lhe dava status e elegância. Dizem que já havia mandado matar muitos desafetos. E que a fortuna adquirida não provinha apenas do trabalho. Comenta-se que houve usurpação. “Onde há fumaça há fogo”.
O povo aventa essa suspeita e faz comentários do assunto. O ditado popular diz que “A voz do povo é a voz de Deus”
Odiado por uns e aclamado por outros pelo seu critério de justeza e decisões. Corretas para uns e incorretas para outrem. Não aturava corrupção, sentia-se criterioso e honesto, passando essas qualidades para os demais. Às vezes, benevolente e caridoso, conforme as circunstâncias e o momento de espírito em que se encontrava.
Certo dia, a mulher que lavava roupa para a sua família, há muito tempo, considerada gente da família, teve o seu marido assassinado, por conta de uma briga e rixa antiga de ciúme com o criminoso, que não era flor que se cheirasse. O que morreu, também, tinha lá os seus poréns.
Contou a história ao fazendeiro e solicitou dele ajuda para vingar a morte do marido, segundo ela, homem trabalhador e direito. Provedor da casa morreu deixando-lhe uma penca de filhos para criar sozinha.
O fazendeiro, a escutou atentamente e na intenção de fazer justiça, decidiu chamar uma pessoa da sua confiança (pistoleiro), solicitando a mulher para relatar ao indivíduo o ocorrido e pediu ao sujeito, que a atendesse. Ocorre que a lavadeira não tinha todo o dinheiro cobrado e fora-lhe sugerido que economizasse até formar a quantia estabelecida.
Posteriormente, ela abordou o fazendeiro avisando que o dinheiro estava pronto. Novamente o cabra foi reclamado e alegou que a quantia era outra, devido à inflação. O fazendeiro se apoquentou e perguntou quanto faltava e se prontificou a completar o montante, pedindo ao camarada que providenciasse logo a encomenda pondo fim à quizila.
A viúva, inconformada com o assassinato do marido, querendo se vingar e o fazendeiro para fazer “justiça”, adotaram a Lei de Talião – olho por olho, dente por dente. Matou a punição é a morte.
A “justiça” foi feita, segundo o critério dos envolvidos com a participação do pistoleiro que estava sempre pronto para execução dos serviços a pedido dos senhores empreiteiros.
Naquela época o individuo valente, era admirado por muitos pelo seu destemor e brabeza no proceder e temido por outros que o viam com desconfiança pelas inconsequências de suas atitudes.
Sempre houve e haverá pessoas desse naipe. Os crimes continuam acontecendo, mudaram-se as circunstâncias. Muitos se colocam para fazer o mal conforme o seu interesse sem se importar com os demais. Assim foi e assim será. Os criminosos continuam a atormentar a sociedade pela audácia, pela corrupção, pelo poder e, infelizmente, pela inação da justiça e, inacreditavelmente, membros desse poder se enveredam pelos caminhos da corrupção, quando deveriam dar exemplos de honestidade.
Antonio Novais Torres
Brumado em 18/2/2010.
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