Desde menino nordestino, sempre soube que o Nordeste é o patinho feio do Brasil, o bicho do pé na distribuição dos recursos e da renda, com seus altos índices de desigualdade social e atrasos em vários setores em relação às outras regiões do Sul e Sudeste. Agora acabei de ler numa manchete de jornal que o “Nordeste tem o maior número de analfabetos”. O título, infelizmente, não traz nenhuma novidade jornalística,
A reportagem fala dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, feita no ano passado e que trata do analfabetismo no Brasil que teve uma redução, mas não satisfatória para uma erradicação desse mal perturbador até o ano de 20024, conforme prevê o Plano Nacional de Educação.
Os estudos concluíram que o Brasil tem hoje 11,5 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever. Dos seus habitantes, o Nordeste, o primo pobre que sempre foi relegado e abandonado, 14% são analfabetos, contra 8% do Norte, 5,2% do Centro-Oeste e 3,5% do Sul e Sudeste.
Quando estava na ativa como jornalista no jornal “A Tarde” acompanhava como repórter de economia a atuação da Sudene que foi criada pelo saudoso economista Celso Furtado, com o precípuo objetivo de reduzir as desigualdades regionais. Com o tempo, a Sudene foi dilapidada e esvaziada. e a proposta não passou de promessa rala nas pautas dos governantes.
Estão ai os motivos do Nordeste, desde os tempos coloniais, carregar consigo os priores índices nas áreas da educação, da saúde, do saneamento básico, da segurança e de outros setores na vida de sua população. A verdade é que o Nordeste ainda é o mais atrasado e discriminado pelas outras regiões. É por assim dizer, vítima de “bullying” para os sulinos.
É este o Nordeste árido e seco explorado e escravizado pelos coronéis senhores dos engenhos da cana, por São Paulo em suas construções e plantações, pelos políticos donos do poder e pelos falsos profetas das religiões e das crendices que sempre teve e ainda tem os maiores nomes da música, da literatura, dos cantadores repentistas, dos poetas cordelistas, contadores de causos e da nossa história de vida alegre nas venturas, e triste na dor da pobreza. Mesmo assim, é o Nordeste ainda ignorante e analfabeto.
É o Nordeste que por desleixo e falta de investimentos pode virar deserto e carvão, mas nele abriga um oásis da cultura e da sabedoria popular nos seus rituais e danças folclóricas do maracatu, dos frevos, do samba, do bumba meu boi e dos reisados. É o Nordeste de Câmara Cascudo, de Patativa, Catulo da Paixão Cearense, de Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Umberto Teixeira
É o Nordeste por onde passa o Velho Chico que por muitos séculos abrigou e sustentou seus filhos ribeirinhos, mas que hoje virou um velho ancião à beira da morte e, com sua voz sussurrada, clama por revitalização das suas margens ciliares decapitadas pelos próprios homens. É o Nordeste ensolarado de belas paisagens e rico em recursos naturais.
É o Nordeste de Ariano Suassuna, Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, José de Alencar, Jorge Amado, Ruy Barbosa, Graciliano Ramos, Gil, Caetano, Fagner, Alceu Valença, Glauber, Elomar, Ubaldo e de tantos outros, cujos nomes dariam um monte de rosários para serem dedilhados por anos e anos.
Mas, voltando à pesquisa, constatou-se que no Brasil, o maior problema com relação ao atraso escolar está com as crianças mais velhas e os adolescentes. No ano passado, 95,5% das crianças de seis a dez anos estavam nos anos iniciais do ensino Fundamental, enquanto 85,6%, entre 11 a 14 anos, frequentavam os anos finais.
Nesta faixa etária, 1,3 milhão estavam atrasados e 113 mil fora das escolas. Outro dado é que a taxa de analfabetismo dos idosos no Nordeste, sempre ele, é de 38%, contra 10% do Sudeste, praticamente quatro vezes mais. É este o Nordeste, pobre e rico, com sua gente simples e forte, cheio de esperanças roubadas pelos políticos traidores.
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