Oposição com razão
Na pretensa fusão envolvendo o Grupo Pão de Açúcar com os franceses do Carrefour, devemos reconhecer que pela primeira vez nos últimos anos a Oposição brasileira está com razão. Ufa, até que enfim! Quem está encabeçando a corrente dos indignados é um experiente senador do PSDB do Paraná. Sim, o injuriado parlamentar Álvaro Dias é quem está à frente “da bronca” correndo pelos quatro cantos de Brasília, rangendo e fazendo barulho igual rodeira de carro de boi. Quero dizer, rodeira dos velhos carros de boi. Em minha visão, o senador está certo. Por isso dou razão ao vê-lo blasfemando contra o Governo e o BNDES neste episódio. Também acho que Banco está se desviando de suas finalidades Institucionais.
Oportuno e triste dizer que essa veniagra (não confundir com Viagra) não seja nova no Brasil. O que é inacreditável é que essa doutrina chamada Capitalismo viva assentada permanentemente sobre aqueles mesmos fundamentos (pilares) de outrora. E quais são eles? Doutor Roberto Campos, maior representante do nosso Liberalismo Econômico assim relacionou: “O capitalista, em quase todos os lugares do mundo, sempre apela para os governantes no sentido de ampliar seus negócios à base de isenção fiscal, anistia tributária, financiamentos a perder de vista e empréstimos que nunca serão pagos”. O capitalista a que ele se refere é aquele que comanda grandes operações em Bolsa ou grandes Plantas Industriais ou Comerciais.
De minha parte, e também indignado diria: Ora, ora! Desse jeito, até eu, um sujeito nascido “duro” teria condições de ficar rico. Mas é assim que funciona o Capitalismo. Uma Doutrina esperta que descobriu sua capacidade de se financiar sem pagar imposto (o que o empresariado diz que paga, corresponde àquilo que se denomina de retenção e repasse entre governo e consumidor final). Além do mais tomam dinheiro do Estado sem precisar pagar e vivem recebendo financiamentos – que nunca vencem – fazendo com que todos os seus beneficiários se tornem ricos. Isso sem contar uma enorme capacidade de formar conluios com governantes e ter um número ilimitado de informações privilegiadas para tomada das melhores decisões. Isso é que é Doutrina esperta. Evidente que hoje países de sistemas políticos baseados na social democracia vivem sob os mesmos princípios e reproduzem [acreditem] as mesmas relações. Quem é doido de mudar isso?…
Vejam o caso da FORD se instalando na Bahia. Como foi firmado o protocolo para que tivéssemos uma unidade da poderosa marca em nosso Estado? Procurem saber como foi. Um fator que me impressiona nos defensores do Capitalismo é a firme crença de que só a adoção dessa Doutrina assegura à Humanidade direito a uma existência feliz com espaço para liberdades ilimitadas possibilitando a todos oportunidades iguais (essa é uma das maiores enganações que se pretende incutir na mente dos ingênuos do Planeta). Nada é igual, tudo é diferente…
Neste sentido – e por dever de justiça – não posso deixar de fazer um paralelo em relação à doutrina Socialista. Os socialistas utópicos também afirmavam que só por intermédio de suas concepções o Homem encontraria modelos de distribuição de renda, trabalho e existência igualitária baseados na Justiça. Trata-se também de outro delírio e as gerações atuais sabem da sua impraticabilidade. Resumo: Ambas as Doutrinas criaram capítulos e mais capítulos daquilo que um velho humorista denominou de Papo Furado.
Os argumentos do Sr. Abílio Diniz são “irrefutáveis”. Diz o empresário que com essa operação será possível ampliar o seu quadro de funcionários (hoje com 158 mil), todos com carteira assinada e outros benefícios. Sujeito bom, o senhor Abílio. Com a fusão ele aumenta o patrimônio em 232 imensas lojas e até daria um aumento de 20 reais para os seus valorosos colaboradores. Perguntinha besta: Ao final quem ganharia mais com a transação?
Em entrevista o dono do Pão de Açúcar assinalou que a melhor justificativa para a operação está no fortalecimento da Empresa Nacional. Como se vê, trata-se de uma bela versão patriótica para monopolizar o setor. E isso merecia ser ressaltado. Abílio está preocupado com o engrandecimento da Empresa Nacional (existe argumento mais comovível que este?). Está sim, acreditem. Ou melhor, acredite quem quiser…
O dado real, como diria um ex-presidente, é que precisamos realmente fortalecer nossas empresas, mesmo que para isso, seja necessário utilizar o Banco, que em seus objetivos institucionais foi constituído para financiar e prover ações e operações relacionadas a questões econômicas e sociais. Desprezando os objetivos, os burocratas de plantão da Instituição, evidentemente orientados pelos espertalhões do Mercado, criaram o BNDES-PAR, em março de 2002, governo FHC. Finalidade? Criar um valhacouto para legalizar operações arcanas pautadas nas tranquibérnias do mundo capitalista. Enquanto isso, do outro lado do mundo, o Povão se dá por satisfeito com sua parabólica, seu celular, seu DVD, o forno Microondas, as engraçadas novelas das sete e os imperdíveis programas de Ratinho, Sílvio Santos ou Gugu. Que beleza!
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