Pesquisa da Uesb revela perigos do consumo de plantas medicinais por gestantes

 

 

Dependendo da quantidade, frequência e forma de uso, a romã pode apresentar riscos para gestantes (Foto: Acervo da pesquisa)

O uso de plantas medicinais com finalidade fitoterápica é comum no cotidiano de muitas comunidades. Além disso, é vigente o consenso de que a utilização de produtos naturais não causam malefícios à saúde. No entanto, a ingestão de plantas medicinais por grávidas deve ser feita com cautela, pois podem conter princípios ativos capazes de afetar a formação neonatal.

A Punica granatum, conhecida popularmente por romã, por exemplo, é uma espécie comumente aplicada para fins medicinais, mas que apresenta potenciais riscos para gestantes. Dependendo da quantidade, frequência e forma de uso, a fruta pode provocar cólicas, sangramentos e, até mesmo, má formação do feto e abortos em casos mais graves.

Nessa perspectiva, Sâmela Thais Ladeia, egressa do curso de bacharelado em Ciências Biológicas da Uesb, campus de Itapetinga, produziu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Propriedades medicinais da Romã (Punica granatum L. LYTHRACEAE). Aplicações terapêuticas: uma análise para gestantes”. “Sempre ouvi falar do uso da romã como planta medicinal através de vizinhos e familiares. No final do curso, pensei em me aprofundar mais no assunto, e, junto com meu orientador, o professor Murilo Scaldaferri, trouxemos a perspectiva das gestantes sobre seu uso antes e durante o período gestacional”, explicou Ladeia.

De acordo com a pesquisadora, foram aplicados questionários para 80 gestantes que faziam o atendimento pré-natal nos Programas de Saúde Da Família (PSF), em Itapetinga, onde constavam informações desde idade, escolaridade até o uso da romã pelas gestantes. A partir desse levantamento, foi observado que, 53 gestantes já haviam feito uso da romã ou ainda estavam fazendo, durante o período gestacional.

Das entrevistadas, 11% utilizavam a romã de forma alimentícia e 89% faziam a infusão em água e chá do caule e folhas. Isso despertou preocupação em Ladeia, uma vez que o caule apresenta componentes químicos que, através dos seus princípios ativos, são capazes de atravessar a placenta e atingir o feto.

Além de identificar os riscos, a pesquisa busca conscientizar a sociedade a partir do conhecimento científico (Foto: Acervo da pesquisa)

Popularização da ciência – Durante a aplicação dos questionários, foi levantada uma breve discussão, evidenciando os malefícios de algumas partes da romã. “Notei surpresa tanto da parte das mulheres entrevistadas quanto dos profissionais da saúde que estavam presentes, pois ninguém conhecia seus riscos. Diante disso, percebi que seria importante levar esse conhecimento através de palestras para todas as pessoas atendidas pelo Programa de Saúde da Família e aos profissionais que ali trabalham”, ressaltou Ladeia.

Para o professor Murilo Scaldaferri, vinculado ao Departamento de Ciências Exatas e Naturais (DCEN) e orientador do TCC, pesquisas como essa servem para reforçar a necessidade de conscientização da sociedade sobre o uso indiscriminado não só da romã, mas de qualquer produto, principalmente, em caso de gestação ou estado de saúde mais delicado sem o acompanhamento de um profissional. “A ideia popularizada de que produtos naturais não fazem mal, mesmo se usados indiscriminadamente, não é verdadeira, e esse tipo de informação tem que alcançar o máximo de pessoas possível”, salientou Scaldaferri.

Como meio de difundir os resultados dessa pesquisa de forma mais abrangente, está em processo de consolidação o desenvolvimento de uma atividade de conscientização. “A extensão do conhecimento levantado com as pesquisas que realizamos é o que vai, realmente, causar um impacto positivo para a sociedade, e a Universidade trabalha sobre o tripé do ensino, pesquisa e extensão. Além do retorno, que já foi dado para as gestantes que participaram da pesquisa, nosso grupo, o Núcleo Multidisciplinar de Saúde Preventiva, já começou trabalhar na seleção de estratégias e ferramentas adequadas para a difusão do conhecimento”, frisou Scaldaferri.