“PRÁ NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”

Por Valdir Gomes Barbosa (ao meu amigo Clesio)

O ano: 1968. O autor: Vandré. Tempos de uma desdita dura. Contudo, tempos de um tempo de vozes fortes e palavras soltas faladas sem medo e sem nó. De pregar verdades fazendo-as verdadeiras a qualquer preço. Tempos capitaneados por figuras impares que construíram e protagonizaram as mudanças ao longo de um duro caminho envolto em sangue suor e lágrimas.

Lamentavelmente se observa nestes momentos do agora, grande parte dos remanescentes e herdeiros de quem pregava alternância pugnando, com as mesmas armas dantes duramente criticadas, a permanência no poder. Para estes, porque não dizer: tempos de hipocrisia.
Porém não duvido residir nesta premissa a verdade da vida: sendo diferentes, os mortais são parecidos na diferença, vez que se fossem iguais seriam diferentes, por serem exatamente semelhantes. Os paradoxos conflitam os paradigmas, e as verdades escondidas fazem parte de segredos que todos gostariam de contar.
Contudo, confesso, este preâmbulo tem a ver com minha vontade de falar das flores. Sobretudo, falar de Flores, de minha colega e amiga Juliana, que carregou desde o começo um legado familiar de peso. FLORES.
Fazem e fizeram história como Juliana nesta Conquista de tantas conquistas as Olivias, Dalvas, os Iris, Odilons, Humbertos e muitos outros, prenomes que rebocaram no vagão de suas locomotivas nominais o sufixo FLORES. Um sobrenome a revelar casta imperial. De pessoas capazes, dignas, valentes da mesma maneira que soube ela ser.
Porém ontem redescobri que nem tudo são flores; explico: por vezes repetidas insistimos em não crer na vida que transcende. De repente Juliana decide do nada, seguir no caminho do tudo. Admito que nada somos, nada seremos e nada saberemos ser, se não compreendermos que é preciso varar as sendas que nos reconduzem às origens, na estrada do nosso futuro infinito. Mas, quando a fatalidade vem fraquejamos, e das flores brotam espinhos que ferem nossos corações.
Como diria o poeta: ”e assim ela se foi, nem de mim se despediu”; feito uma chalana leve que desapareceu na curva do Rio Paraguai. Os reclamos de todos os seus chegados, parentes, amigos, colegas, sobretudo os mais queridos, pétalas de flores deixadas ao vento – Solon e Mariana – apenas poderão entender a maneira da sua partida, se forem capazes de compreender a mágica do reencontro que virá quando menos imaginem esteja por vir.
Na visão de uma flor que desabrocha lembrando a doçura materna; no pólen que flutua ao ar refletindo o sorriso franco da única inesquecível imagem; no bico sensível de um colibri que beija a flor trazendo lembranças ternas de um amor materno sem fim.
Porém, como resgate aos brotos, lhes resta a fruta doce. O parceiro da flor tornada grão que ficou sofrendo. Neste caminho do abraço filial, tão somente nele, as partes que restam poderão se sentir redimidas na dor. No regaço e no braço forte do caule resistente reside uma seiva viva capaz de alimentar, proteger e encaminhar as pétalas jogadas ao vento. Em contrapartida, na singeleza de suas almas ainda desabrochando residirá a energia necessária capaz de alimentar seu espírito, lhe tornando forte e resignado, capaz e enfrentar a nova e dura realidade.
Portanto, te digo meu amigo Clesio. Ontem, sob uma cheia lua branca sepultamos a mãe destes teus filhos, as pétalas sedosas que não me canso de lembrar.
Neste momento, quando o povo resolve reconduzir seu edil à prefeitura desta cidade que amo, respeitosamente digo que isto pouco me importa. A mensagem de Vandré que falava de um sonho libertário e democrático, mesmo num dia como o de hoje, agora não me interessa.
O que verdadeiramente importa meu amigo é vê-lo conseguir, por mais que a dor seja insuportável, caminhar e cantar seguindo canção. Nem sempre a existência permite que a música executada venha no ritmo que sonhamos para nossa dança. Carece que nos adaptemos as melodias inesperadas da vida.
O que vale mesmo é a mensagem de Vandré: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Faça.
Esteja onde estiver nossa Juliana, flor precocemente arrebatada saberá lhe agradecer e admirar. Como sempre fez, mesmo que ontem não tenha sido possivel compreender desta forma. Não duvide.
Irás crer. Vaticino. Vez por outra uma abelha mansa roçara de leve seu rosto quando menos estejas eperando, por força da lembrança doce. Cada vez que isto ocorra, mesmo que uma lagrima sentida role em sua face, estarás mais forte e resistente. Da mesma forma também seus frutos.
Que assim seja.
Abraços fraternos.
valdir barbosa
vdc, 28 de outubro de 2012