Para estimular e divulgar experiências exitosas voltadas ao empoderamento político e social da juventude negra baiana, o ‘Prêmio Manuel Faustino’ foi entregue na noite de quinta-feira (9), em Salvador, a sete instituições da sociedade civil que trabalham com o segmento. A iniciativa é resultado de convênio assinado entre o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), e governo federal, via Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). A cerimônia, na Biblioteca Pública do Estado, no bairro dos Barris, foi aberta com a exibição de um documentário com depoimentos dos beneficiários e representantes das organizações, entidades que receberão recursos no valor total de R$ 70 mil. A estudante Rosa Maria Bomfim, participante do projeto ‘Eu Sou Negão’, uma das experiências premiadas, considerou a iniciativa fundamental para a sua afirmação e autoestima. ‘Ajuda o jovem a assumir sua identidade. Eu sou negra e pronto’, disse ela, sobre o projeto oferecido pelo instituto Comvida, em Camaçari, levando o nome da música do cantor e compositor Gerônimo. Além do Comvida, foram selecionados o Instituto Casa da Cidadania de Serrinha (ICCS), a Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu) e a Associação Pracatum Ação Social (Apas), de Salvador, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano (IDSB) e o Conselho das Associações Quilombolas do Território do Sudoeste da Bahia (Caqsub), de Vitória da Conquista, e a Associação de Desenvolvimento Comunitário São Sebastião (ASS), de Paratinga. Rebeka Capistrano, beneficiária do projeto de formação do Instituto Casa da Cidadania de Serrinha, considerou o aprendizado transformador. “Passei a respeitar as diferenças, valorizar a vida e as pessoas. Hoje, aceito minha condição, assumindo meus cabelos e traços negros”. Segundo a coordenadora de etnodesenvolvimento da Acbantu, Ana Placidino, o prêmio “potencializou o trabalho e deu o reconhecimento e o ‘gás’ que a juventude de povos de terreiros estava precisando”. A organização foi premiada por meio de projeto voltado à juventude de terreiros. As experiências também foram publicadas em catálogo impresso, distribuído no evento, que reúne fotografias e informações das ações desenvolvidas. Nesse material estão, além das premiadas, outras organizações com atividades semelhantes – Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia (AMCSL), Instituto de Ação Social e Cidadania Mão Amiga (IMA), Centro Afro de Promoção e Defesa da Vida Ezequiel Ramin (Capdever), Associação Artístico-Cultural Odeart e ONG Paspas- Profissionais da Área de Saúde Promovendo Ações Sociais. Juventude Viva Ao apresentar o projeto, o coordenador de Promoção da Igualdade Racial da Sepromi, Sérgio São Bernardo, destacou que o prêmio integra as ações do Plano Juventude Viva na Bahia, voltado para redução da vulnerabilidade do segmento à situações de violência física e simbólica, a partir da criação de oportunidades de inclusão social e autonomia. Após parabenizar as instituições pelas experiências, a titular da Sepromi, Vera Lúcia Barbosa, disse que “não será possível resolver o problema da mortalidade da nossa juventude negra, se não tivermos um olhar para esses trabalhos que já existem. A gente precisa, primeiro, se reconhecer, enquanto negros e negras, para daí fazer com que os outros nos vejam e, assim, estabelecer uma relação de respeito mútuo”. Também presente no encontro, a técnica da Seppir, Camila Pires, destacou a importância da continuidade da parceria com a Sepromi, para “o fortalecimento do Plano Juventude Viva e a promoção da igualdade racial”. Antes beneficiária da casa do estudante do Caqsub e agora uma das coordenadoras do projeto, Jamile Silva, aprovou a iniciativa. “Quando temos o apoio do Estado ou qualquer outro órgão que reconhece ações afirmativas há transformação e esperança para esse povo”. O encontro contou ainda com a participação de representantes do Conselho Estadual de Juventude (Cejuve), Conselho de Desenvolvimento da Comunidades Negras (CDCN), da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Fórum Estadual de Juventude Negra (Fonajuve), secretarias da Educação (SEC), Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), do Plano Juventude Viva nacional e do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), além de militantes do movimento negro. Seleção Para participar do concurso, as organizações candidatas tiveram que demonstrar experiências com resultados efetivos relacionadas à juventude negra. A seleção das instituições foi feita mediante avaliação de uma comissão composta por representantes da Sepromi e profissionais que lidam com a temática, como a jornalista Cleidiana Ramos, a mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carla Akotirene, além do ator, diretor e dramaturgo baiano, Ângelo Flávio. Manuel Faustino O nome do prêmio faz menção ao alfaiate baiano e um dos líderes da Revolta dos Búzios, ocorrido na Bahia, entre 1798 e 1799. Juntamente com Lucas Dantas, Manoel Faustino, Luís Gonzaga e João de Deus, teve seu nome incluído no Livro dos Heróis Nacionais, em março de 2011, por meio de lei federal sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Nascido em Santo Amaro, no Recôncavo baiano, ele era filho de escrava liberta e pai desconhecido. Emília Mazzei Sucursal Vitória da Conquista
Deixe seu comentário