Deu no Correio Braziliense: “Daqui a 15 dias, começa a última e decisiva etapa das eleições. No caso das presidenciais, as mais longas que fizemos em nossa historia. É nelas que o sistema político pensa obsessivamente há mais de dois anos (desde, pelo menos, o início de 2008), por obra e graça de Lula.
As demais eleições estão sendo das mais atrasadas de que temos memória. Na maior parte dos estados, o nível de definição dos eleitores a respeito do voto para governador é muito baixo. Para o Senado, baixíssimo. Nas proporcionais, então, nem é bom falar: mais de 95% dos eleitores têm, no máximo, apenas uma vaga noção do que farão.
Com sua mania de aguardar a “hora certa”, nossa legislação eleitoral é a principal responsável pelo que vai acontecer de 17 de agosto a 3 de outubro. Nesses últimos 45 dias, todos que ainda não sabem em quem votar para os 6 cargos em disputa (presidente, governador, dois senadores, deputado federal e estadual) terão que correr à procura de informações. Quantos conseguirão obtê-las em espaço de tempo tão curto? Quantos terão condições de conhecer adequadamente os candidatos relevantes?
É verdade que as campanhas já começaram faz quase um mês, em 6 de julho. Comícios, passeatas, carros de som, foram liberados e vêm sendo usados pelos candidatos país afora. Mas seu impacto é diminuto.
Quem o quiser avaliar basta que considere o que mudou nas pesquisas do final de junho até agora: praticamente nada. Seja nas eleições presidenciais, seja nas outras, os últimos 30 dias foram de estabilidade quase completa. Ninguém subiu, ninguém caiu, o que permite ver quão inócua é essa etapa intermediária, que vai do fim da “pré-campanha” ao início da televisão.
Se pensarmos nas restrições a que essas mídias foram submetidas, não é difícil entender por quê. No afã de responder aos anseios generalizados por moralização que vieram depois do mensalão, nossas elites fizeram mudanças perfunctórias na legislação para reduzir gastos de campanha, achando que conteriam a arrecadação irregular ao colocar obstáculos às despesas. Com isso, sumiram os artistas e animadores, e os comícios foram esvaziados. Acabaram as camisetas, que tanta gente usava. Os outdoors diminuíram de tamanho e viraram pequenas placas padronizadas. Faixas e cartazes desapareceram. Até a pintura de muros foi severamente disciplinada.
Muitas dessas limitações foram positivas, pois reduziram o assédio exorbitante dos candidatos e contribuíram para a limpeza das cidades. Mas acabaram por aumentar o que era já grande: a influência da televisão, que se tornou ainda mais preponderante.
Ou seja: é cada vez maior a proporção de eleitores que chega aos 45 dias finais com sua “cola eleitoral” quase vazia. Dos 6 nomes, sabe um, dois e olhe lá.
Para agravar as dificuldades, nossa legislação coloca mais uma barreira à sua frente. Nesses últimos dias, ou o eleitor se senta diante da televisão por intermináveis 50 minutos na hora do almoço e do jantar ou torce para ter a sorte de ver uma inserção enquanto assiste a seus programas prediletos. As campanhas chegam (finalmente) à sua casa, mas dessa maneira: 100 minutos/dia de “programas eleitorais” contra 30 de comerciais.
Esses são divididos em 5 “partes” de 6 minutos (uma para cada cargo), e são distribuídos em 4 blocos de audiência (manhã, tarde, horário nobre e noite). Fazendo as contas: Dilma e Serra terão cerca de um comercial ao dia em horário nobre por emissora (ela todo dia, ele nem sempre), Marina um por semana e os menores, provavelmente, nenhum. Nas eleições estaduais, coisas parecidas, em função do tamanho das coligações.
É isso que verá a maioria das pessoas, que não gosta do “horário eleitoral” (ou “guia”, como é chamado em algumas regiões). Estudos mostram que, quando a eleição termina, mais da metade dos eleitores não viu sequer um inteiro. Esses, os que só assistem aos comerciais, são tratados a pão e água pela legislação.
E ainda querem que o eleitor “vote consciente”. (Marcos Coimbra)”
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