O médico Elve Cardoso Pontes integra o pelotão de socialistas indignadamente contrários à decisão do PSB de abrigar-se novamente sob o desconfortável guarda-chuva do Partido dos Trabalhadores, o que deve ser anunciado até a próxima segunda-feira (10) pela direção do partido, que marchará em apoio à candidatura petista neste segundo turno das eleições municipais. Filiado de quase três décadas ao partido, Elve Cardoso discursou contra a tese e buscou convencer seus pares do equívoco da decisão, encontrou alguns apoios mas acabou sendo voto vencido e, tão traumático foi o embate, que preferiu descer do ônibus socialista.
Nesta entrevista exclusiva ao Blog do Fábio Sena, Elve Cardoso argumentou em defesa da neutralidade, para ele, a postura mais coerente considerando que o PSB posou de alternativa aos dois projetos que agora se confrontam: o do PT, no governo há 20 anos, e o do PMDB, do radialista Herzem Gusmão. “É preciso coerência, nenhum dos projetos que está no segundo turno contempla o que queremos e debatemos. O PSB deveria manter-se distante de apoio a qualquer candidato sob pena de não se passar por oportunista, adesista ou subserviente. Deveríamos nos manter neutros, o povo não precisa de tutela”.
Abaixo, a íntegra da entrevista na qual Elve Cardoso anuncia seu afastamento do partido argumentando que não pretende “falsear o discurso” feito durante a campanha pelo médico Joás Meira, candidato do partido no primeiro turno. Mais de 114.000 conquistenses disseram não ao governo atual e querem mudança, nós buscamos o eleitor com esta proposta; não conseguimos atingir a maioria, mas a semente está lançada”.
LEIA ABAIXO, NA ÍNTEGRA, A ENTREVISTA:
BLOG DO FÁBIO SENA: Elve, você candidatou-se a vereador, mas não obteve resultado que garantisse eleição. Quais os rumos de agora em diante?
ELVE CARDOSO: Ganhar ou perder uma eleição são contingências do processo, o que a gente não pode é se perder. O momento é de autocrítica, lamber as feridas e esperar cicatrizar. O resultado das eleições nos coloca como minoria, é preciso nos conscientizar disso para ter clareza que os rumos a serem seguidos não representem capitulação e incoerência com nosso discurso de mudança.
BLOG: Que avaliação você fez de uma eleição com uma legislação tão restritiva?
ELVE: O mal do Brasil é acreditar que se pode resolver as coisas apenas leis. 45 dias é um prazo extremamente curto para que se possa debater os grandes e pequenos problemas de uma cidade, imagina do país? Nosso sistema político guarda em si o vírus da sua própria destruição, a proliferação de partidos será cada vez maior e a necessidade de votos para se eleger cada vez menor. Faça uma análise das 4 últimas eleições e se verá que a cada processo são eleitos parlamentares com menos votos que na eleição anterior, apesar do eleitorado aumentar. O sistema proporcional leva os partidos à necessidade de lançarem o maior número de candidatos possíveis e isso impede o debate de idéias e propostas, não é mais a afinidade ideológica ou programática que leva uma pessoa a se filiar a um partido com vistas a se candidatar numa eleição e sim onde é mais fácil obter sucesso na tentativa. O número cada vez maior de partidos e candidatos confunde o eleitor e reduz o debate. Como expor seus projetos à câmara municipal em 7 segundos de TV ou rádio em 6 oportunidades ao longo de 45 dias?
Com a proliferação de candidaturas (foram mais de 350) ao legislativo perde-se a oportunidade de debater os grandes problemas da cidade, que cresce desordenadamente, que são relegados ante os favores pessoais. Discutir rezoneamento dos distritos sanitários de forma a localizar os postos de saúde preparados e dimensionados para a atenção atual e futura de determinada população ou bairro, discutir a distribuição das escolas para atender aos alunos em locais mais próximos da sua residência, discutir a matriz econômica do nosso município, discutir o papel do vereador como formulador de propostas, orientador e fiscalizador dos atos do poder executivo. Nosso sistema privilegia a politicagem ao invés da boa política e afasta inexoravelmente o eleitor do eleito.
BLOG: Foi melhor ou pior?
ELVE: Piorou o que já era ruim e serviu para mostrar que precisamos de reforma política: Distritão em municípios com menos de 200 mil eleitores e voto distrital nos maiores e nas capitais. Prévias eleitorais nos partidos, fim das coligações, financiamento das campanhas são ideias a serem debatidas e consensuadas com clareza e sem subterfúgios.
BLOG: O PSB está agora discutindo o caminho a trilhar no segundo turno, com forte inclinação para apoiar o candidato petista. Qual sua opinião sobre isso? Qual deveria ser a postura do partido neste momento? Qual tem sido a postura do candidato Joás Meira?
ELVE: Nós nos afastamos do governo municipal, muito embora tenhamos eleito o vice-prefeito, quando entregamos os cargos. Fizemos um discurso à população de mudança com seriedade e responsabilidade e com este discurso atingimos praticamente 9000 eleitores. É preciso coerência, nenhum dos projetos que está no segundo turno contempla o que queremos e debatemos. O PSB deveria manter-se distante de apoio a qualquer candidato sob pena de não se passar por oportunista, adesista ou subserviente. Deveríamos nos manter neutros, o povo não precisa de tutela.
BLOG: É verdade que você ameaçou deixar o partido em caso de apoio ao PT?
ELVE: Fui filiado por 27 anos e estou deixando o PSB porque entendo que não podemos falsear o discurso que fizemos durante a campanha. Mais de 114.000 conquistenses disseram não ao governo atual e querem mudança, nós buscamos o eleitor com esta proposta, não conseguimos atingir a maioria, mas a semente está lançada. Sinceramente, não tenho como dizer ao povo de Conquista que Zé Raimundo significa mudança. A Herzem ainda dou o benefício da dúvida. Prefiro ficar neutro, manter nossas propostas e nossa ética. Se o PSB parte em outro rumo significa que estou no ônibus errado, vou descer e procurar quem pensa como eu para juntos buscarmos nossos rumos.
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