Psicanalistas e Psicológos analisam o impacto das mortes precoses. Tendo como base a Artista Preta Gil

Aartigo: Preta Gil: psicanalista analisa o impacto psicológico das mortes precoces

Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, o luto coletivo da morte da cantora Preta Gil é uma perda que nos faz repensar a morte e a vida. Uma dor aumentada por ter sido em seu auge, após uma luta corajosa contra um câncer agressivo.

A morte de Preta Gil, cantora de 50 anos, acometida por uma doença grave, desde 2023, comoveu o país.

Segundo a especialista, o carisma e a força de Preta suscita reflexões, do tipo: Como lidar com as perdas inesperadas de pessoas queridas? Como lidar com o sumiço imediato de pessoas que, em um piscar de olhos, sabemos que nunca mais veremos? Estamos preparados para isso?

Andrea explica que apesar da dor, a consciência da morte de alguém querido é saudável e uma oportunidade para rever e mudar sua forma de encarar a vida.

“Dizer que a vida é um sopro, acaba sendo uma redundância. Despedidas não são fáceis. Estamos a todo momento ouvindo que podemos partir a qualquer tempo. Ouvimos e muito essa frase.É claro que, sabemos todos que não há uma morte anunciada. Todo dia pode ser nosso último dia nessa trajetória chamada vida. E, infelizmente, essa consciência só se faz realmente presente quando vemos a morte se aproximar de alguém que conhecemos, seja famoso ou não. A grande verdade é que estamos sempre envolvidos na pressa de viver”, explica.

A psicanalista complementa que a urgência efêmera da vida que nos agita, nos leva a extremos de sensações e sentimentos, principal motivo pelo qual evitamos pensar na morte. E segundo ela, tudo bem por isso. A grande realidade é que não queremos nos certificar do quanto nossa estadia neste mundo é limitada e que não temos o controle de nada.

“A angústia, o medo e a insegurança do ser humano estão alicerçados exatamente na condição de não conseguir controlar o que irá acontecer no minuto seguinte. Quando as questões fogem das nossas mãos nos sentimos vazios, frágeis e perdidos”, afirma.

Luto coletivo

Segundo Andrea, dentro de um luto coletivo, em que multidões lamentam a mesma partida e se amparam na mesma dor, surgem várias questões que consternam as pessoas e nos fazem refletir sobre a necessidade de viver um dia de cada vez, valorizar as pequenas coisas da vida, se aproximar de quem amamos, dizer que amamos, verbalizar o que se sentimos e o que o outro representa para nós.

Andrea complementa que não fechar os olhos para a dor e expressar o sentimento, pode aliviar e ajudar a elaborar as emoções e os sentimentos que estão sendo evidenciados.

“É muito válido para nosso equilíbrio emocional, não deixar para depois. Praticar a empatia, o autocuidado e a gratidão por estarmos vivos. Perdas súbitas e inesperadas podem nos levar, naturalmente, a desconfortos físicos e emocionais. Tristeza profunda, dores no peito, sensações de afogamento e até a momentos de depressão; reações dolorosas que podem surgir e se perpetuar quando não exploradas todas as etapas do luto”, diz.

Estudos demonstram que os estágios precisam ser vividos para que a aceitação, última etapa do luto, venha coroar a necessidade real de seguir a vida.

“Nestes momentos, lembramos dos beijos que não demos. Dos abraços que ficaram escondidos. Dos afetos que nunca chegamos a retribuir ou expressar. Vem a indignação e a culpa velada no inconsciente. Pois, sempre acreditamos que ainda teremos tempo de aparar arestas, de aproveitar mais, ou mesmo de viver aquilo que postergamos. Estamos sempre sofrendo por antecipação”, diz.

Para Andrea o ser humano vive a dor do futuro e esquece do momento presente. No entanto, ela explica que uma lição que de ser aprendida com a importância de se vivenciar o luto é que, nenhuma morte será capaz de apagar a memória de quem vive em nós, mesmo que a interrupção seja abrupta e precoce.

“Portanto, valorize sua vida e sua história que é única. Lembrando sempre que você é o amor da vida de alguém, valorizando as coisas boas que o outro lhe traz. Isso ajuda a minimizar a dor da perda e a criar mais empatia”, diz.

Andrea finaliza lembrando que episódios como esses mostram o quanto a morte pode ridicularizar as nossas urgências, revelando nossas fragilidades e nos fazer concluir que precisamos amar mais e viver um dia de cada vez.

“Além de dar a importância devida aos pequenos detalhes, gerando leveza e paz através do cultivo de bons hábitos que favoreçam o equilíbrio da saúde física e mental”, diz.

Lilian Lopes  –  [email protected]