O prefeito eleito de Vitória da Conquista, radialista Herzem Gusmão Pereira, conseguiu um feito na última eleição municipal: derrotou o Partido dos Trabalhadores em seu mais antigo reduto, após de 20 anos no poder. Ainda envolvido com a montagem do seu secretariado, Gusmão conversou com A TARDE sobre seus projetos e a queda do principal fiador da sua candidatura, o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Segue entrevista concedida ao jornal A Tarde – capital baiana
Confira a reportagem do A Tarde divulgada nesta terça-feira (29).
Como o senhor analisa a queda do ex-ministro Geddel?
Foi um grande prejuízo para Conquista. Enquanto ministro na Integração Nacional (no governo Lula), ele sempre teve uma atenção especial com a cidade. Não trabalhou mais porque o atual prefeito (o petista Guilherme Menezes) não o procurava.
Então preocupa não ter em Brasília a interlocução de um político próximo do presidente Michel Temer, como era Geddel?
Não preocupa. Tenho certeza que o presidente terá com Conquista, a maior cidade da Bahia governada pelo PMDB, uma atenção especial. Além disso, terei no Congresso Nacional a ajuda do deputado federal Lúcio Vieira Lima e dos deputados do PMDB e da nossa bancada (PTB, PSDB, DEM).
A sua eleição foi um marco porque retirou o PT do comando do seu mais antigo reduto. O que foi decisivo para sua vitória?
O cansaço natural. Foram 20 anos de poder e o PT interrompeu o diálogo com a cidade. Não houve avanço, não resolveu a problema de água em Conquista. Com várias promessas, o PT chegou a prometer uma barragem e antes deles edificarem a barragem do rio Catolé, na região de Barra do Choça, prometeu uma outra barragem no rio Pardo. O problema do aeroporto foi também importante para atrasar o desenvolvimento da cidade. Na educação, o PT não bateu uma meta sequer do Ideb, durante 20 anos. O SUS é muito mal avaliado e em relação à violência, Conquista figura dentre as 50 cidades mais violentas do mundo, ao lado de Salvador e Feira de Santana, segundo uma ONG mexicana. No Mapa da Violência do Instituto Sangari, Conquista também figura dentre as cidades mais violentas da pátria.. Conquista não avançou nas questões estruturais, dos transportes. A cidade é cortada por duas alças de anel e não tem um viaduto.
Os seus adversários dizem que o senhor não tem experiência administrativa para governar um município do porte de Conquista, terceira cidade do estado em população e o sexto PIB, algo em torno de R$ 4,5 bilhões. Como o senhor vê essas críticas?
Isso é tão relativo. ACM Neto (prefeito de Salvador) não tinha experiência e saiu (primeira vez) como deputado federal e hoje foi premiado duas vezes o melhor prefeito do Brasil. Tive uma experiência na Assembleia Legislativa por 15 meses. Por outro lado, não vou governar só. Nos estamos dialogando com a cidade e não pretendemos improvisar, pretendemos planejar Vitória da Conquista e vamos governar com os melhores. A preocupação do PT é que eu fui candidato em 2008 e 2012 e a cidade assimilou as nossas pregações: diretrizes simples e exequíveis. As promessas mirabolantes do PT, a população viu que tratava-se do jogo petista de só fazer propaganda.
Das promessas que o senhor fez durante a campanha, e que o então ministro Geddel prometeu ajudar, quais têm recursos assegurados?
Eu visitei a SAC (Secretaria de Aviação Civil) com o deputado federal Lúcio Vieira Lima, que foi relator de uma Medida Provisória que permitiu o governo colocar no Orçamento da União de 2017 R$ 398 milhões para reformas e conclusão de aeroportos. Lá, o secretário Dario Lopes admitiu que a primeira licitação do ano que vem será do terminal do aeroporto de Vitória da conquista. Em relação à barragem do Catolé, o deputado Lúcio conseguiu colocar uma emenda de bancada no orçamento de R$ 40 milhões. Não é impositiva, mas já é uma sinalização. Olha, o governo federal tem a obrigação de resolver essas duas demandas de Conquista. Nós não vamos para Brasília de cuia na mão pedir, nós vamos exigir.
O governador Rui Costa garantiu, durante a campanha eleitoral em Conquista, que ele iria entregar o aeroporto e a barragem do Catolé
Travou-se uma batalha porque o governo, no período eleitoral, garantiu mais uma vez para Vitória da Conquista que vai resolver o problema do aeroporto com recursos próprios se o governo federal não sinalizar e dispondo-se a concluir a barragem. Eu não acreditei, porque nós conhecemos a situação da Bahia que não está conseguindo nem pagar os terceirizados. O PT não quebrou apenas o Brasil, quebrou a Bahia. Mas a propaganda do partido na campanha foi assumindo o compromisso, colocaram inclusive em outdoors, que vão resolver o problema do aeroporto. E o governador disse categoricamente que a barragem vai sair. Ótimo, porque Conquista ganha com isso. E nós continuamos lutando em Brasília para esses recursos serem canalizados.
Falando do governador Rui Costa, como o senhor imagina que será sua relação com o governo do estado?
Relação institucional, vou fazer uma visita ao governo. Inclusive eu preciso saber do governador se ele, verdadeiramente, vai resolver o problema do aeroporto e o problema da barragem.
O senhor acha que com a derrota sofrida pela esquerda nestas eleições, abre-se um caminho favorável ao PMDB, DEM e PSDB em 2018?
O Brasil aprovou o impeachment. Eu diria que essa eleição no País, com o PT elegendo apenas um prefeito de capital (Rio Branco, no Acre), o povo brasileiro referendou, avalizou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O PT por tudo que fez no País pagou caro nestas eleições. Porém, o partido ainda vai respirar na Bahia porque tem dois anos de governo pela frente. Mas se a eleição fosse agora, imediatamente, não tenho dúvida de que o PT também perderia a eleição para o governo do Estado.
O senhor está se dedicando, neste momento, à montagem do seu secretariado. Já há nomes definidos para integrar sua equipe de trabalho?
Temos esses nomes, mas nós estamos guardando para divulgar entre os dias 15 e 20 de dezembro. Estamos conversando com técnicos, com especialistas. Será um secretariado com perfil técnico, discutido com os partidos que me apoiaram. O momento requer austeridade, redução de cargos de confiança, redução de secretarias. O provo brasileiro que foi às ruas em 2013 cobra isso. Aí esta força que tem hoje o juiz Sérgio Moro (na Lava Jato), isso é a opinião pública que respalda, avaliza. Então esperamos que tenhamos um governo para corresponder a expectativa. E vamos fazer um governo de auditoria. Não é apenas a auditoria dos 20 anos do PT. Iremos a cada mês auditando a coisa pública. Até as prefeituras que estão arrumadas, têm uma boa gestão, estão com dificuldades. Vou citar o exemplo da prefeitura de Salvador. O prefeito Neto está falando que 2017 será um ano difícil, de queda de receita. Então precisamos contrapor, com a seriedade, a austeridade e evitando que os recursos públicos possam ir para o ralo. A CGU destaca que 90% dos recursos públicos não chegam para a saúde, os hospitais os programa de Saúde da Família e Seguridade. Isso é um absurdo. E metade do recursos da educação não chegam às escolas.
E o senhor acha que isso é em função do que, desvio, corrupção…
Eu diria que é falta de uma gestão amarrada. Eu já fui gerente de banco e gerente é sempre auditado e todo dia tem prestação de contas. Precisamos promover auditagens nas gestões, porque o dinheiro público pertence a todos nós e precisamos ter critérios na utilização.
O senhor anunciou há alguns dias a composição da equipe de transição. Já foi detectado algo que confirme a necessidade de uma auditoria na prefeitura?
Não, porque não foi instalada a equipe de transição. O prefeito dificultou. Fizemos uma solicitação a ele para antecipar essa instalação para novembro, devido á complexidade da tarefa. O prefeito se valeu de resolução do Tribunal de Contas dos Municípios, que dá prerrogativa de 30 dias para funcionamento da comissão de transição, e não autorizou. Só em dezembro, mas não teremos 30 dias porque o mês é quebrado devido aos feriados de Natal e fim de ano. E o ofício que enviei como prefeito eleito, ele sequer teve a gentileza, a delicadeza, em assinar. Eu diria que ele precisa respeitar o resultado das eleições em Conquista.
O senhor acha que é uma retaliação?
Não, falta de grandeza. Barack Obama (presidente dos EUA) convidou imediatamente Donald Trump (presidente eleito dos EUA) e recebeu ele na Casa Branca. Então a minha cidade, a nossa querida Vitoria da Conquista, é muito mais importante do que eu, o partido e o PT. Portanto, esperámos este gesto de grandeza do atual prefeito.
O senhor falou em redução de secretarias e de cargos de confiança? O senhor espera enviar uma projeto à Câmara neste sentido ainda na gestão do prefeito Guilherme Menezes?
Eu imaginava logo uma reforma administrativa no mês de dezembro, mas o prefeito adiou o funcionamento da comissão de transição. Nós não estamos recebendo uma prefeitura de uma aliado, estamos recebendo de um adversário. Nós não vamos implantar uma reforma administrativa de maneira açodada. Temos atualmente 19 secretarias, mas não pretendo, ao assumir, empossar os 19 secretários. Estamos trabalhando com a possibilidade de nomear entre 12 a 14 auxiliares. Depois, com a reforma e sabendo da saúde financeira da prefeitura, podemos ter até um corte de secretarias até mais drástica.
E que secretarias não teriam titulares neste primeiro momento do seu governo?
Estamos conversando, discutindo, mas não tem ainda nada decidido.
Em relação a terceirizados, gastos com pessoal?
Tenho falado que o nosso modelo de gestão será o governo de ACM Neto que está dando certo. Austeridade, controle, eficiência no serviço público, não improvisar. Trabalhar com técnicos, claro que tem que trabalhar com político também. Mas contratar um equipe de excelência. Conversei com o secretário da Fazenda de Salvador, ex-governador Paulo Souto (DEM), exemplo para todos os prefeitos da Bahia, e ele mostrou a necessidade da austeridade.
E quanto aos cargos de confiança?
Nós pretendemos reduzir em 50% esses cargos. Falam que são mais de 300 cargos. E vamos fazer uma operação pente-fino, revisar os muitos contratos de alugueis, veículos contratados, que são quase 500 carros. Ver a realidade e iniciar a posteridade.
O senhor tem ideia da economia que terá com essas medidas todas?
Não tenho ideia porque a prefeitura de Vitoria da Conquista fala muito em transparência, mas eu lamento informar que é uma caixa preta. Eu quero e pretendo abrir esta caixa preta para a gente saber o que tem dentro.
E o senhor começa a governar com qual orçamento?
Em torno de R$ 780 milhões. Mas vamos, com técnicos, avaliar se é o orçamento real ou se tem uma maquiagem aí.
Os prefeitos estão, como os governadores, brigando para garantir também os juros dos recursos da repatriação. Em época de crise econômica, o pacto federativo ganha força
Na posse do presidente Michel Temer ele falou da necessidade do pacto federativo, mas não vi nenhuma expressão política do País fustigar o presidente quanto a isso. Seria extraordinário se o quinhão dos municípios fosse maior (hoje é de 24,2% das receitas fiscais). Lamento que o pacto federativo esteja fora da agenda, da pauta política. Na primeira audiência que tiver com o presidente, vou lembrá-lo que ele pregou e defendeu o pacto federativo, única solução das prefeituras falidas. Agora, temos de acabar com prefeito perdulário, irresponsável e a gastança contra os interesses da sociedade.
Assumindo a prefeitura, o senhor abandona o rádio só para governar, ou vai conciliar as duas atividades?
Não sou político profissional nem tenho o mandato de prefeito como profissão. Tenho 48 anos de rádio. Do rádio não saio, do rádio ninguém me tira.
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