Sete meses sem futebol em Conquista
Por/ Carlos Albán González – jornalista
Vitória da Conquista, terceira cidade baiana, onde a maioria de sua população, de mais de 380 mil habitantes, tem poucas opções de lazer, vai ficar o resto do ano sem o seu futebol, prematuramente eliminado das competições que vinha disputando até o mês passado. Os uniformes alviverde do Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista e o alviceleste do Conquista Futebol Clube já devem estar nos armários, protegidos com naftalina.
O ECPP Vitória da Conquista divulgou nota em sua página na internet agradecendo o apoio em 2018 dos seus sócios e torcedores, pelo “comparecimento em nossos jogos, passando uma energia que nos motiva a continuar o nosso trabalho, buscando representar a nossa cidade da melhor maneira possível”. Prometendo maior dedicação em 2019 o clube estende os agradecimentos aos 19 patrocinadores e aos meios de comunicação.
Nenhuma referência é feita sobre a quebra de contrato e os direitos trabalhistas do elenco de profissionais (jogadores e comissão técnica). Por fim, o comunicado revela que os planos para os próximos sete meses é de trabalhar com as divisões de base, visando a Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro.
O balanço financeiro do ano de cinco meses do Conquista ainda não chegou ao conhecimento dos torcedores. Numa consulta aos borderôs da CBF e da FBF constatei que somente nos seus dois primeiros jogos em 2018, contra Vitória e Jequié, pelo Campeonato Baiano, foi registrado um lucro de R$ 57.377,27, correspondente a um público pagante de 4.581pessoas. Já na terceira partida diante do Juazeirense o torcedor começou a se afastar do Estádio Lomanto Júnior.
Nos quatro últimos jogos – um deles, contra a Jacuipense, foi programado pelo presidente da FBF, o conquistense Ednaldo Rodrigues, para a noite de Quarta-Feira de Cinzas. Pelo torneio baiano o déficit foi de R$ 15.496,10.
No dia 30 de janeiro o Conquista deixou de ganhar R$ 1 milhão, prêmio dado pela CBF aos clubes que passaram para a segunda fase da Copa do Brasil. Diante de 1.399 torcedores o representante baiano empatou sem gols com o Boa Esporte, resultado que, pelo regulamento da competição, favoreceu a equipe mineira, deixando ainda com os baianos um prejuízo de R$ 10.994,14.
Antes de terminar o semestre o Vitória da Conquista ainda tinha um compromisso, talvez o mais importante da temporada: o Campeonato Brasileiro da série D. A CBF forneceu passagens aéreas, hospedagem e alimentação para 25 pessoas nos jogos em Campina Grande (Paraíba), Itabaiana (Sergipe) e Boca da Mata (Alagoas). Com apenas 6 pontos ganhos em seis partidas o ECPP não passou da primeira etapa, perdendo a oportunidade de subir um degrau mais alto no futebol brasileiro.
Chamou a minha atenção o fato de que o Conquista realizou suas três partidas no “Lomantão”, com pouca divulgação, em três noites frias de segundas-feiras, para um platéia de 1.350 pagantes, que deixou nas bilheterias a quantia de R$ 11.225,00. Ao mandante restou um prejuízo de R$ 23.459,15.
O mais interessante é que, nos sábados e domingos que antecederam a essas três partidas, não houve programação de espécie alguma no estádio. Cabe então uma pergunta: por que o clube e a FBF não solicitaram da CBF uma mudança de datas? Ednaldo (Nadinho para seus conterrâneos) é um dos mais influentes dirigentes de federação junto à “cartolagem” cebedense, tendo sido presenteado com uma vice-presidência da entidade nacional, que vai assumir em abril do próximo ano.
Com 17 anos à frente do futebol baiano, graças aos votos de mais de 300 ligas do interior e a ausência de concorrentes, Ednaldo tem sido um parceiro discreto e fiel dos últimos presidentes da CBF, processados pela justiça dos Estados Unidos por prática de atos de corrupção. A longevidade no cargo tem como principal motivo as benesses concedidas pela entidade nacional, como viagens ao exterior e uma ajuda mensal de R$ 100 mil, sendo R$ 25 mil destinados aos “cartolas” estaduais.
O próximo gesto de carinho, chamado de “voo da alegria”, levará os 27 presidentes de federações à Rússia, onde permanecerão durante a Copa do Mundo, com todas as despesas pagas. “Será uma viagem de trabalho onde eles vão aprimorar seus conhecimentos sobre administração esportiva”, justifica a CBF.
Sindicato denuncia
O Sindicato dos Atletas Profissionais da Bahia (Sindap-BA) foi orientado pelo Ministério Público a entrar com uma denúncia na Delegacia Regional do Trabalho contra os clubes Conquista F. C, Teixeira de Freitas e Galícia, que participaram da edição deste ano do Campeonato Baiano da série B, por falta de pagamento de salários aos seus jogadores e funcionários. Antes de entrar com a ação o presidente Osny Lopes (ex-jogador do Bahia e Vitória) entrou em contato com os denunciados.
O diretor de futebol do Conquista, Paulo Roberto, revelou ao “Bahia Notícias” que o clube estava aguardando o pagamento de duas ou três das parcelas – não revelou o valor de cada uma – do convênio firmado com a Prefeitura de Vitória da Conquista. “O nosso presidente (Eduardo Mesquita) já conversou com os atletas, garantindo que a situação será regularizada. Ele tem ido constantemente à prefeitura. O prefeito Herzem Gusmão tem se negado a liberar as parcelas restantes, alegando que o Conquista esteve em atividade apenas por três meses”
Numa competição com apenas seis equipes o Conquista terminou em quarto lugar – o último jogo em Teixeira de Freitas foi cancelado para não criar mais despesas – com 12 pontos ganhos em nove partidas. Com exceção do Atlético de Alagoinhas, que subiu para a primeira divisão, os demais têm inscrição garantida em 2019 (não se sabe em que mês).
Se os jogadores não corresponderam tecnicamente, a torcida do Conquista também não colaborou. Certamente faltou juma campanha de divulgação das cinco partidas disputadas no “Lomantão”, que recebeu somente 1.199 torcedores, sendo que contra o Teixeira de Freitas foi registrado um público de 51 pagantes. A arrecadação apurada foi de R$ 9.640,40; as despesas somaram R$ 33.093,35, ficando o clube local com um prejuízo total de R$ 23.452,95.
Conclusão: nessa crise interminável que está destruindo o futebol baiano os dois clubes de Vitória da Conquista não são as únicas vítimas. Três campeões do estado (Botafogo, Ypiranga e Leônico) são simplesmente recordações dos desportistas mais antigos; o Galícia (tricampeão baiano) mostra que é o filho rejeitado da colônia espanhola; Bahia e Vitória, que se revezam na conquista dos títulos estaduais, lutam, como todos os anos, para fugir da zona de rebaixamento do “Brasileirão”.
Por/ Carlos Albán González – jornalista
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