Perícia no DF tentará apurar a causa da morte do ex-presidente. Exumação em cemitério de São Borja durou mais de 18 horas.
O traslado dos restos mortais do ex-presidente João Goulart para Brasília foi iniciado na manhã desta quinta-feira (14), em um avião da Força Aérea Brasileira. Inicialmente previsto para decolar às 6h, o avião deixou o aeroporto de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, às 7h40. A viagem deve durar cerca de quatro horas, com a presença dos peritos.
Um outro avião se prepara para partir com familiares e autoridades. Esse voo fará uma escala em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, para que os passageiros façam a troca para o avião presidencial.
Como a exumação demorou mais de 18h, as autoridades e a polícia alteraram a programação. Antes, o plano era levar o corpo até Santa Maria, por via terrestre, para depois seguir em um voo até a capital federal.
Após a exumação, que começou por volta das 8h de quarta (13) no cemitério Jardim da Paz, a urna com os restos mortais do ex-presidente foi colocada em um caminhão da Defesa Civil gaúcha por volta das 2h30 da madrugada, com honras militares e coberto por bandeiras do Brasil e de São Borja.
Segundo a ministra Maria do Rosário, a solenidade em Brasília, onde os restos mortais de Jango serão recebidos com honras de chefe de Estado, está mantida para as 10h desta quinta. A presidente Dilma Rousseff e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney participarão da cerimônia, informou o Palácio do Planalto. Fernando Henrique Cardoso não deverá comparecer, pois se recupera de uma diverticulite.
Após o término dos trabalhos em Brasília, os restos mortais de Jango voltam para São Borja no dia 6 de dezembro, data de sua morte.
O objetivo do procedimento é esclarecer se Jango morreu de ataque cardíaco, como consta na documentação oficial, ou se foi assassinado por envenenamento. Nos últimos anos, surgiram evidências de que o ex-presidente pode ter sido mais uma vítima da Operação Condor, a aliança entre as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores dos regimes além das fronteiras nacionais.
Morte ocorreu em exílio na Argentina Deposto no golpe militar de 1964, Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente teria sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.
A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.
Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado.
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