Gilberto Dimenstein*
Sou de uma geração que via em Salvador a terra da felicidade e da criatividade por causa de gente como Gil, Caetano, Glauber, Jorge Amado, Verger, Bethânia, Gal, João Ubaldo, e por aí. Essa imagem de alegria e da descontração ficou por causa do majestoso Carnaval de rua. Mas é uma mentira – e a violência que se vê ali, depois da greve, é um retrato profundo.
Por razões familiares, vou com constância para Salvador e o que vejo é uma cidade cada vez mais decadente e violenta – vemos isso pelo lixo na rua e pelos indicadores de morte na periferia, além do aumento do roubo.
Mas o pior sinal, o mais trágico, é a gigantesca fuga de cérebro da cidade. São talentos da publicidade, da medicina, do marketing, das finanças, que vêm para São Paulo ou Rio. É gente simbolizada por tipos como Nizan Guanaes. Tire os baianos da publicidade paulista e tenta imaginar quantas empresas a menos teríamos – e quantos prêmios não viriam.
Com tantos talentos, São Paulo deveria pagar royalties para a Bahia. Recife para segurar seus talentos criou, por exemplo, o Porto Digital e passou a exportar software.
Os baianos que conheço, principalmente os que saíram, são muito mais duros com Salvador que eu estou sendo neste momento.
A boa notícia é que dá para reverter, como mostra o Rio, cada vez mais exuberante economicamente. Mas o êxodo de cérebros faz desse desafio quase uma missão impossível.
* Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Em colaboração com o Media Lab, do MIT, desenvolve em São Paulo um laboratório de comunicação comunitária. É morador da Vila Madalena.
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