O jornalista, radialista ou apresentador de um programa no exercício de sua profissão, em nome do poder da imprensa, não pode, não tem o direito e nem deve chamar de monstro a pessoa que praticou um crime, por mais bárbaro e cruel que ele seja. Esse tipo de comportamento, querendo ser o próprio Deus, demonstra arrogância, prepotência e pedantismo da mídia que acha que tudo pode.
A função do jornalismo não é de julgar, dar sentença e condenar, mas de informar, denunciar, investigar e até interpretar e comentar, se for o caso. Seu papel é apurar os fatos e divulgar a notícia. O público não pode ser instigado a cometer atos e atentados para praticar justiça com as próprias mãos. Não se pode cometer absurdos em nome da liberdade de imprensa.
Não cabe ao jornalista ou apresentador de uma TV chamar de monstro um criminoso estuprador de meninos. Quer queira quer não, trata-se de um ser humano. Chamá-lo simplesmente de monstro é um procedimento antiético, uma atitude raivosa e desequilibrada emocionalmente.
Nem a Justiça no seu veredicto trata o criminoso, qualquer que seja a barbaridade, de monstro. Na minha longa vida profissional, já vi repórter fazer o papel de policial e tratar o entrevistado de bandido, marginal e até dar voz de prisão. Além de degradante para um jornalista, considero um desvio de conduta profissional e moral. O pior é que tudo isso é feito com as classes mais baixas.
Antes de tudo, o profissional da imprensa não deve fazer julgamentos pessoais e destilar toda sua raiva quando no exercício do seu trabalho. Como ser humano, fora da sua atuação profissional, pode se expressar como quiser e até marcar sua posição política, social ou religiosa. Escrevendo ou apresentando a notícia, a sociedade espera dele equilíbrio, controle emocional e ponderação.
Dizem que o advogado acha que é Deus, mas o jornalista tem certeza que é. Quando ele se arvora a ser Deus e aponta seu dedo de exterminador, foge de sua responsabilidade ética e ultrapassa os limites da liberdade de imprensa e expressão. O abuso da liberdade significa perda do direito de defendê-la. Então, ele passa a ser visto pela opinião pública como um arrogante, vaidoso e sem credibilidade.
Não estou aqui para dar lição de moral, mesmo porque sou humano e tenho meus erros. Apenas estou dando meu humilde ponto de vista sobre o papel da mídia que deve passar seriedade e respeito no tratamento com qualquer um que seja.
O controle externo da comunidade para os excessos da mídia não significa censura e quebra da democracia como propagam os donos de veículos e muitos profissionais. É por isso que defendo a criação do Conselho Federal de Jornalismo ou o fortalecimento da Comissão de Comunicação Social, para evitar aberrações e violações dos direitos humanos.
A função de sentença e condenação é da Justiça, com base nas leis. Se elas são frágeis, aí é outro problema. Podemos criticar e denunciar a impunidade e até mostrar os erros da Justiça, mas o jornalista não pode no seu veículo descarregar toda sua fúria emocional e chamar um criminoso de monstro.
Já imaginou se os profissionais da imprensa no exercício de suas atividades procedessem da mesma forma daquela gente curiosa que querendo aparecer na imagem foi para a porta do Fórum xingar, falar palavrões e até tentar linchar o casal Nardoni?
Outro fato deplorável que nos chama a atenção no meio jornalístico é o tratamento diferenciado que a nossa imprensa capitalista dar ao rico e ao pobre. O preso comum é violado nos seus direitos de defesa e antes de ser julgado é execrado e condenado. Os direitos humanos deveriam ser igualitários.
Quando um juiz atropela uma pessoa ao cometer uma infração de trânsito, ele se protege nas brechas das leis e se reserva no direito de não falar á imprensa. Quando acontece o mesmo caso com um simples cidadão trabalhador, sua foto e imagem são logo estampadas em toda mídia que procura arrancar uma entrevista conduzida.
O marginal comum, muitas vezes, é forçado a falar, e a mídia não mede as consequências, mesmo quando existe exagero nas informações. O pobre que não tem o amparo da lei, nem recursos financeiros, é logo massacrado e trucidado até com calúnias, injúrias e difamações.
Quando se trata de gente da alta classe, toda poderosa, a imprensa teme um processo e procura dar os fatos com mais cuidado. Existem casos, por exemplo, de pedofilia e estupro na alta sociedade que nem chegam a ser divulgados. As camadas sociais mais pobres estão vulneráveis à ação do poder da mídia alta, além de temer e nem saber a quem apelar para defender seus direitos.
Jeremias Macário é jornalista e escritor
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