O presidente-executivo e cofundador da Uber, Travis Kalanick, renunciou ao cargo nesta terça-feira (20), pouco mais de uma semana após anunciar seu afastamento temporário. A empresa enfrenta uma crise em várias frentes, o que causou uma pressão de investidores sobre sua liderança na empresa.
A Uber enfrenta uma turbulência devido a:
- denúncias de assédio sexual;
- fuga e demissão de executivos;
- roubo de propriedade intelectual;
- uso de tecnologias para driblar autoridades;
- reclamações de motoristas por baixo pagamento e por direitos trabalhistas.
“Eu amo a Uber mais do que qualquer coisa no mundo e, nesse momento difícil da minha vida pessoal, eu aceitei o pedido dos investidores para me afastar da empresa, de forma que a Uber possa voltar ao eixo, em vez de ser prejudicada por outras questões”, afirmou Travis Kalanick, CEO do Uber
Na semana anterior, ele já havia anunciado que se afastaria por tempo indeterminado das suas atividades na companhia por causa do luto pela morte de sua mãe em um acidente de barco. “Perder de forma trágica um ente querido tem sido difícil para mim e eu preciso me despedir apropriadamente”, afirmou Kalanick, sobre a perda da mãe.
Kalanick fundou em 2009 o serviço de transporte alternativo urbano. Desde então, conduziu a empresa rumo a uma expansão para mais de 500 cidades ao redor do mundo. Por onde passou, a empresa promoveu uma onda de descontentamento na indústria de táxi e incentivou mudanças nas regras de serviços de transporte — no Brasil, por exemplo, a companhia está no cerne de uma regulamentação em São Paulo e de um projeto de lei na Câmara dos Deputados que pode vetar a operação de serviços similares.
Em um comunicado, o conselho de administração do grupo elogiou o comportamento do executivo. “Travis sempre colocou o Uber em primeiro lugar”, afirmou o grupo. “É uma decisão corajosa e um sinal de sua devoção e amor pelo Uber”, completa, em nota. O conselho informa anida que, apesar de deixar o posto de presidente-executivo, que Kalanick permanecerá como integrante do conselho de administração.
Estupro e assédio sexual
A saída de Kalanick agrava ainda mais a debandada de executivos da Uber, que já não conta com líderes para as áreas de marketing, de operações, de finanças e para sua divisão de corridas compartilhadas.
A mais recente defecção antes da de Kalanick havia sido a de Emil Michael, vice-presidente sênior e aliado próximo do ex-CEO. A saída dele ocorreu após o conselho se reunir para avaliar recomendações de uma investigação sobre assédio sexual e questões de governança corporativa que era conduzida pelo escritório de advocacia do ex-procurador-geral dos EUA, Eric Holder.
Michael é acusado de ser responsável pela cultura agressiva e machista imposta na empresa e denunciada pelos trabalhadores. Ele está no centro do escândalo mais recente da Uber. Após um motorista da empresa em Nova Délhi, na Índia, estuprar uma mulher em 2014, um funcionário da Uber obteve um parecer médico da vítima e o entregou a Kalanick e a Michael. A finalidade, segundo a imprensa americana, era desacreditar o relato da vítima. O estuprador foi condenado à prisão perpétua no ano seguinte.
Na terça-feira da semana passada, a companhia informou a demissão de 20 funcionários, depois de 215 queixas na empresa sobre abuso sexual e discriminação. Só que Eric Alexander, o funcionário que coletou o atestado da mulher, não estava na lista. Ele só foi demitido na quinta-feira passada, após veículos da imprensa apontarem sua ausência entre os dispensados.
O diretor técnico do grupo, Amit Singhal, foi forçado a renunciar após ocultar a queixa por abuso sexual que lhe foi dirigida pela Google. Outro funcionário, Jeff Jones, deixou a empresa em março, seis meses depois de ter sido contratado, por descordar sobre a estratégia do grupo.
Roubo de propriedade intelectual
Em fevereiro, a Waymo, a filial da Alphabet (dona do Google) que desenvolve carros autônomos, acusou um dos ex-diretores da Uber, Anthony Levandowski, de ter roubado informação técnica. Levandowski trabalhava na Waymo, de onde saiu para fundar sua própria companhia, Otto, que foi posteriormente vendida à Uber.
A Uber anunciou no fim de maio a demissão de Levandowski, acusando-o de não querer cooperar com a investigação que foi aberta como resultado deste litígio.
Tecnologia para driblar autoridades
A Uber também é questionada sobre o uso de programas de evasão de regulações e por táticas voltadas a desestabilizar seus rivais.
Ainda neste âmbito legal, o governo dos Estados Unidos abriu uma investigação contra a Uber, suspeita de ter utilizado um software para ajudar seus motoristas a driblar as autoridades em áreas onde não podia atuar.
A Uber enfrenta frequentemente problemas legais com seus motoristas (por falta de pagamento em Nova York; por processos trabalhistas no Brasil e nos EUA), com os táxis (na Argentina, na França, na Polônia, na Espanha, no Brasil entre outros países) e com as autoridades.
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