A arte da política e a fantasia de que Brasília representa o povo

por Fernando Duarte

Zveiter e a defesa de Temer | Foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

É difícil a arte de fazer política no Brasil. Sim, política, quando bem feita, é uma arte. Não o que se vê na Câmara dos Deputados, em especial na Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ). Nos últimos dias, a coalisão do governo de Michel Temer tem se esforçado para dar uma sobrevida ao peemedebista. Trocou cadeiras na CCJ em troca de apoio para que o relatório do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), favorável à aceitação da denúncia contra o presidente, seja rejeitado. Segundo a contagem de interlocutores governistas, não é descartado o êxito do governo na comissão. Porém há o risco de efeito manada, algo sempre presente em casos cuja repercussão pública é inversamente proporcional a popularidade de quem é objeto da denúncia. O governo Temer tenta, de todas as formas, ser governo. É um grupo político que chegou ao poder após coordenar um impeachment questionável sob o ponto de vista moral. E que se tornou ainda mais questionável moralmente após sucessivos membros serem envolvidos em escândalos de mau uso do dinheiro público. O “nada acusatório”, como pregou o defensor de Temer na CCJ, é o mesmo nada que apeou Dilma Rousseff do poder em 2016, apesar de estar travestido como pedalada fiscal – que é crime de responsabilidade, porém, se houver uma escala criminal, é menos grave do que receber um empresário acusado de inúmeras irregularidades na calada da noite, ouvir o “falastrão” dizer que comprou juízes e um procurador e ficar calado (isso sem contar a possibilidade de comprar o silêncio de um ex-deputado ou de receber eventualmente vantagens ilícitas pelo uso do cargo). Sérgio Zveiter não é um santo, assim como qualquer um daqueles que deve votar pela permanência ou pela saída de Temer. Nenhum deles é um garoto que acabou de estrear na política. E todos sabem muito bem como jogar. E, independente do resultado da denúncia contra Temer na CCJ ou no plenário, os deputados evidenciam como é difícil fazer política no Brasil. “Não é fantasiosa a acusação”. É fantasioso acreditar que os atores do teatro em Brasília estão empenhados unicamente em ser representantes do povo. Basta assistir as justificativas de quem defende Temer. Esse trecho integra o comentário da RBN Digital, veiculado às 7h e com reprise às 12h30.