Jaques Wagner (PT) e ACM Neto (DEM)
Depois de ouvir do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que seu apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) é uma possibilidade, o governador Jaques Wagner não se fez de rogado. Na primeira oportunidade, foi a público e declarou que não apenas vai trabalhar pelo apoio de Neto a Dilma como ao do candidato da chapa governista à sua própria sucessão, a qual, tudo indica, quer que seja liderada por um nome do petismo. Assim, Wagner demonstra que, além de republicano, uma imagem que conseguiu cunhar deliberamente ao longo de dois mandatos incompletos como governador, conhece as normas da boa educação política.
Realmente, não seria de bom tom, por exemplo, deixar o prefeito de Salvador, eleito com os votos majoritamente da oposição ao seu governo e ao PT local e nacional, proclamando sozinho que não descartava apoio à sua maior aliada. Aliada, aliás, que, na tentativa de eleger um correligionário, Nelson Pelegrino, à Prefeitura de Salvador, baixou na capital baiana para um comício dizendo de Neto, então candidato do DEM, cobras e lagartos e protagonizando a encenação já armada pela campanha de seu partido de que sem ela e Wagner a cidade era simplesmente ingovernável.
Com seu surpreendente discurso pró-Dilma, Neto não apenas insinuou que o partido a que se opôs e venceu na disputa pela Prefeitura de Salvador dizia a coisa certa como, naturalmente, abriu portas supostamente para um ótimo relacionamento com o eventual futuro aliado Wagner, que agora retribui habilmente a gentileza, afirmando que, no que depender dele, vai trabalhar para que o democrata realmente se aproxime eleitoralmente tanto da presidente quanto do candidato que deverá apresentar para tentar eternizar-lhe a obra na Bahia por, pelo menos, mais quatro anos.
Muito danado esse governador. Com a colaboração da audiência, falou e disse sobre os seus planos de aproximação com o DEM baiano sem ao menos passar a impressão de que na base da idéia da unidade com um adversário pode se disfarçar o temor de que as eleições do próximo ano não sejam nada fáceis para o seu grupo político, especialmente se ele for liderado por um candidato petista, nem muito menos para a primeira mandatária do país, principalmente se o Brasil continuar produzindo esse “pibinho” e a inflação, que corrói o poder de compra do trabalhador, não der mostras de que vai errefecer.
Na verdade, com o espaço que lhe foi dado pelo maior líder do Democratas na Bahia atual para demonstrar toda a sua magnanimidade política e, quiçá, eleitoral, o governador ficou à cavaleiro para conduzir e executar um plano muito mais audacioso e que não se esperava que viesse a tentar tão cedo. Ele consiste em avançar sobre a oposição, assimilando completamente o personagem que emergiu das urnas do ano passado como a sua maior liderança natural, aparecendo, inclusive, na pole position de várias pesquisas de intenção de voto ao governo para 2014.
A bem da verdade e, apesar dos incentivos que surgem de todos os lados, ACM Neto já disse aos quatro ventos que não é candidato a governador simplesmente por considerar uma aventura, com pouco mais de 30 anos de idade, deixar a Prefeitura da terceira capital do país, por mais problemas que ela exale, buscando uma candidatura que pode levá-lo tanto a uma vitoria quanto a uma grande decepção, senão a uma catastrófica derrota. Mas que fique claro que não é Neto que Wagner visa e sim o seu até agora intocado capital político.
As mesmas pesquisas que apontam o virtual favoritismo do prefeito a uma eventual candidatura ao governo indicam que, passados quatro meses de sua gestão na Prefeitura, ele continua exibindo um considerável respaldo de popularidade em Salvador, confirmando a já conhecida fase inicial de lua de mel que todo novo governante mantém com o eleitorado, o qual, naturalmente, influencia de forma poderosa nos números que emergem das sondagens que se faz sobre a próxima sucessão. Não erra quem alega que o bom momento desfrutado por Neto em Salvador é o oposto do experimentado pelo governo Wagner na capital baiana.
O quadro, que já teria se configurado na campanha municipal passada, quando o democrata elegeu-se diferenciando-se da gestão do governador, só teria piorado desde então, com a estabilidade da animosidade com parte do funcionalismo público, os problemas na saúde e a sensação de insegurança no campo estadual, para ficar em alguns problemas. Seria este o motivo para Wagner buscar, então, colar sua imagem à do democrata, construindo, na seara pública, a idéia de que os dois têm motivo de sobra para trabalharem juntos, sem restrições ou constrangimentos, pela cidade?
É o que pensam alguns democratas não-alinhados com o pensamento de aproximação com o PT engendrado pelo prefeito e outro silencioso mas indignado grupo de oposionistas diretamente interessados na disputa das eleições de 2014. Para eles, a sensação de que governo e Prefeitura são entes indiferenciados, como parecem estar a combinar o governador e o prefeito, é um péssimo negócio para quem pensa em concorrer à sucessão estadual combatendo o PT e tudo o que tem representado até aqui o governo Jaques Wagner.
* Texto originalmente publicado no jornal Tribuna da Bahia.
Raul Monteiro*
Foto: Manu Dias/Secom
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