Pela Sexta vez seguida, desde o fim do regime militar, o país foi às urnas no início de outubro no primeiro turno das eleições no Brasil, sendo de fundamental importância identificar possíveis lições.
No caso da Bahia ficou muito clara a estratégia “lulista” de Jaques Wagner, aproximou-se do eleitorado de Lula, numa aposta certa no entorno da sua alta popularidade e aprovação. Estava muito claro que o governador Jacques Wagner seria uma sucessão muito mais fácil, tal como um Tarso Genro ou mesmo, apesar de ser muito paulistano, um Suplicy, ou mesmo um Eduardo Campos. No entanto, oficializada sua candidatura, Lula e o Partido dos Trabalhadores apostaram alto em Jacques Wagner, reconhecendo em seu governo um grande capital eleitoral, beirando sempre o alto patamar vertiginoso de 40%, na média ao longo de todo o seu governo. É certo que o governo da Bahia teve dias de incertezas, no bojo da aliança com o PMDB, havia sim a premente desconfiança deste com o Partidos dos Trabalhadores e vice-versa. Ficou a impressão: à medida que o governo do Partido dos Trabalhadores avançava, o incômodo do PMDB tornava-se evidente. Ex-ministro da Integração Nacional, o deputado federal Geddel Vieira Lima decidiu fazer uma aposta arriscada quando, em 2009, optou pelo rompimento da aliança do seu partido com o PT, aliança que teve grande parcela de responsabilidade na histórica e surpreendente vitória de Jaques Wagner, sobre Paulo Souto, derrotando a máquina carlista. Com uma base de 114 prefeitos e mais de mil vereadores, o PMDB baiano constituía uma estrutura sólida, garantindo a ele uma grande penetração em todas as regiões do Estado, o que era reforçado pela sua atuação no Ministério, com um elenco significativo de obras em mais de 100 municípios. Acredito que o Grupo do PMDB, incluindo aí o Vice Governador Edmundo Pereira Santos, sabia dessa aposta arriscada: concorrer contra a máquina governista e tendo ainda que enfrentar o que restou da estrutura carlista, o Ministro decidiu apostar na sua capacidade de trabalho agressivo e foi à luta, formalizando a candidatura. E, qual era a estratégia? Crescer no espaço entre o governador e Paulo Souto, acreditava ele, apresentando-se como uma alternativa nova, contrapondo-se ao que já tinha sido e ao que está sendo, qualificando-se para ir ao segundo turno contra qualquer um dos dois. Naquele momento da pré-campanha fevereiro/maio, recebia entre 5 e 10% das intenções de voto, na média das pesquisas eleitorais. Ele e sua equipe acreditavam, então, que sua performance devia ser debitada ao fato de ser menos conhecido do que os outros dois principais adversários, Souto e Wagner, e que isto iria mudar à medida que o eleitorado fosse tomando conhecimento de suas propostas. Eis o fato: Nada disto foi capaz de fazer o candidato subir nas pesquisas eleitorais e ele continuava, a dez dias da eleição, estacionado nos mesmos patamares do início da campanha eleitoral, de acordo com os levantamentos de todos os institutos de pesquisa. Fato que foi usado até por Dilma Rousseff para anunciar publicamente que só tinha, agora, um candidato a governador da Bahia, Jaques Wagner, jogando para o alto o compromisso anterior, de ficar de braços dados com o ex-ministro. Sabe aquela história do Chapeuzinho Vermelho, pois é, no estilo petista de se fazer política, os históricos do PMDB foram na história do duplo palanque. “Como o presidente e sua candidata estariam em dois palanques se Wagner é o próprio PT de Lula?”. Estava em Curso a onda Lula, melhor, de novo, a onda vermelha tomava conta do Brasil. Esta postura do maior cabo eleitoral do Brasil foi reforçada pelas duas pesquisas divulgadas nestes últimos dias sobre a sucessão baiana, do Ibope e do Datafolha. As duas consultas mostraram um quadro estabilizado no Estado, com viés de alta para Wagner e de queda para seus adversários. Agora é o segundo turno. Bem, agora é uma nova história. Certamente a oposição irá ficar onde sempre esteve. E o PMDB? Irritados com as declarações de desprezo da presidenciável petista Dilma Roussef sobre o candidato do PMDB a governador na Bahia, dirigentes peemedebistas farão corpo mole no apoio à candidata do PT à Presidência em seus municípios, isso é um fato ou não? Veja o caso de Brumado, por exemplo, Edmundo Pereira Santos como se sabe é dessa cidade e mais, sua companheira Deputada Marizete Pereira também e não logrou êxito na renovação do mandato ao parlamento estadual, e, agora? Algumas perguntas: O que fará o agora ex-vice-governador? Será ele candidato a prefeito de Brumado ou novamente a Deputada Marizete Pereira se lançará candidata ao executivo brumadense?
E em Vitória da Conquista? O que resta de oposição não resiste à máquina do Partido dos Trabalhadores. Nessa cidade esse partido conseguiu eleger de forma direta quatro parlamentares. E a oposição? Nem de longe foi ouvida, não tem projetos, não tem nomes! A impressão existente é que Vitória da Conquista não confia nisso que se coloca como oposição, é como se fosse um texto panfletário de estudante juvenil. Em Jequié é a mesma história. Está aí o fim melancólico do que se conhece como Borges. A meu ver falta sabedoria política (?) nesses senhores que se arvoram históricos no campo da política, na prática tem se revelado exatamente o contrário, aliás, o povo é que tem tido uma sabedoria fantástica. No futuro próximo, quem analisar as eleições na Bahia, poderá ter um bom material para estudar e tentar explicar porque uma série de candidatos que, aparentemente fez tudo certo, seguindo todo o receituário do marketing eleitoral, não conseguiu sequer mudar de patamar nas pesquisas eleitorais. Há que se ter prudência. Pesquisa não é urna e só esta dá os números reais de cada candidato. Enfim, a versão atualizada da “Espada de Dâmocles”, O certo é que todos os políticos acabam enxergando essa espada sobre suas cabeças às vezes muito tarde. Alguns dizem – Política é um caminho sem volta, pois em algum ponto se chegará ao precipício. Como era mesmo a fábula da Suméria que passou pela Babilônia, Egito, Hebreus, e chegou a Esopo? O Rei-deus Marduk era invejado pelos plebeus que criou. Um dos súditos expressou seu desejo de ser Rei pelo menos por um dia e isto chegou aos ouvidos do grande Senhor que chamou o atrevido. Mandou paramentá-lo, colocou-lhe a coroa sobre a cabeça e mandou sentar no trono e dar audiência aos súditos por um dia. O plebeu suou frio e tentou resolver bem os casos surgidos, até final do dia. Quando Marduk voltou, respondeu à pergunta do Rei (Que achou da experiência?): Difícil! Majestade! O melhor mesmo é a sensação de poder que ninguém pode contrariar, mesmo errado. Porém, prefiro voltar a meu casebre… Marduk mandou então que ele olhasse ao alto. Viu ali, bem acima de sua cabeça, uma aguda e pesada espada de aço presa por um fio de seda mais fino que teia de aranha, diretamente apontada para sua nuca. Aí o Rei-deus explicou – Para um Rei o primeiro erro grave será o último, ou seja, a espada de Dâmocles é uma alusão freqüentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente.
Joilson Bergher, professor de História na Bahia, Especialista em Metodologia do Conhecimento Superior, Pesquisador independente do negro no Brasil, estudante de Filosofia / Uesb.
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