Existem acontecimentos capazes de mudar o curso da história. Existem datas que marcam um antes e um depois.
Por/ Dr. Geraldo Azevedo
O nascimento de Jesus Cristo é este momento maior da História. É o nascimento do primeiro e único menino-Deus, anunciado exaustivamente pelas escrituras e pelos profetas como o Messias, o Salvador. Jesus nasce de Maria, uma mulher simples e humilde e por ela é amamentado como qualquer outra criança. Ele, Jesus, foi o único Deus visto e ouvido por milhares de pessoas na Galiléia e na Judéia. Os evangelhos relatam sua vida, paixão, morte, ressurreição e ascensão.
Cristo é um Homem entre os homens. Ele questiona a natureza transcendental da vida e do universo. Ele prega que todo homem foi feito para a liberdade e para o amor, que todos são iguais, irmãos da grande família humana originária de Deus. Nada de escravos, portanto, nada de privilégios ou hierarquias sociais. Não às guerras, opressões, ações terroristas, suplícios e insultos. Sua mensagem é de amor e de perdão: “amai-vos uns aos outros”, “perdoai, não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete”.
Com o nascimento de Jesus Cristo se dá, pela primeira vez na História, o nascimento real do indivíduo: único, livre, igual aos seus irmãos. O Natal é a festa do reconhecimento deste indivíduo novo e humanizado. E, cada criança que nasce desde então, representa o nascimento do menino Jesus, uma vez que toda criança tem sua vinda anunciada, antes mesmo da concepção, no desejo dos pais e no seio de cada família; uma vez que toda mulher é uma virgem, pois guarda dentro de si uma região nunca tocada, onde talvez habite o doce esquecimento, ou os sonhos nunca revelados. Uma vez que toda mulher também vive a saga de Maria ao dizer sim à maternidade, mesmo sabendo que seu filho, inexoravelmente, também irá morrer um dia. Por outro lado, todo homem é um pai adotivo, tal qual o humilde carpinteiro José, no sentido que não basta ser genitor para que lhe seja conferido o estatuto definitivo de pai.
Cada um de nós, em nossa história particular, repete os acontecimentos da história universal. Quantas torres, muros e cidades construímos e depois destruímos? Quantos tratados, pactos, declarações fizemos e depois rompemos? Quantas vezes dizemos “nunca mais” e depois reconsideramos nossas opiniões e atitudes? “Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”, conforme pontifica Gabriel, o “pensador”.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os ideais da Revolução Francesa, não são os mesmos do Cristianismo? Mas, de que modo se realizou aquela revolução? À base de baionetas! Enquanto a mensagem do Cristo é a do amor, e a sua revolução acontece, lenta e silenciosamente, na alma de cada ser humano, através dos anos e séculos.
Quantas vezes em nossas vidas descobrimos a América? Por que muitas mudanças só são possíveis depois que o lago azul e doce de nossas vidas vira um mar negro e salgado, e sentimos nosso futuro se afundando nas águas como se fora Veneza? Porque, como diz Paulo Coelho, “não há tragédias e sim o inevitável, sendo necessário distinguir o que é passageiro do que é definitivo”, ou, por outros termos, é o depois que dá sentido ao antes.
Este ano de 2020 ficou marcado na história como o ano do grande suplício mundial, da dramática pandemia da COVID 19, com milhares de mortes mundo a fora e, como não podia deixar de ser, uma profunda angústia em todo ser humano de nosso planeta, como se estivéssemos todos vivendo o início das profecias apocalípticas de que fala a Bíblia , o que, com certeza acontecerá , mais cedo, ou mais tarde, com o segundo advento de Jesus Cristo, para a “ consumação dos séculos ,“ a salvação dos justos “ e a erradicação de todos os males da humanidade, pecado, doenças e morte.
Vivamos este NATAL , portanto, entre dores, alegrias e esperanças, mas com fé e convicção de que o antes e o agora, por mais doloroso e incerto que tenha sido ou seja, têm no depois, ou seja, na caminhada ao lado de Jesus ( “a verdade, a luz e o caminho “ para se chegar a DEUS), o encontro íntimo e universal com a felicidade e a imortalidade perdidas no JARDIM DO ÉDEN ( ou seja, no antes), após o exercício do livre arbítrio por Adão e Eva e a subsequente opção pelo pecado e desobediência a Deus.
Mas, Natal, mesmo com a pandemia do coronavírus ( e não tenham dúvidas de que isso um dia vai passar ), também é tempo de brincar com a esperança, de sonhar os nossos e os sonhos dos outros, de imaginar histórias e utopias, quem sabe até acreditar, agora, no antes, que por milagre do Menino Jesus, o mundo, desde já, seja passado a limpo por uma onda de amor, paz, fraternidade, caridade, decência e honestidade e que possamos ( no depois) todas as criaturas humanas, como pregou o Mestre Jesus, termos a capacidade de “ amar a Deus, acima de todas as coisas, e ao próximo, como a si próprio “.
Finalmente, embalado pelo sonho e psicosfera do Natal, vale até acreditar que cada um de nós, depois de passada a pandemia de COVID 19, possa retirar a máscara da face e, mirando- se no espelho vislumbre o reflexo do próprio Deus Pai, já que Ele nos criou a Sua própria imagem e semelhança.
Brumado, 20 de dezembro de 2020.
Geraldo Leite Azevedo. É Membro da Academia de letras de Brumado, Ex-prefeito de Brumado e Médico Pediatra em Brumado, há mais de 3 décadas.
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