Agente Diz – ACADEMIA DO PAPO: Nossos Castelos


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Paulo Pires é professor universitário

Quem olha para essa cidade de Vitória da Conquista, há de constatar que não temos construções suntuosas como em outras cidades do mesmo porte. Mas aqui, acreditem, ainda por influência da nobreza que tivemos até novembro de 1889 e da qual nunca nos afastamos (convivemos com Rei do futebol, Príncipe não sei de quê, Rainha do carnaval, Rei Momo e outras entidades aristocráticas e monárquicas) temos, ou melhor, tivemos nossos Castelos. Conquista tinha Castelos? Tinha sim senhor. Convenhamos que não fossem esplendorosos como aqueles do sul da França, da Baviera ou da Escócia, mas tínhamos. Digamos que eram “castelos meio pebas”. Mesmo assim foram importantíssimas na formação de nossa boemia.

Quem da velha guarda dessa cidade nunca foi ao Castelo de Kalú? Quem? E o Castelo de Fiazinha? E o de Jandira? Até Branca, que era mais modesta, tinha o seu. O desta última era o mais simples e funcionou nas Mamoneiras até meados dos anos 80, quando foi construído o Ceasa. Era o mais Simples, sem nenhum adorno (os quartos não tinham portas e eram “fechados” por uma cortina de chita grossa suspensa por um barbante também grossão). Não possuía nenhum toque aristocrático. A clientela de Branca era rápida no gatilho. Em pleno centro da Cidade o sujeito bebia umas duas e de repente via-se envolto com uma das garotas da Casa (ou melhor, do Castelo). Trocava o óleo em poucos minutos víamos um sujeito lépido e fagueiro. Era o maior barato. Até hoje ninguém sabe explicar porque todos que saíam de lá traziam um palito na boca. Aquele palito na boca, naquele horário matutino, era sinal de que o cabôco havia “trocado o óleo” há poucos minutos.

Freqüentávamos esses Castelos desde cedo. Mas como tudo na vida não é como a gente quer, ocorreu um pequeno problema: Em meados dos anos 60, foi instituído na cidade um Juizado Especial e de repente nos vimos arrodeados de um monte de Inspetores de Menores. Eram uns chatos que surgiram para cortar nossa alegria. Uma vez estávamos em no Castelo de Janda [Jandira] e chegou um deles. Esnobe, falava alto e demonstrava a todo instante que estava ali para colocar as coisas nos seus devidos lugares. Ficamos super aborrecidos com aquele sujeito. Ele se “achava”. Mas, na astúcia, “demos um a zero” nele e tudo acabou bem.

Quando conseguíamos chegar mais cedo aos ambientes (digo, Castelos) caíamos na folia. Em Jandira havia uma baixinha, meio gaza, que era show de bola (super requisitada). Por incrível que pareça, um dia desses encontrei-me com ela na Avenida Crescêncio Silveira e, pasmem, ela me reconheceu embora tenha se passado tanto tempo. Acho que foi pela voz (hoje estou meio careca e mais curvado), mas a voz continua a mesma (fanhosa e baixa). Ela me identificou e sorrimos daquele tempo.

O Magassapo era uma boa opção, mas havia um problema com as moças de lá: Eram muito rodadas. Nos Castelos as meninas eram mais personalizadas e por incrível que pareça cobravam um mixê mais baixo. Havia no Magassapo umas mulherzonas maravilhosas vindas principalmente de Minas (mas cobravam muito por um programa). Só mesmo quem tinha bala na agulha é que “güentava”. Não vou dizer o nome do pessoal que “ficava” com elas (até no Magassapo havia ética antigamente). Só posso dizer que era “gente da alta” de nossa cidade. A nós, pobretões, restava buscar os Castelos, pois lá havia coisas “mais em conta”.

Nunca esqueço uma moreninha maravilhosa com quem estive no Castelo de Jandira. Nunca a esqueci. Já dizia um filósofo: “Quem ama não esquece”. Isso mesmo. A morena balançou meu coração. Engraçado é que tem muita gente que se apaixona por mulheres de brega e tiram-nas daquele lugar (Odair José cantou: Eu vou tirar você desse lugar). Juro que se tivesse condições, teria colocado aquela morena “por conta”. Alugaria casa num bairro modesto e a teria toda noite de luar, em pleno sertão da ressaca ao som do Rádio Clube, programa Atendendo aos Ouvintes. Infelizmente as condições financeiras não me possibilitaram e o nosso amor foi prás cucuia. Aquela garota nunca mais eu vi. Gostaria de encontrá-la para um brinde ao passado.
O tempo passou na janela (disse Chico) e hoje tudo mudou. Não precisamos ir a Castelos. A liberação sexual está no ar, no mar, no chão. Todo mundo se arranja e não há dificuldades para “ficar”. Semana passada passando em um de nossos logradouros assisti uma cena cheia de ternura. Um morador de rua trocava beijinhos, abraços e carinhos sem ter fim (coisa de Vinícius) com uma moradora de rua. Naquele momento confirmavam o que disse um velho amigo: “Prá todo chinelo velho há um pé sujo”. Oh! Que saudades dos velhos Castelos. Oh! Que saudades que tenho da adolescência vivida [e querida] que os anos não trazem mais. Estava certíssimo o poeta Casemiro de Abreu. Viva 2011 e felicidades para todos…