Artigo: A REPÚBLICA DOS GENERAIS / Por Jeremias Macário

 

Antes do início oficial do governo do capitão, a impressão que passa é que já estamos ingressando na República dos Generais, ou como queira, num regime militar pelo voto popular, com a bandeira disfarçada da democracia, por longos anos tão maculada e fustigada, mas sempre usada para desvios de outros interesses. Sempre está visitando quarteis e participando de eventos das forças armadas, mandando de lá seus recados nas entrevistas.

Depois de um temporal, parece que estamos voltando a algum túnel do tempo na república das bananas que vive a repetir suas histórias. Não sei se na época de uma junta militar, ou no início da redemocratização no vácuo da esperança de Tancredo Neves, embora sejam coisas diferentes. Pelo menos está aí a junta militar de generais, como uma repetição do final dos anos 60.

Tomara esteja enganado com tudo isso, mas não me considero um ancião no sentido pejorativo como fui chamado por um leitor, talvez jovem trintão, quarentão ou cinquentão, mas alienado do tipo desiludido iludido. Quem nasce e cresce sem juízo próprio, que engole tudo que recebe, segue o padrão bem comportado arbitrado pelo sistema, não questiona e é desprovido de conhecimentos, este sim, é um verdadeiro ancião.

Ser ancião no meu conceito de lucidez é um privilégio e, sinceramente, me dignifica. Dos povos antigos às tribos indígenas, os anciões formavam um conselho e eram ouvidos. Quem simplesmente discorda atirando pedras é desprovido de argumentos e não tem capacidade para pensar e refletir. Este tipo de pessoa nem imagina que suas palavras grosseiras não atingem o outro, porque este outro tem o poder de compreender que o estúpido já nasceu ancião.

Mas, voltando ao tema da República dos Generais, temos quatro ou cinco deles que serão comandados pelo capitão, mais cabos, tenentes, capitães e almirantes. Quando todos estiverem juntos numa reunião, o Palácio do Planalto vai virar um quartel e haja bater de continência e pedido de dispensa para se levantar e se ausentar. Vamos ter ordem do dia e alinhamento. Na falta do capitão, entra o general que, por várias vezes, já pediu a intervenção militar para por ordem na casa, com base na Constituição.

Volto a dizer que o problema do Brasil não é só a corrupção, embora ela seja um câncer maligno que precisa ser extirpado de vez, mas não se pode, em nome de se acabar com esse mal, excluir, por exemplo, o Ministério do Trabalho. É uma decisão simplista de atalho pra se resolver um problema. Se for assim, qualquer malfeito num órgão, é só extingui-lo, e pronto, está resolvida a questão.

Os trabalhadores já estão sendo escravizados com a reforma trabalhista. Bom para os patrões capitalistas. Explode um Ministério de mais de 80 anos só por causa das trambicagens com as cartas sindicais? Não dá para engolir este motivo. Por que não cortar e corrigir os erros na raiz? A intenção é outra. Tem muita gente por aí usando a corrupção para destilar seus venenos ideológicos de extrema-direita cheia de preconceitos.

Nessa toada, temos que aceitar, com conformismo e submissão, a caçada dos principais direitos conquistados há anos de lutas? Começam por aí os retrocessos sociais nas políticas públicas. A liberdade será a próxima vítima em nome de uma moral falsa de bons costumes? Se caminharmos nesta direção, vamos nos arrepender muito lá na frente.

A sensação que se tem é que depois do “freio de arrumação” houve um silêncio geral, ou certo medo antecipado de se falar e de se criticar. A própria mídia passou rapidamente de esquerda para direita e só está transmitindo o factual. Com relação a alguns veículos de comunicação, especialmente os grandes que sempre tiveram seu DNA de direita, não é nenhuma surpresa. Parece que tudo se encaminha para uma geleia geral, na base do amém.

Nos governos do PSDB e do PT, só para falar dos tempos mais recentes, fazia-se os acordos e as alianças com os partidos e parlamentares, de forma individual, na base do “toma lá dá cá”. Agora a diferença é que é através das bancadas da bala, da ruralista e da evangélica, principalmente estas duas últimas. Mudanças de patrão e de métodos, tudo pela tal governabilidade na aprovação dos projetos no Congresso.

A corrupção não é o único calcanhar de Aquiles. O Congresso Nacional com seu amontoado de 513 deputados e 81 senadores, sem falar nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores, é outro monstro da nossa mitologia que tem mais duas cabeças monstruosas (Judiciário e o Executivo) que há séculos se alimentam das nossas pobres almas através de suas mordomias e privilégios. Quem vai cortar suas benesses?

O Ministério que seria de 17 vai ficar com 22 pastas, e o capitão promete fazer outros enxugamentos, sem o troca-troca, como tem propalado, fulminando com o Ministério do Trabalho, sob a alegação de por fim às mazelas existentes no setor que, na verdade, foram responsáveis por esse absurdo de 17 mil sindicatos e quase uma dezena de centrais. Os trabalhadores, que já vivem espoliados, vão “pagar o pato” pelos desvios de conduta de seus aloprados chefes que transformaram o Ministério numa terra arrasada de ninguém.

O novo governo faz do meio ambiente um simples órgão “ministerial” obediente e subserviente ao Ministério da Agricultura que vai ser comandado pelos ruralistas que querem mais agrotóxicos nos alimentos que já estão matando milhões de brasileiros com suas substâncias altamente cancerígenas. Ávida pelos lucros e mais subsídios dos nossos impostos, a bancada também quer mais desmatamento e facilitação para seus projetos do agronegócio. Vai ser um tiro no pé.

Por fim, gostaria de deixar aqui um registro sobre a nossa raquítica cultura, uma espécie em extinção, que no meado do século passado, entre os anos 50 e 60, já foi enaltecida, cantada, louvada, admirada e decantada por poetas, escritores, pesquisadores e estudiosos, mas que hoje virou lixo na boca de pseudos intelectuais e artistas.

Jeremias Macário – Jornalista e Historiador