Aguarde – o Show que Você Vai Guardar no Coração.
27 de novembro, Centro de Convenções, 21h.
Há encontros que não se registram apenas em atas ou programas de show, mas em almas que nunca mais esquecem.
1976. Cine Glória. Fagner. Conquista.
Feche os olhos. O Brasil ainda vivia sob o peso de botas e baionetas. Cada verso era suspeito. Cada canção, um grito disfarçado. As rádios tocavam sob censura, os artistas driblavam a repressão com metáforas e poesia. E o povo, silenciado à força, aprendia a falar através da música.
Foi nesse cenário – ferido, mas pulsante – que Raimundo Fagner, o cearense de voz cortante e alma sertaneja, subiu ao palco do Cine Glória, em Vitória da Conquista.
Aquele templo da arte, que mais tarde se tornaria espaço de oração, era então o altar da resistência cultural.
Fagner não era apenas cantor; era intérprete da dor nordestina, tradutor dos silêncios nacionais, mensageiro de um Brasil que ainda acreditava na força da beleza.
O Homem que Trouxe as Estrelas
E havia Massinha. Sempre houve.
Alguns homens não se deixam levar pela correnteza do tempo — são pedras firmes moldando o curso da história.
Massinha é um desses guardiões: quando todos escolhem o fácil, ele insiste no essencial.
Trazer Fagner a Conquista em 1976 foi mais que um evento cultural — foi um ato de fé.
Foi afirmar que mesmo sob as sombras da ditadura, a MPB ainda podia ser clarão.
Foi dizer que a arte é a voz dos que não podiam falar.
Quase cinquenta anos depois, ele repete o gesto.
Não por saudosismo, mas por missão.
Porque há causas que não envelhecem — apenas amadurecem.
Ave Noturna: Quando a Poesia Virou Hino
O álbum que Fagner trazia na mala chamava-se “Ave Noturna”, e o nome não podia ser mais simbólico.
Uma ave que canta nas trevas. Uma canção que ilumina.
Naquele disco viviam hinos como “Canteiros”, nascida do poema de Cecília Meireles:
“Eu te amo porque te amo,
Amor é estado de graça,
E com amor não se paga.”
“Canteiros” foi censurada, como se fosse possível aprisionar a ternura.
“Mucuripe”, com Belchior, trouxe o mar do Ceará ao coração do sertão.
“Noturno (Coração Alado)” fez das asas uma metáfora da esperança.
“Cavalo Ferro” galopou pelas veredas da memória nordestina.
Cada faixa era uma semente lançada na terra seca da repressão — e floresceu.
A Geração que Não se Calou
Fagner era um dos “malditos do Ceará”, ao lado de Belchior, Ednardo, Fausto Nilo e Amelinha.
Malditos por não se dobrarem. Por fazerem da seca um símbolo, não uma condenação.
Uniram o baião de Luiz Gonzaga à modernidade do folk e do rock.
Reinventaram a canção nordestina — e, com ela, a própria MPB.
Cantaram o amor e a liberdade quando o Brasil precisava desesperadamente lembrar que ainda era capaz de amar e de sonhar.
A Mediocridade como Sistema
Saltemos para 2025.
A censura política foi embora, mas a censura estética se instalou sorrateira.
Hoje, o inimigo é o algoritmo — e a superficialidade virou política cultural.
O mercado prefere o descartável ao duradouro.
A batida ao verso. O consumo ao sentimento.
Vivemos uma era em que a mediocridade é sistema — e a beleza, resistência.
Fagner, aos 75 anos, continua cantando como quem enfrenta o tempo.
Cada show seu é um manifesto contra o vazio.
Cada verso, um grito de humanidade em meio à pressa digital.
Massinha: A Rocha que Não se Move
E lá está Massinha, outra vez.
Podia escolher o fácil, o “que dá público”, mas escolheu o que dá sentido.
Trazer Fagner a Vitória da Conquista em 2025 é reafirmar que cultura é alimento, não enfeite.
É ensinar a uma geração distraída que música é arte, não produto.
O que ele faz não é promover um show.
É reacender uma chama.
É relembrar que a cidade que um dia ouviu “Canteiros” pela primeira vez ainda sabe distinguir o verdadeiro do fabricado.
O Show que Você Vai Guardar no Coração
27 de novembro, Centro de Convenções, 21h.
Mais que um evento, será uma travessia.
Os que viveram 1976 voltarão no tempo.
Os jovens descobrirão o que o Spotify não explica.
Fagner cantará “Mucuripe”, e o mar visitará o sertão.
Cantará “Noturno”, e os corações alados voltarão a voar.
Cantará “Canteiros”, e a ternura vencerá o cinismo.
E quando o silêncio vier antes do aplauso, todos saberão: algo mudou.
Porque a arte verdadeira tem esse poder — devolve-nos o pedaço da alma que esquecemos de cuidar.
A Chama que Não Pode Apagar
Não é nostalgia. É resistência.
Resistir é insistir na beleza quando o mundo escolhe o ruído.
É manter viva a Música Popular Brasileira, que ainda é o retrato mais fiel da nossa alma.
Massinha entende. Fagner também.
E nós, se quisermos continuar humanos, precisamos entender também.
Porque há batalhas que não podem ser perdidas —
e a batalha pela nossa alma cultural é uma delas.
ass. Padre Carlos –
Fonte Blog Massinha
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