Nem bem completou duas semanas no cargo e a nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, já deu sinais suficientes de que, diferentemente do antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, ela vai fugir dos holofotes durante seu mandato para atuar nos bastidores do poder. Foi assim em sua atuação contra as enchentes no Rio de Janeiro e vem sendo assim na administração das crises internas envolvendo aliados do governo.
Para o cientista político e professor da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), José Paulo Martins Júnior, Dilma fez tudo o que um chefe de Estado deveria fazer ao se deparar com seu primeiro grande desafio à frente do país: diante da maior tragédia climática dos últimos 50 anos no Rio de Janeiro, ela telefonou para o governador fluminense, Sérgio Cabral, desembolsou recursos para socorrer os desabrigados e mandou ministros correr para o Estado antes que ela mesma atolasse suas botas na lama que escorreu pelos morros levando casas, carros e a vida de mais de 500 pessoas.
Depois de vistoriar a região serrana do Rio, ela falou com a imprensa. Sem a mesma desenvoltura de Lula – sempre à vontade em frente a câmeras de TV -, ela foi objetiva ao enfileirar os números da tragédia e as medidas emergenciais tomadas pelo governo.
Dilma em reunião sobre tragédia no Rio Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
O cientista político gostou do que viu.
– Ela se posicionou no momento certo, mostrando solidariedade. De maneira discreta sim, mas o mais importante nesse momento é que os governantes tomem medidas efetivas.
Ele diz que a “politização acaba sendo inevitável” nesses casos “porque todos vivem sob o poder público”.
– E há uma série de desmandos de sucessivos governos no Rio.
Crise interna
Dilma também vem fugindo dos flashs durante a condução de outra crise, essa no coração do governo: a redistribuição de cargos de segundo escalão para os partidos aliados. Os problemas são maiores com o PMDB, que já ameaça votar contra os projetos apresentados por Dilma se eles não forem bem tratados.
Sem falar com a imprensa, ela chamou os descontentes em seu gabinete e enquadrou o vice, o ex-presidente do PMDB, Michel Temer, que já tenta conter os colegas de partido. Aos ministros que escorregaram em declarações, ela já passou pito e deixou claro: presidente manda, ministro obedece.- Ela é uma mulher de formação acadêmica. É experiente e tem uma carreira técnica. Isso faz diferença na hora de gerenciar um negócio. Ela tem uma visão de gestão.
O professor diz acreditar que essa postura menos carismática pode “custar pontos de popularidade, mas para o governo vai ser melhor”.
– Ela tem uma postura mais discreta que a de Lula, que, bem ou mal, é uma pessoa tarimbada em falar e se expor ao público. Ela esta só começando. O desafio agora é saber se ela consegue sustentar no Congresso a coalizão que venceu a campanha eleitoral.
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