Artigo: Eu e Jó somos chatos



Quem me conhece sabe que sou uma pessoa amável, cordial mas também sou chato pra caramba, minha chatice é com as heresias da teologia da prosperidade, que eu chamo Teologia da Ganância, eu pego no pé, falo mesmo, prego na igreja repetidas vezes, minhas ovelhas sabem disso e já perdi muitos amigos pastores em Vitória da Conquista, sou um carrapato inquieto, desses que pica e a minha picada é dolorida, mordo com força, já fui xingado na internet várias vezes pelos idiotas que seguem os falsos profetas da prosperidade.
Esses pastores falam comigo na rua, me dão um thauzinho de longe, quando não muito, apertam minha mão assim meio sem vontade quando nos encontramos num espaço físico mais apertado, tipo o corredor de um shopping.
Eu não sou igual à Jó no seu sofrimento, no seu luto e na sua doença, não conheço ninguém que tenha a experiência horrível de Jó, não serviria como garoto propaganda para a teologia da ganância. Ele não seria entrevistado nos cultos da prosperidade, nem no culto dos empresários.
A minha teologia não é minha, ela é antiga como antigo é o livro de Jó. Tudo adoeceu em Jó menos a sua teologia, seus amigos é que tinham uma teologia esquizofrênica.
No capitulo vinte de Jó Zofar dá inicio a uma diálogo a respeito da prosperidade material. A teologia de Zofar muito se assemelha a teologia que combato:
Para Zofar Jó havia perdido seus bens pela seguinte razão: Jó não estendeu a mão ao necessitado, nossas ações solidárias geram prosperidade financeira.
“Porquanto oprimiu e desamparou os pobres, e roubou a casa que não edificou” (20)
A estes que desamparam os pobres: Nada lhe sobejará do que coma: por isso as suas riquezas não durarão. Sendo plena a sua abastança, estará angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele. Mesmo estando ele a encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele a encher a sua barriga, Deus mandará sobre ele a sua ira, e a fará chover sobre ele quando for comer (21,22).
Foi uma tremenda indireta pra Jó.
– Você não investiu no pobre e agora se tornou pobre também!
Jó responde no capítulo vinte e um, apontando um caso pior do que o fato de alguém não ter dado esmolas.
O que fazer então com aqueles que vivem na impiedade, aqueles que deliberadamente se afastam de Deus e ainda assim prosperam materialmente? – Pergunta Jó aos seus inconsequentes amigos.
Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se robustecem em poder? A sua descendência se estabelece com eles perante a sua face; e os seus renovos perante os seus olhos. As suas casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre eles. O seu touro gera, e não falha; pare a sua vaca, e não aborta. Fazem sair as suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos andam saltando. Levantam a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegram-se ao som do órgão. Na prosperidade gastam os seus dias, e num momento descem à sepultura. E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos. (7-14)
Se não há uma explicação lógica a este fato que é infinitamente complexo do que a falta de solidariedade então o argumento de Zofar cai por terra.
A teologia da prosperidade de Zofar é só para filoZOFAR e por trás da filoZOFIA de Zofar está a idéia neopentecostal de que precisamos dar esmolas, dar o dízimo, dar oferta, abençoar o profeta financeiramente com o intuito de prosperar financeiramente. Os ímpios não fazem estas coisas e muitos deles são prósperos.
A filosofia de Zofar ruiu diante do argumento de Jó.
Jó fecha a tampo do caixão filosófico de Zofar com as seguintes palavras: Eis que conheço bem os vossos pensamentos, e os maus intentos com os quais me fazeis violência. 27
Então Elifaz, diante da resposta sábia de Jó, condenando a barganha com Deus, lança outro argumento no capítulo vinte e dois imaginando que Jó estivesse defendendo os ímpios.
Porventura queres guardar a vereda antiga, que pisaram os homens iníquos?
Elifaz a partir dai lança o seu argumento dizendo a Jó: Se você buscar a Deus consequentemente os seus negócios serão bem-sucedido.
Se te voltares ao Todo-poderoso, serás edificado…orarás a Ele e ele te ouvirá, e pagarás os teus votos. DETERMINARÁS tu algum negócio, e ser-te-a firme, e a luz brilhará em teus caminhos. 23-26
Na visão de Elifaz, a causa da prosperidade material não é a solidariedade não é a minha relação dadivosa com o próximo, ou seja, a minha relação horizontal, mas vertical, com Deus. Se eu buscar a Deus, isso servirá de moeda de troca para que Ele me abençoe financeiramente. Esse é o argumento de Elifaz.
A teologia da prosperidade ensina que o individuo tem que profetizar bênçãos, decretar, determinar, falar somente coisas positivas.
Quando te abaterem, então tu dirás: Haja exaltação! E DEUS SALVARÁ AO HUMILDE.
Que humildade por parte daqueles que assim criam – falsa humildade.
Hoje não falam: Haja Exaltação! Mas dizem: Haja prosperidade! Haja riqueza! Haja carrão! Haja opulência! Haja grana!
O argumento de Elifaz  se desfaz diante do contra-argumento de Jó.
Jó responde de forma brilhante e provocante, pense num homem chato, seu argumento irá LIQUEFAZER o argumento de ELIFAZ.
A PROSPERIDADE ATRIBUÍDA A DEUS, É NA VERDADE, FRUTO DA RAPINA, DO ROUBO E DA MALANDRAGEM – disse Jó no capítulo vinte e três e vinte e quatro.
Vejam que palavras fulminantes:

Até os limites removem…
Ou seja, eles passam por cima de doutrinas bíblicas, de orientações claras da Palavra, removem os limites do bom-senso, da justiça e dos princípios bíblicos.

Roubam os rebanhos…
Estão mais interessados nos bens das ovelhas e não no bem das ovelhas. Roubam pela via das campanhas, pela via das vendas, pela via das ofertas, pela via dos projetos, pela via dos pedidos e por todos os caminhos lucrativos e idéias criativas.

E os apascentam.
Enquanto apascentam, roubam e enquanto roubam, apascentam por isso as ovelhas não percebem o roubo, percebem apenas que estão sendo apascentadas.
Foi assim que o Edir Macedo comprou várias mansões e um jato de setenta e sete milhões.
É assim que Silas Malafaia está construindo seu império de prosperidade, apascentando e pegando, pegando e apascentando.
O apascentamento é o meio para o furto. Pregações bonitas, arrumadas, bem planejadas e no final você foi lesado sem sentir em novecentos e onze reais que eles vão dizer que é investimento e que este valor retornará em breve ao seu bolso.

Ao orfãozinho arrancam dos peitos, e tomam o penhor do pobre.
Eles estão tirando o leite dos bebes espirituais, eles e todos os outros estão dilapidando os pobres.
Mas o final desse pessoal será terrível.
Essa exaltação tem os seus dias contados.
Eu não gostaria de estar na pele deles, preferia estar antes na pele de Jó, ainda que doente, sem grana e em luto pois vejam o final dos profetas da prosperidade:

Por um pouco se exaltam, e logo desaparecem; são abatidos, encerrados como todos os demais; e cortados como as cabeças das espigas. 24.24
Toda essa roubalheira um dia receberá uma resposta justa e punitiva da parte de Deus e se você que me lê está debaixo da autoridade desse pessoal, saia imediatamente destes contextos doentios, desses cassinos da maldade, dessas loterias esportivas da malandragem.
Ele vai cortar essas pessoas, como o fazendeiro corta a cabeça da espiga, retirando-a do pé de milho, eles haverão de se tornar somente um sabugo seco de milho no final.
Quem por a cabeça nesse pé de milho da prosperidade e dele se alimentar, haverá de perde-la, receberá o golpe do Todo-poderoso na jugular e terá o fim trágico de qualquer bandido, de qualquer ladrão de banco, o que é pior vai morrer como um ladrão da igreja do Senhor Jesus.
Essa ao meu ver é a pior condição. Esse é o pior bandido.
Que o Senhor tenha misericórdia!
Pr. Stênio Verde