Governo reedita obra rara sobre planejamento na Bahia

 

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Em 1956, sem o auxílio de computadores, planilhas de excel e geoprocessamento, o esforço de economistas, acadêmicos e intelectuais, tendo à frente o ilustre baiano, Rômulo Almeida, foi elaborado o que veio a ser conhecido como Pastas Rosas, originariamente Cadernos Rosa. Era uma coleção de textos que não só expressava os caminhos para o desenvolvimento da Bahia, como também inaugurava o ato de fazer planejamento público e situava o estado em relação ao restante do país.

 

Para ampliar o acesso a este tratado da economia baiana da década de 50, a Secretaria do Planejamento da Bahia (Seplan), num gesto de reconhecimento da relevância histórica desse documento, lançou nesta quarta-feira (5), na Assembleia Legislativa, uma edição fac-similar em formato impresso e digital.

 

O idealizador do projeto, o deputado federal e ex-secretário do Planejamento do Estado, Zezéu Ribeiro, destacou a relevância histórica. “Este é o primeiro estudo de planejamento estadual do Brasil. Nele encontramos as bases para o desenvolvimento agropecuário e industrial da Bahia, a exemplo da construção do Centro Industrial de Aratu (CIA) e do Polo Petroquímico”, afirma Zezéu.

 

Para o secretário do Planejamento da Bahia, José Sergio Gabrielli, “a iniciativa é, também, uma forma de publicizar, difundir e tornar acessível a um maior número de pessoas esse estudo basilar para quem quer compreender melhor as origens do planejamento na Bahia”, pontua Gabrielli.

 

Além disso, o titular da pasta do Planejamento ressalta que Rômulo Almeida era um pensador que aliava visão, planejamento, execução e reflexão. “Na década de 50, a construção de uma refinaria na Bahia era tão improvável, apesar de constar no planejamento, que a sua inauguração praticamente passou desapercebido, limitada a uma nota de jornal. Apenas três dias depois a imprensa se redimiu”, conta.

 

No perfil desse planejador sagaz, Gabrielli ainda ressalta o pensamento assertivo. “Naquela época, Celso Furtado, que é um dos brilhantes planejadores brasileiros, concordava com a tese de que a criação de um parque industrial no Nordeste era necessário para substituir as importações do país. Já Rômulo Almeida pensava que era necessário implantar uma indústria de bens intermediários para que auxiliasse o crescimento como um todo da indústria nacional. Prevaleceu o pensamento de Rômulo”, finaliza.

 

Como gesto de agradecimento, Eduardo Almeida, filho de Rômulo, disse que esta publicação é um marco. “Ela homenageia um homem que não era apenas visionário, era uma pessoa humilde que pensava no bem estar público e muito do que observou, diagnosticou e sistematizou, virou realidade”.

 

Na oportunidade, a especialista em desenvolvimento regional e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Bacelar, fez uma palestra abordando as ideias de Rômulo Almeida e os desafios do Nordeste atual. Já o professor da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Barbosa, apresentou a palestra Pensando e Planejando o desenvolvimento brasileiro: a trajetória de Rômulo Almeida.

 

Trajetória

Rômulo Barreto de Almeida era bacharel em direito, mas dedicou-se as questões econômicas e ao desenvolvimento. Em 1941, tornou-se diretor do Departamento de Geografia e Estatística do Território do Acre. Iniciado o segundo governo Vargas, foi designado oficial de gabinete do Gabinete Civil da Presidência da República. Ao mesmo tempo, foi incumbido por Vargas de organizar a Assessoria Econômica da Presidência da República.

 

Ainda em 1951, tornou-se membro do Conselho Consultivo da Companhia Hidroelétrica do São Francisco, posto que manteria até 1966. A partir de 1953, Rômulo Almeida tornou-se consultor econômico da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc). Ainda no segundo semestre desse ano, assumiu a presidência do Banco do Nordeste do Brasil.

 

Em 1955, criou e presidiu na Bahia a primeira Comissão de Planejamento Econômico do Estado. Já em 1957, criou e presidiu o Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial da Bahia e foi nomeado vice-presidente da Rede Ferroviária Federal. No período de 1957 a 1959, reorganizou o Instituto de Economia e Finanças da Bahia. Representou a Bahia na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e, nomeado posteriormente secretário de Economia, elaborou o projeto da Companhia de Energia Elétrica da Bahia (Coelba).

 

Rômulo Almeida foi professor da Universidade da Bahia (Ufba), da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, do Curso de Planejamento do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) e da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (Ebap-FGV).

 

Em 1985, foi diretor de planejamento da área industrial do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Permaneceu nesse cargo até a sua morte, ocorrida em Belo Horizonte, em novembro de 1988.