Por Albenísio Fonseca
O formato de arte transurbana, tendo telas como suporte, escolhido por Lilian Morais – sim, o espaço urbano como sua tela – transforma muros e fachadas, ônibus e ruas, intervenções policiais arbitrárias nas comunidades, em um novo lugar da arte, como se diria de galerias a céu aberto. Libertando, trazendo à cena, o periférico, o interdito.
Ela parte da interação com outros atores da paisagem urbana e do próprio público, a envolver e provocar reflexão, convidando-nos a interagir com a obra, a retransitar na cidade e a dialogar com expressões marcantes na história da Arte.
A exemplo da tela “a carroça de feno”, de Hieronymus Bosch, do início do século 16, revisitada por ela, transfigurada na mobilidade do “Bolo do Buzu”, titulo que reuniu a exposição dessas produções faz aniversário. Ten years after. 10 Anos depois. E tudo continua no ar como um lance de dados. Impossível abolir o acaso.
Em meio à diversidade de estilos, a arte transurbana produzida pela artista abriga uma ampla variedade de técnicas, tais quais grafites e murais até instalações e performances. Fazendo a efervescência urbanóide, caótica, que, então, sai dos seus pincéis, caber em uma tela e os políticos na janela.
Tendo como temas fatos extraídos do cotidiano, ela aborda contextos atuais e relevantes, como questões sociais, políticas, ambientais e culturais. Mulheres cooptados pelo consumo. A juventude emparedada pela repressão policial. Sim, é os políticos na janela.
Foi assim, recentemente, com a impactante série de telas, produzidas junto ao cineasta Walter Lima, para o filme “Brazyl – Ópera Tragicrônica”.
A arte transurbana de Lílian Morais atua como um catalisador de mudanças sociais, promovendo a inclusão, a discussão e a reflexão crítica sobre a cidade, com imersão conjunta da comunidade, envolvendo (sim, os participantes) no processo de criação e na valorização das obras.
O que ela instaura é um senso de pertencimento e de identidade inusitados a atravessar a urbe e a vida que transita a emergir das suas telas em cores vivas. #
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