Com quase 100 mil inscritos em seu canal no YouTube, o pastor evangélico goiano Osório José Lopes Júnior alimenta diariamente suas redes sociais com fotos e vídeos. Nas gravações, o religioso acalma o coração de milhares de fieis que desembolsaram fortunas após serem convencidos a investir em uma espécie de título apresentado por ele como Letra do Tesouro Mundial.Supostamente lastreado em ouro, os papéis teriam um valor “bilionário”. O pastor dizia que os títulos já contariam com autorização do governo federal, por meio do ministro da Economia, Paulo Guedes, para serem pagos. Uma afirmação claramente falsa, uma vez que o ministro nada tem a ver com os golpes aplicados pelo religioso.Na tentativa de garantir credibilidade, o pastor usa, além no nome dos ministérios, a logomarca de entidades financeiras como Banco Mundial e o Banco do Brasil em uma plataforma de investimento conduzida pelo grupo.
Há pelo menos nove anos, o pastor viaja país afora e, com a ajuda de arregimentadores, capta novos investidores interessados em receber até 100 vezes o valor aportado assim que os títulos estiverem prontos para serem resgatados. Em sua maioria, os compradores são fiéis de igrejas evangélica, além de parentes e amigos próximos ao pastor. Em apenas um dos grupos criados no Telegram, há cerca de 8 mil “clientes”.
Abuso da fé
Carismático, com oratória afiada e abusando de passagens bíblicas para reforçar um discurso de fé, o pastor ganhou fama e dinheiro nos últimos anos. De acordo com vítimas que viram suas economias descerem ralo abaixo após falsas promessas de rentabilidade, o pastor moraria em uma confortável casa num dos condomínios fechados de Alphaville, em São Paulo.A coluna conversou com uma das vítimas que caiu no conto do pastor Osório. O morador de Petrolina (PE), de 38 anos, contou que conheceu o negócio oferecido pelo religioso por meio de um amigo. “Ele botou R$ 80 mil acreditando que receberia entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Eu investi pouco, cerca de R$ 1 mil. A transferência foi por PIX direto para a conta do pastor”, disse.A vítima relatou que todos os investidores assinavam um “termo de acordo e participação financeira e confidencialidade”. Para transparecer uma falsa sensação de segurança, o religioso repete, de forma insistente, todos seus dados pessoais durante os vídeos postados nas redes sociais. “Ele fala a todo o instante o CPF e o número de identidade para dizer que não tem nada a esconder. No entanto, as promessas de pagamento são vazias e nunca ocorrem”, afirmou.
Banco Efraim
Segundo o investidor, que há três anos tenta receber os valores prometidos, o pastor criou um banco de dados hospedado em uma plataforma onde os clientes podem acompanhar as supostas operações financeiras feitas pela equipe do religioso. Chamado de Banco Efraim, o dispositivo costuma ser lembrado pelo pastor durante a gravação dos vídeos diários.Cerca de 70 mil pessoas teriam fornecido dados pessoais e transferido dinheiro para as contas do pastor. “Osório começou a barganhar e a vender parte dos títulos dizendo que o governo dos Estados Unidos iriam pagar pelos supostos papéis internacionais. Algumas pessoas compraram esses títulos por valores que poderiam variar entre R$ 100 mil e R$ 500 mil”, ressaltou.Para faturar dos fiéis que não possuíam grande poder aquisitivo, Osório teria começado a vender pequenas frações dos supostos títulos de Letra do Tesouro Mundial. “Dessa forma ele acreditava que alcançaria muito mais pessoas por um valor menor, mas ganharia no volume de clientes captados e assim ocorreu”, analisou a vítima.
Pastor preso
Acusado por outras pessoas que caíram no mesmo golpe, pastor Osório foi preso após ser alvo de uma operação deflagrada pela Polícia Civil goiana, em maio de 2018. Na ocasião, o religioso foi alvo de prisão preventiva sob a acusação de obter R$ 15 milhões aplicando golpes em fiéis de Goianésia, na região central de Goiás. Além de Osório, outro pastor um seguidor deles foram detidos na mesma ação policial.Segundo a Polícia Civil, a dupla de pastores alegava que havia ganhado um título de R$ 1 bilhão, mas precisava reunir fundos para conseguir recebê-lo. De acordo com as investigações, para receber o dinheiro das vítimas, os religiosos prometiam a quem colaborasse, lucros de até 10 vezes do valor aplicado. Vítimas chegaram a vender a própria casa para ajudar os pastores e fazer o investimento. A investigação apontou que os dois líderes religiosos ostentavam dinheiro e poder, em Goianésia. Pastor Osório morava em uma casa de luxo na cidade, e chegava a alugar helicóptero para viajar da cidade para outras regiões. A PCGO identificou, por meio da quebra do sigilo bancário, que os religiosos movimentaram R$ 20 milhões no banco.A coluna ligou para três números de telefones celulares que pertenceriam ao pastor, mas nenhuma das ligações foi atendida. O espaço permanece aberto para futuras manifestações.
Fonte: Na Mira/Metrópoles
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