Artigo: DEDETIZAÇÃO NELES

Jeremias Macário é jornalista

Estou há dias intocado na minha toca – parece pleonasmo, mas não é – aqui no Jardim Guanabara, sem ir ao centro da cidade. Não sei das últimas fofocas daí, mas as notícias que me chegam do Planalto de Sodoma cada vez mais me deixam depressivo, irado e indignado. Enquanto isso, sigo agarrado ao tempo que não perdoa as recaídas e a qualquer vacilo nocauteia quem atreve vencê-lo.
O maior erro dos humanos é fazer de conta que são eternos e que o poder é perpétuo. Tento ao máximo não dar tempo ao tempo e aproveitar as migalhas que caem na minha mesa. Por isso aproveito para sapecar os neurônios e deixá-los sempre quentes no forno da vida. Assim vou seguindo, mesmo apertado monetariamente, nas minhas leituras e nas minhas pesquisas sobre o que foi a ditadura em Vitória da Conquista.
Mas, vamos deixar de lero-lero e de nariz de cera filosófica para, mais uma vez, soltar toda minha indignação, e a nossa, é claro, contra a corrupção, a maior produção com a maior produtividade por hectare no país. A ratazana prolifera e criou anticorpos contra venenos. È preciso encontrar uma substância altamente tóxica para dedetizar toda área da casa.
Dedetização geral neles é preciso. O que a presidente Dilma vem fazendo é muito pouco. Ficará na história se tiver “peito” para fazer a fumigação de todo o Planalto, não somente no Ministério dos Transportes. No Ministério da Agricultura, por exemplo, os ratos calungas invadiram todo celeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Nas estatais tem que jogar bomba napalm. Os ratos se protegem nas folhagens.
É a “herança maldita” do seu antecessor que nada sabia e nada via, com o fito de tornar o poder eterno. Essa dedetizaçãozinha da presidente não vai limpar toda área se não for acompanhada de uma Marcha da Indignação feita pelo povo. Mas, lamentavelmente, a nossa sociedade está mais interessada em imitar o consumismo americano. Os que antes clamavam em nome do coletivo estão hoje cooptados, montados na grana e nos cargos.
Financiados pelo Governo, com o nosso dinheiro, os caras-pintados viraram caras- de- pau. Os sindicatos e as centrais, que são muitas por todo país, fazem parte do Partido do Governo e não querem incomodar o patrão. A única preocupação é com os salários da categoria e, mesmo assim, à base dos acordos, conchavos e combinações na esfera do comando partidário.
A indignação contra a corrupção, os desvios de dinheiro, a degradação na educação e a falta de saúde no país não faz mais parte da pauta de lutas da UNE (União Nacional dos Estudantes) que nos anos 60 e 70 gritavam nas praças e ruas por justiça, liberdade e moralidade com relação à coisa pública. Quando muito, fazem umas briginhas e dão uns puns contra as tarifas de ônibus.
A UNE também está cooptada e amasiada com as ligações perigosas. O povo e a sociedade que se danem. A cleptomania, a vontade desenfreada de roubar, como bem falou o presidente da OAB/Bahia, Saul Quadros, derramando toda sua ira, tomou conta dos políticos e de toda nação.
Ninguém faz nada. Contra essa cleptomania, um leitor de um jornal destilou também sua raiva e rogou que a OAB, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros), artistas e intelectuais se unam para organizar a Marcha dos Indignados. Sou o primeiro a ir, disse ele, e eu também.
Vejo essas academias de letras, essas entidades e instituições como sepulcros caiados que se fecham em seus casulos e só se reúnem para discutir o proveito próprio da sua classe ou da sua gente. Reúnem-se para discutir o sexo dos anjos, bajular e arrotar conhecimento. Cada um quer apenas exibir sua vaidade de “sabedoria”, declamando citações de escritores e personalidades para falar de moral.
Lembro quando participava dos encontros do sindicato em que se aprovou numa dessas reuniões a proposta de que em qualquer evento e lugar se debatesse a questão da ética. Seria bem mais proveitoso se em todas as entidades do país se fizesse o mesmo com relação à corrupção até o tema invadir as ruas para formar a marcha de um milhão, ou dos 100 milhões.
“O sistema só está de pé porque damos suporte a ele” – disse o cineasta americano, Peter Joseph. Estamos mais preocupados com as cotas e aplaudimos o ensino de baixa qualidade que se preocupa apenas em encher as faculdades para se tirar um diploma, não importando se o indivíduo sai preparado ou não. Estamos formando analfabetos para o mercado.
Como disse o escritor e poeta Ruy Espinheira, existe hoje a demonização da superioridade intelectual e do talento. A cultura está sendo tratada como doença. “Reduzem as médias escolares, chegam a proibir reprovações, nivela-se tudo por baixo”. Quando deveria prevalecer o mérito, prevalece a mediocridade.
Daí todo esse mar de comodismo e individualismo, onde se faz a lavagem cerebral da competitividade, mesmo que seja à custa de passar a rasteira suja nos outros, com métodos inescrupulosos. Não se ensina mais o pensar coletivo, no país como um todo.
Mas, cá também tenho minhas dúvidas e ignorâncias. Uma coisa que até hoje não consegui entender foi essa coisa de verba indenizatória criada pelos próprios parlamentares. Os políticos estão sendo indenizados de que, se já ganham polpudos salários? São essas e outras coisas às quais não questionamos, pelo menos para que seja traduzido e justificado.
Dos senadores, somente Cristovam Buarque, Pedro Simon, Roberto Rollemberg, Eunício Oliveira e Eduardo Braga abriram mão dessa tal verba indenizatória. Da Gamorra depravada só cinco se salvam. Está na hora de Deus enviar seu anjo para retirar os bons e destruir o resto. Os eleitores estão sendo devorados pelos eleitos.
Para finalizar, só um dado interessante. De dezembro de 2009 a novembro de 2010, das 2.449 pessoas envolvidas em desvios de verbas nas diversas áreas da administração pública, 1.115 (45,53%) eram prefeitos ou ex-prefeitos. Tem razão o jornalista espanhol Arias, do “El País”, de ficar estarrecido e indagar por que não existe indignação no Brasil, se no dele houve a Marcha dos Indignados, apenas por motivos de medidas de aperto econômico. Os árabes também fizeram suas marchas por melhorias.