Artigo: O DEDO

ANIVERSÁRIO BRUMADO E ALAB 153[1]

Funcionários de uma empresa mineradora trabalhavam na limpeza da matéria prima que vinha da mina impregnada de detritos e o faziam com uma machadinha, limpando as impurezas. Conto a história de dois colegas, amigos de muitos anos. Em dupla executavam o serviço e conversavam amenidades sobre futebol e religião, mas o tema principal era a política local.

Pertenciam a partidos divergentes e, na discussão acalorada, a temperatura subia , tomando conta dos contendores que chegavam a perder a razão. No fim do dia, saiam juntos, indo para um bar da preferência dos operários e lá começavam novamente a arenga política. A política os dividia; e cada um tinha opinião formada a respeito das realizações do seu partido e, dessa forma, não se entendiam.

Apesar das constantes discussões, a amizade perdurava e chegaram a se tornar compadres.

Certa feita, a televisão fez uma reportagem sobre indenização de funcionário que tinham parte do corpo amputado por acidente de trabalho e apesar das sequelas, proporcionava ao mutilado uma substancial recompensa.

Então, um dos amigos perguntou ao compadre se ele teria coragem de lhe cortar um dedo a fim de que pudesse requerer indenização, premeditando ficar rico.

O companheiro, mentecapto, se prontificou a fazer o corte. Mandou marcar o lugar a ser cortado. De posse de um cutelo, mandou o colega fechar os olhos para não ver a operação e deu-lhe uma machadada certeira decepando-lhe a falange medial do quirodáctilo escolhido.

A imprudência ou loucura de ambos chegou ao conhecimento da enfermaria e o médico que o atendeu após os procedimentos cirúrgicos, o encaminhou para o Departamento de Pessoal, na época não se falava Recursos Humanos. Diante do fato consumado, considerado grave, urdido por pessoas desajustadas, a empresa os demitiu por justa causa.

Na ocasião, no interior, não havia polícia institucionalizada; o delegado era uma indicação política, a serviço de quem o indicou.  Os delegados chamados “calça-curta”, por não terem formação jurídica – advogados – não tinham poder nem autoridade para fazer um inquérito e apurar os fatos, colocando os envolvidos nas barras da Justiça para os devidos procedimentos legais, ficando o dito pelo não dito.

Moral da história: O ambicioso não conseguiu a indenização, perdeu o dedo e o emprego, ficando desmoralizado perante os demais colegas.  O outro, que se dispôs a cometer o ato tresloucado, perdeu o emprego. Eles não atinaram para as consequências do nonsense e arcaram com as medidas punitivas da empresa.

Diz o provérbio: “Quem tudo quer tudo perde” e “Quem vê cara não vê coração”. É com perseverança e trabalho que se conseguem as coisas, o improvável é apenas sonho.

O ambicioso costuma dar com os burros n’água, não percebe que o seu desejo é um autoengano e que não realiza as suas intenções, representando uma atitude psicologicamente deturpada. Quem atende a essas inquietações do próximo é considerada, também, pessoa racionalmente imperfeita, com perturbação emocional.

Antonio Novais Torres

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Brumado em 25.01.2011.

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