Audiência Pública realizada pela Câmara de Vereadores sobre Setembro Amarelo, conta com a participação da sociedade Conquistense

 

Na noite desta segunda-feira, 27, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista, em parceria com a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e com diversos segmentos da sociedade civil, debateram, pelo Sistema de Deliberação Remota (SDR), a Campanha Setembro Amarelo, com abordagem de vários aspectos voltados à prevenção do suicídio.

A audiência foi realizada por iniciativa do mandato do vereador Luciano Gomes (PCdoB), que destacou as dificuldades enfrentadas pelas pessoas durante a pandemia, por conta do isolamento social. “Muita gente desenvolveu ansiedade ou depressão nesse período, algo muito preocupante. Por isso entendemos a necessidade de promover uma discussão em torno da Campanha Setembro Amarelo”, disse.

Participaram da mesa dos trabalhos, a Assessora Especial de Gestão de Pessoas (AGP), Manuella Cajaíba; a psicóloga da coordenação do CAPS AD III, Aracely Schettine, que representou também a Coordenação de Saúde Mental; o Padre Edilberto Araújo Amorim, da Comunidade Terapêutica Fazenda Vida e Esperança; a terapeuta da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, Marislande de Oliveira Dias; o Tenente-Coronel BM Araújo, e representando o diretor do Núcleo Territorial de Educação (NTE 20), Ricardo Costa, a Sra. Solange Moutinho Santos.

Campanha de valorização da vida – A assessora especial de Gestão de Pessoas, Manuella Cajaíba, agradeceu ao vereador Luciano pela oportunidade do debate que tratou do Setembro Amarelo, uma campanha de valorização da vida. Ela conduziu a discussão falando sobre o trabalho do setor de Recursos Humanos na percepção de doenças relacionadas à saúde mental dos servidores. “Fica aqui o meu agradecimento ao vereador Luciano, à Câmara Municipal e à Uesb por estarem promovendo esse debate e ações de combate e prevenção, preservando a vida e garantido as experiências que vivemos”, disse.

O sofrimento não escolhe o perfil – Psicóloga do Caps Ad III, Aracely Schettine relatou que enquanto profissional percebe que o sofrimento não escolhe o perfil e pode surgir a qualquer momento e fase da vida. Ela elencou alguns fatores geradores de sofrimento, destacando o mental como um deles, e disse que essas pessoas precisam ser acolhidas e tratadas. “Mesmo sem diagnóstico, o sofrimento mental pode levar a ideações suicidas”, disse e afirmou que o Setembro Amarelo tem esse apelo de levar a sociedade a uma reflexão coletiva. “A educação emocional é o caminho para que as pessoas percebam suas dores e os manejos disponíveis para evitar o sofrimento. É preciso observar o sofrimento das pessoas em vulnerabilidade social, em crise pela identidade de gênero”. Ainda segundo Shettine, o abuso de substâncias é outro fator de risco.

A psicóloga também falou dos serviços prestados pelo CAPs em Conquista, os perfis que eles atendem e disse que é muito importante que as pessoas busquem ajuda por meio do 188, disponível para esse tipo de atendimento.

Falando também em nome da Coordenação de Saúde Mental de Vitória da Conquista e dos Caps IA, Caps AD e Caps II, Aracely ressaltou que as escutas iniciais no CRAS e na Atenção Básica, e as clínicas escolas das faculdades ajudam a fortalecer esse trabalho de combate ao suicídio. “É uma responsabilidade que não dá pra deixar só sobre um segmento da sociedade” pontuou. De acordo com ela, todos os fatores que desenvolvem o sofrimento precisam ser combatidos. “Quem mais adoece gente é gente, e a gente precisa se mover para reformar a nossa sociedade constantemente. A sociedade pode mudar, mas precisa de um esforço coletivo, e a qualificação do olhar humano é fundamental para isso”. Ao final, destacou a importância do amparo, da promoção de justiça e da equidade social.

“Ninguém pode medir a dor de ninguém” – O padre Edilberto Araújo Amorim, da Comunidade Terapêutica Fazenda Vida e Esperança, iniciou o pronunciamento falando do sentido da vida. Ele destacou o uso de substâncias psicoativas e os desafios desse tratamento na Cotefave. “Ninguém pode medir a dor de ninguém. Eu penso que esse tema precisa ser de toda a sociedade, na criação de ambientes mais agradáveis que garantam a vontade e a alegria de viver e viver com qualidade”, salientou. O padre relatou que mais de 1.700 internos já passaram pela Cotefave, sendo que oito deles se suicidaram após ressaca de drogas. “Vamos trabalhar na questão da prevenção”, pontuou Amorim, referindo-se aos suicídios dentro da Cotefave, e acrescentou: “Vamos valorizar o hoje e buscar aquilo que nos ajuda a viver melhor, sem preocupar com o amanhã. A gente precisa dialogar com todos os segmentos da sociedade para tratar dessa temática, sem ser religioso, mas próximo de quem valoriza a vida”.

Ações de prevenção e combate ao suicídio – O Tenente-Coronel BM Araújo disse que o Corpo de Bombeiros é o órgão que responde às ocorrências de tentativas de suicídio. Ele relatou que no primeiro semestre deste ano, nove ocorrências foram registradas na região, sendo Vitória da Conquista uma das cidades que apresentam os maiores índices de suicídio na Bahia. “Diante desse cenário, estamos desenvolvendo ações de prevenção e combate ao suicídio, fazendo um trabalho de fortalecimento de saúde mental do nosso efetivo”, informou, e agradeceu ao vereador Luciano pela iniciativa do debate.

“O que a gente pode fazer de algo mais na prevenção à vida?” – Terapeuta da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, Marislande de Oliveira Dias disse que a Campanha Setembro Amarelo chama atenção para o autocuidado, e questionou: “Como você tem se cuidado? Como é o seu dia a dia?”. Ela disse que vários fatores levam ao suicídio, entre eles, a depressão. “Essa depressão é gerada devido a várias crises. A pessoa tem vontade não de tirar a vida, mas de se livrar dessa pressão que tem lhe causado dor. O que a gente pode fazer de algo mais na prevenção à vida?”, perguntou, e respondeu: “Podemos unir forças para alcançar muito mais pessoas e essa audiência pode ser instrumento para viabilizar novos projetos e alcançar mais pessoas. Esse tem sido o nosso cuidado com os militares, em nossa corporação. O nosso conselho é: pode falar!”, concluiu.

“Queremos montar uma rede de proteção, de cuidado” – Representando o diretor do Núcleo Territorial de Educação (NTE 20), Ricardo Costa, a Sra. Solange Moutinho Santos falou da valorização à saúde do professor e disse que o NTE,  tem dois psicólogos para atender 24 municípios, os quais também têm atendido os alunos da rede estadual, abordados pelo setor. Explicou que o Núcleo tem realizado oficinas com o objetivo de desmistificar o tabu relacionado ao sofrimento emocional. “Esse programa trata dessas questões e faz com que a gente reflita sobre depressão, ansiedade, automutilação e outras demandas que a nossa comunidade escolar apresenta. Queremos montar uma rede de proteção, de cuidado”, explicou, complementando: “A gente precisa dessa instrumentalização, pois somos professores e não psicólogos. Mas precisamos conhecer alguns fatores para que a gente possa trabalhar junto aos nossos alunos, porque temos casos de suicídios entre alunos e professores. Estamos aqui para acolher, para ajudar e encaminhar para o tratamento especializado. É um programa que tem modificado nossas percepções e treinado o nosso olhar para pessoas em sofrimento mental”. Ela ainda ressaltou a importância do acolhimento sem preconceitos.

“O Setembro Amarelo é justamente para que a gente perceba o sofrimento do outro” – Encerrando a audiência, o vereador Luciano Gomes agradeceu a participação de todos e justificou a ausência da ex-vereadora Nildma Ribeiro, destacando que a audiência foi motivada por um pedido dela e da enfermeira Paty Rocha, do Núcleo de Atenção Integral ao Servidor (Nais-Uesb). Em seguida, relatou o caso de uma dona de casa do Assentamento Santa Marta que desapareceu após um surto motivado pelo sofrimento interno, sendo encontrada na cidade de Planalto. “O Setembro Amarelo é justamente para que a gente perceba o sofrimento do outro e o acolha sem julgamentos”, disse, ressaltando o trabalho da rede de proteção e o empenho das instituições conquistenses em ajudar as pessoas em sofrimento. “Vamos despertar outras pessoas para que possam nos ajudar nessa caminhada em favor da vida”, concluiu.