Corações “atordoados” na guerra: a disritmia humanitária fatal

 

 

 

“O poder enriquece entretanto enfraquece a sensibilidade, entorpece a empatia nas sociedades” Dacher Keltner

A vida ocorre nas sístoles-diástoles dos corações humanos. O mundo quase sempre sobreviveu as tragédias climáticas e as bestiais interrupções da coexistência entre as nações. Os poderosos instintos das lideranças políticas nacionais prevalecem nas disputas internacionais. Os conglomerados industriais bélicos sobressaem nos orçamentos dos estados nacionais, desde sempre. As guerras são empreendimentos estúpidos e comerciais, com transações plutocráticas incontornáveis.

A tirania nas inter-relações humanas decorre do domínio que os poderes legitimados, ou não, pela política e superestrutura jurídica, ainda sobrepõem aos cidadãos plenos e ao lumpesinato, na contemporaneidade.  As pessoas enganam-se e pensam que são livres porque tem consciência de suas ações, ignorando as causas efetivas, refletiu Spinoza. Elas se entreolham paranoicas, reverenciam as autoridades como se eles detivessem o mandato onipresente de suas vulnerabilidades: a servidão voluntaria. O tirano subjuga os súditos através dos outros; aproximar-se do poderoso significa ceder a própria liberdade, escreve La Boétie.

Ao debruçar sobre as causalidades da histórica guerra entre palestinos nativos e judeus sionistas, na faixa de Gaza e outras circunstancias, reconheço a perenidade do aforisma: nada acontece por acaso. Os condicionantes geopolíticos e religiosos, nas últimas sete décadas, culminariam nesta ruptura trágica no Oriente Médio. Há um determinismo no planeta: a neguentropia enfrentará a entropia nas sociedades nalgum momento. Quando a guerra explode os laços da convivência, os corações atordoados perdem a sincronia e o fluxo vital desvanece com a morte iminente. Aqui se impõe a regra de ouro por Kant em seu livro a Paz Perpetua: o princípio de que não devemos fazer aos outros o que não queremos que nos façam. Ou teremos uma Guernica no século XXI?

Os pretextos ideológicos e religiosos perseveram através dos séculos, nas linguagens articuladas pelos líderes nas mídias televisadas ou redes de algoritmos.  Os nacionalismos são arquétipos ideológicos da dominação pelas classes superiores em todo o mundo; destarte, justifica as sangrentas batalhas entre civis e militares, mas distantes dos palácios governamentais. A desumanização do agressor-agredido como um terrorista – um recurso linguístico diversionista e moralista da propaganda belicista – para o seu extermínio sem limites das leis internacionais que controlam os genocídios. Quando o descompasso nos corações atordoados nas terras conflagradas alcançarem a assistolia pelo massacre da limpeza étnica colonialista, a humanidade quedará ameaçada pela bomba atômica a ser lançada. Esperar o Armagedon ou fazer a Paz? Busquemos a solidariedade internacional!

Marcos Luna medico, escritor pós-graduado na Harvard University – UFBA

E-mail: doutor.luna @gmail.com

Dr. Marcos Luna é natural de Vitória da Conquista e atua profissionalmente em Conquista e  na cidade de São Salvador. É um dos fomentadores e articulistas para criação da Faculdade de medicina da Santa casa de Misericórdia de Vitória da Conquista